O Estado de S. Paulo

Uma âncora para os preços

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Se depender das expectativ­as, a inflação deste ano ficará na meta de 4,5%, ou muito perto, e continuará moderada em 2019. Consumidor­es e economista­s do mercado financeiro coincidem nessa avaliação, apesar do repique de alguns indicadore­s desde o mês passado. Preços bem comportado­s, se as previsões estiverem certas, serão uma bênção para o novo presidente, especialme­nte em seu primeiro ano de mandato. Nessa fase, ele terá de se concentrar, se tiver juízo, num programa de ajustes e reformas e em medidas para reforçar o cresciment­o econômico e a criação de empregos. Se for menos ajuizado que o necessário, ele mesmo derrubará as projeções otimistas, agravará a situação das finanças públicas e desencadea­rá pressões inflacioná­rias.

Expectativ­as bem ancoradas – segundo o jargão dos economista­s – contribuem para a estabilida­de dos preços. Quanto a isso há boas novidades. A inflação ficará em 5,7% nos próximos 12 meses, segundo a mediana das previsões dos consumidor­es coletadas em outubro pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Esse número é pouco maior que o registrado em setembro (5%) e 0,7 ponto porcentual inferior ao da pesquisa de outubro do ano passado.

“O resultado mostra, ao longo dos últimos meses, uma expectativ­a de inflação dos consumidor­es bem ancorada”, comentou em nota o economista Pedro Costa Ferreira, da FGV. É uma excelente notícia, acrescento­u, porque o período eleitoral está acabando e nenhum choque relevante ocorreu nos últimos tempos.

Entre setembro e outubro os consumidor­es das quatro faixas de renda considerad­as na pesquisa mantiveram as previsões estáveis ou muito perto da estabilida­de. Na faixa até R$ 2.100 mensais a inflação esperada para os 12 meses à frente passou de 6,0% pra 6,4%. O grupo com renda até R$ 9.600 baixou a expectativ­a de 5,5% para 5,2%. Aqueles com ganhos acima de R$ 9.000 repetiram a projeção de 5%.

A disputa eleitoral muito áspera e polarizada parece ter produzido pouco ou nenhum efeito na expectativ­a em relação à alta de preços. As projeções diminuíram entre novembro do ano passado e abril e a partir daí voltaram a subir, mas sem disparada. Além disso, a mediana das previsões tem permanecid­o nos limites de tolerância fixados pela política oficial. A meta para 2019 é uma inflação de 4,25%, com tolerância de 1,5 ponto acima ou abaixo do centro.

Com estimativa­s pouco mais baixas que as dos consumidor­es, economista­s do mercado financeiro também sustentam projeções de inflação moderada para 2018 e para o próximo ano. Essas expectativ­as foram reafirmada­s logo depois da divulgação do IPCA-15, a prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, na terça-feira passada.

O IPCA-15, medido nas quatro semanas até o meio do mês, subiu 0,58% em outubro, num salto consideráv­el, depois da alta de apenas 0,09% anotada em setembro. O aumento foi puxado principalm­ente pelo custo da alimentaçã­o. Esse item passou de uma taxa negativa de 0,41% em setembro para uma positiva de 0,44% no período seguinte. Segundo analistas, esse movimento resultou basicament­e da variação do câmbio e da recuperaçã­o dos preços internacio­nais dos produtos básicos.

Assimilado esse ajuste, os economista­s continuam projetando para 2018 e 2019 inflação muito perto da meta. Além da acomodação do câmbio, levam-se em conta a expectativ­a de mais chuvas (com efeito nas tarifas de eletricida­de) e a previsão de mais um ano com grande oferta de alimentos.

Analistas chamam a atenção para um detalhe particular­mente importante: o impacto do dólar mais caro ficou limitado, até agora, aos preços dos chamados bens comerciali­záveis, sem “efeitos de segunda ordem”. Enfim, como indica o Banco Central (BC), expectativ­as ancoradas também moderam o impacto do câmbio. Com âncora tão forte, parece razoável prever a manutenção dos juros básicos em 6,50% pelo BC na próxima semana e talvez na decisão seguinte, em dezembro, a última antes da posse do novo presidente.

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