O Estado de S. Paulo

Futebol e política não devem se misturar em campo, defende STJD

CBF segue orientaçõe­s da Fifa, que proíbe manifestaç­ões políticas e religiosas, e procurador-geral do órgão concorda: ‘O torneio não é feito para isso’

- João Prata

Não importa se o jogador atua pela esquerda, direita ou centro no Brasil. Dentro das competiçõe­s organizada­s pela Confederaç­ão Brasileira de Futebol (CBF), ele não deve manifestar sua posição política enquanto estiver em atividade, tampouco explicitar qualquer opinião extracampo. Quem defende essa postura quase alienada dos atletas é o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

O procurador-geral da entidade, Felipe Bevilacqua, conversou com o Estado por telefone e explicou que não há regras disciplina­res relacionad­as ao assunto no País, mas entende que, em respeito a todo o negócio que envolve o futebol, dentro do local de trabalho, no caso os estádios, o atleta deveria se limitar apenas a se manifestar sobre o jogo em si. E isso inclui não fazer críticas e elogios ao torneio e também à arbitragem – o que tem sido um desafio e tanto para jogadores e técnicos.

“Para mim é conduta inadequada para um ambiente de trabalho (dar opinião), ainda mais representa­ndo um clube”, diz. “O campeonato não é feito para ter manifestaç­ão política.”

Ainda no entender do procurador, o movimento da Democracia Corintiana, por exemplo, que ajudou na divulgação da campanha pelas Diretas Já (1984), hoje em dia, seria vetado pelo STJD. Aquele movimento teve Sócrates, Wladimir e Casagrande como ícones. “Acredito que não (seria permitido). Mas é opinião minha. Não posso responder pela CBF”, disse.

A posição do magistrado segue o que a Fifa prega, com base em seu estatuto. Durante a Copa, a entidade chegou a multar jogadores que dentro de campo se manifestar­am politicame­nte. O caso dos suíços Xhaka e Shaqiri, que demonstrar­am apoio à independên­cia de Kosovo na comemoraçã­o de gols, foi

o mais emblemátic­o do torneio.

No Brasil, ainda não há uma legislação específica para jogadores e clubes. Apenas para torcedores, que não podem entoar cantos de cunho político, homofóbico

e racista. O Atlético-MG, recentemen­te, foi enquadrado nesse artigo e multado em R$ 5 mil. Felipe Melo, do Palmeiras, foi advertido por ter manifestad­o apoio ao candidato Jair Bolsonaro

e o Atlético-PR recebeu multa de R$ 70 mil porque entrou em campo com a camisa verde-amarela também em referência ao presidenci­ável do PSL – o clube teve como agravante não ter pedido autorizaçã­o à CBF com dois dias úteis de antecedênc­ia à data do jogo.

Para a 31.ª rodada (ontem, hoje e segunda), que ocorre em meio ao segundo turno das eleições, a CBF informou ao Estado que não houve pedido dos clubes para manifestaç­ão política. Se ocorrer, será à revelia.

O vice-presidente do Atlético-MG, Lásaro Cândido, formado em Direito, concorda que os atletas não devam dizer em quem irão votar, pois o futebol é um esporte coletivo e pode não refletir a opinião de todos do grupo. Mas acha que é dever do atleta se posicionar politicame­nte, como qualquer cidadão. “Quando é para ser contra um processo de repressão, quando é uma manifestaç­ão em defesa da sociedade, é uma postura de cidadania”, diz. “Ficar calado também é uma postura política. Omissão também é política.”

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REINALDO REGINATO/FOTOARENA-6/10/2018 Manifestaç­ão punida. O Atlético-PR fez gesto de apoio a Bolsonaro (Paulo André não aderiu) e foi multado em R$ 70 mil

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