O Estado de S. Paulo

Caixa bloqueia R$ 478 mi do Rio

Banco alega ter encontrado sobrepreço e superfatur­amento em arenas. Prefeitura fala em ‘divergênci­as’ de custos

- Raphael Ramos

Após apontar irregulari­dades, como sobrepreço e superfatur­amento, a Caixa Econômica Federal bloqueou R$ 478 milhões em transferên­cias de recursos federais para o município do Rio referentes a obras dos Jogos Olímpicos de 2016. Os repasses estão relacionad­os à construção de instalaçõe­s esportivas no Parque Olímpico da Barra da Tijuca (Centro Olímpico de Tênis, Velódromo, Centro de Esportes Aquáticos e Arena do Futuro) e no Complexo Esportivo de Deodoro. Todas as obras já acontecera­m, mas os prazos para prestação de contas e financiame­nto estão vencendo somente agora.

As informaçõe­s referentes ao bloqueio dos repasses constam em inquérito civil em andamento no Ministério Público Federal. O município executou a obra e apresentou a conta à Caixa, que deveria liberar o recurso – o banco é o repassador das verbas da União. A transferên­cia de R$ 478 milhões, no entanto, foi bloqueada após o banco encontrar irregulari­dades na prestação de contas.

Em nota enviada ao Estado, a Procurador­ia-Geral do Município do Rio informou que “não há sobrepreço ou superfatur­amento, o que há são divergênci­as entre a tabela de custos utilizada pela Caixa, muitas vezes defasada ou incompleta, e o custo efetivamen­te gasto”.

Somente instalaçõe­s esportivas dos Jogos do Rio consumiram R$ 7,2 bilhões. Os custos foram divididos entre iniciativa privada e os governos federal e municipal. Ao todo (incluindo a gestão do Comitê Rio-2016 e obras de infraestru­tura da capital fluminense), a Olimpíada saiu por R$ 41 bilhões.

No dia 27 de julho, a Caixa informou a representa­ntes do “Grupo de Trabalho Olimpíada” da Procurador­ia da República no Rio ter encontrado “uma série de graves problemas” nas contas apresentad­as pelo município. No dia 13 de agosto, a última atualizaçã­o dos valores apontava que o montante bloqueado era de R$ 477.957.605,71.

“O município adiantou os recursos junto às construtor­as. A responsabi­lidade pelo custo destas obras é da União, que tem de ressarcir o município”, alega a Procurador­ia-Geral do Rio, em nota.

O relatório apresentad­o pela Caixa, por exemplo, traz uma planilha na qual são apontados R$ 180 milhões de itens comprados acima do valor aprovado na construção do Complexo Esportivo de Deodoro. Há, ainda outros R$ 2 milhões em “inconsistê­ncia de medição”.

No Centro de Esportes Aquáticos, o sobrepreço chegou a R$ 33 milhões. A Caixa, inclusive, indeferiu pedido para prorrogaçã­o do acordo por entender que não havia motivação técnica que justificas­se o desbloquei­o dos recursos.

Situação semelhante ocorre com o Velódromo. Somente em itens medidos acima do valor aprovado o banco identifico­u mais de R$ 11 milhões. A diferença é que o espaço precisou de obras complement­ares que ficaram pendentes.

“As obras dos Jogos terminaram em 2016, mas isso está se arrastando até agora porque os contratos possuem prazos para serem apresentad­as as justificat­ivas e agora alguns desses contratos estão se encerrando, o que significa que o bloqueio passa a ser definitivo. As explicaçõe­s do município não foram aceitas e a Caixa diz que não vai liberar o recurso”, explica o procurador da República Leandro Mitidieri, coordenado­r do “Grupo de Trabalho Olimpíada”.

Com a recusa da Caixa em fazer os repasses da União, a prefeitura do Rio pagou por obras que, na verdade, deveriam ser custeadas pela União. “O município pegou recursos próprios dele, alguns e-mails confirmam isso, e pagou. Algo que ia ser pago com recursos federais está sendo pago com recursos municipais”, diz Mitidieri.

Por meio da sua assessoria de imprensa, o banco informou ao Estado que não iria comentar a ação em andamento no MPF.

Leandro Mitidier

PROCURADOR DA REPÚBLICA ‘A obra terminou em 2016, mas isso está se arrastando. As explicaçõe­s não foram aceitas e a Caixa diz que não vai liberar o recurso’

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FABIO MOTTA/ESTADÃO - 26/1/2018 Parque Olímpico. Visão aérea do Centro de Tênis (esq.) e do Velódromo utilizados nos Jogos do Rio, em 2016

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