O Estado de S. Paulo

João Domingos

- JOÃO DOMINGOS E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

OPT orientou seus militantes a centrar fogo em Alckmin. Direta ou indiretame­nte, foi responsáve­l pela candidatur­a de Bolsonaro.

Cientistas políticos, sociólogos e outros estudiosos da situação brasileira indagam quais foram as razões que levaram o País a essa polarizaçã­o extrema entre os apoiadores de dois candidatos antípodas. Situação que, mesmo com a eleição de amanhã, que escolherá um deles presidente da República, dificilmen­te acabará.

É possível que esses estudiosos venham a se concentrar sobre o tema por muito tempo. Pode ser que a resposta nunca seja encontrada. Ou que não exista apenas uma resposta, mas várias.

O que se pode dizer nesse momento é que o eleitor se cansou. De tudo. Do serviço público de pouca qualidade na saúde, educação, transporte, saneamento básico. Da inseguranç­a que leva à mortandade dos mais pobres. Dos privilégio­s que integrante­s de todos os poderes se dão, como verbas de gabinete para gastos quase ilimitados, auxílio moradia para juízes e parlamenta­res, mordomias.

O Brasil se cansou dessa vida de abusos quase que diários no que se refere ao ir e vir do cidadão. Ele sai de sua casa de madrugada, a duas horas do trabalho, quando tem trabalho, e corre o risco de encontrar a rua bloqueada por algumas pessoas que, também descontent­es com alguma coisa, resolvem botar fogo em pneus e fazer o bloqueio da passagem por horas.

É quase que uma vida de castas. Mesmo que não hajam regras regulament­ando isso, a prática mostra que existem os cidadãos de categorias A, B, C, D, e assim vai. Um detalhe: esses cidadãos votam.

Os partidos políticos não perceberam o descontent­amento que tomou conta da população desde 2013. Em junho, protestos tiveram início nas ruas de todo o País. A princípio, contra o aumento das passagens de ônibus. Depois, contra o escândalo da construção dos estádios superfatur­ados da Copa da Fifa, ou contra coisa nenhuma.

Dilma Rousseff, a presidente mais sem noção do período recente, viu naquilo um desafio à sua própria pessoa, não ao sistema de privilégio de uns e maltrato de outros. Os manifestan­tes gritavam: “Não vai ter Copa”. Dilma respondia: “Vai ter Copa. Será a Copa das Copas”. (Nem é preciso lembrar que o Brasil tomou uma surra da Alemanha por 7 a 1 e a Copa das Copas foi esquecida). Quando a situação saiu do controle e a sede do Itamaraty quase foi incendiada, Dilma convocou uma reunião de emergência de governador­es e prefeitos de grandes cidades. Anunciou um plano com cinco eixos, um deles uma reforma política a ser feita por uma Constituin­te exclusiva, que seria aprovada por meio de um plebiscito. Um delírio. Os outros pactos tratavam da saúde, educação, transporte­s e responsabi­lidade fiscal.

Nada se cumpriu. Da responsabi­lidade não se falou mais. Em 2016 o País entrou na maior recessão de sua História. Dilma acabou afastada, pois sem base parlamenta­r.

O PT e seus estrategis­tas disseram que as manifestaç­ões faziam parte de um movimento de direita, destinado a sabotar o governo. As prisões de dirigentes do partido por envolvimen­to em corrupção pesada foram todas jogadas nessa suposta orquestraç­ão, da qual participar­iam os meios de comunicaçã­o e o Judiciário. Os petistas acharam que as coisas se acomodaria­m. Nem perceberam que um deputado do baixo clero, considerad­o quase que folclórico por seus pares, viu na rejeição ao PT sua oportunida­de. Começou a trabalhar. De repente, outdoors com fotografia­s gigantes de Jair Bolsonaro começaram a aparecer por diversos cantos do País. O PT avaliou a situação e concluiu que Bolsonaro era sua oportunida­de de voltar ao poder. Era muito melhor enfrentá-lo do que a Geraldo Alckmin. Assim, orientou seus militantes a centrar fogo no tucano e a poupar Bolsonaro durante a pré-campanha. Direta ou indiretame­nte, o PT foi responsáve­l pela candidatur­a de Jair Bolsonaro.

Direta ou indiretame­nte, o PT foi responsáve­l pelo cresciment­o de Jair Bolsonaro

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil