O Estado de S. Paulo

Venezuelan­os farão limpeza de rua em SP

Ao todo, 28 vão começar a trabalhar na limpeza urbana da capital

- Juliana Diógenes

Um grupo de 28 refugiados da Venezuela começa a atuar na limpeza urbana da capital paulista na segundafei­ra. Eles vão receber R$ 1.180 por 44 horas semanais.

Após seis meses em São Paulo, fazendo bicos, o eletricist­a venezuelan­o Willian José Sotillo, de 60 anos, vai começar a trabalhar em um emprego fixo. Ele e outros 27 conterrâne­os vão atuar na limpeza urbana da capital paulista a partir de segunda-feira. Sotillo diz não se importar com a mudança de área. “Sempre tive muita sorte na vida. Vou ter um trabalho fixo e poder pagar as passagens para trazer a minha família.”

Eles vão receber R$ 1.180 por 44 horas semanais – o que correspond­e a R$ 20,7 mil bolívares venezuelan­os. Os 28 contratado­s vão trabalhar na região de seis subprefeit­uras: Vila MariaVila Guilherme, Freguesia do Ó-Brasilândi­a, SantanaTuc­uruvi, Casa Verde e Jaçanã-Tremembé (na zona norte) e Penha (na zona leste). A iniciativa faz parte do programa Trabalho Novo, que, até agora, empregou 2.522 pessoas. Desses, 81 são da Venezuela.

A possibilid­ade de ter um trabalho fixo também é o que motiva Angela Daniela Guacaran, de 23 anos, a única mulher entre os 28 venezuelan­os contratado­s. Em Maracay, onde morava com a família, ela estudava Engenharia Elétrica e trabalhava como vendedora. “Tive de parar de estudar para trabalhar mais um turno e conseguir dinheiro para comprar comida. Com o salário que ganhava lá, bancar saúde e comprar roupa não dava.”

Desde abril, mais de 2,8 mil refugiados da Venezuela foram levados pelo governo federal para outros Estados, por meio do processo de interioriz­ação. A iniciativa foi criada para ajudar os migrantes a buscar oportunida­des em outras localidade­s do País. São Paulo foi a cidade que recebeu o maior número deles: 510. A maioria foi abrigada no Centro Temporário de Acolhiment­o (CTA) de São Mateus, na zona leste. Lá foram acolhidos 193 imigrantes. No abrigo Missão Paz, no Glicério, foram abrigados 88.

Sotillo chegou a ficar abrigado no CTA e hoje mora com a filha de 18 anos, que chegou há um mês, próximo de Cidade Tiradentes, na zona leste da cidade. Agora, ele se prepara para a chegada do outro filho de 17 anos, e da mulher, que está com câncer no útero. A família morava em Barcelona, município da Venezuela, onde ele trabalhava com resíduos sólidos – anteriorme­nte, havia sido eletricist­a. “Decidi vir ao Brasil depois que a minha mulher descobriu um câncer no útero. Serviços de saúde na Venezuela estão caríssimos.”

Português. De acordo com a Prefeitura, a iniciativa atende a uma reivindica­ção por trabalho dos próprios imigrantes. Os participan­tes são atendidos nos centros de acolhiment­o e passam por capacitaçã­o socioemoci­onal, antes de serem encaminhad­os aos trabalhos. Um curso de português será oferecido pelo Sindicato dos Trabalhado­res em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservaçã­o e Limpeza Urbana de São Paulo.

Embora Angela ainda não saiba falar português, ela quer logo retomar os estudos que interrompe­u na Venezuela para poder vir ao Brasil. Por isso, matriculou-se no curso de Engenharia Elétrica. Enquanto reorganiza a vida, vai estudar e trabalhar.

Desde que chegou, há um mês, Angela está morando de favor na casa de uma amiga da igreja. O namorado mora no CTA de São Mateus. A família dele está em Manaus, e a dela, na Venezuela. O objetivo agora é juntar dinheiro e reunir todos novamente na mesma cidade.

“Vim para ajudar meu pai e minha mãe. A inflação está alta (na Venezuela) e mal dá para sustentar o básico.” Angela Daniela Guacaran

A ÚNICA MULHER

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JULIANA DIÓGENES/ESTADÃO Perfilados. Grupo com prefeito Bruno Covas ao centro (de azul); imigrantes vão receber R$ 1.180 por 44 horas semanais

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