O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde: Hora de esperança e dúvidas

- Eliane Cantanhêde

Ogrande desafio a partir de agora é decifrar quem é, o que pretende e o que vai conseguir efetivamen­te fazer o novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que quebra todos os paradigmas e foi eleito num dos maiores movimentos de renovação já vistos no País. Há uma esperança enorme, mas também muitos temores.

Após a vitória, Bolsonaro fez um apelo à pacificaçã­o de um País que sai profundame­nte dividido da eleição e se compromete­u com “a Constituiç­ão, a democracia e a liberdade”. Isso é importante não só para a Nação, mas para o próprio Bolsonaro, que chocava ao defender a ditadura e a tortura, mas deixa para trás a persona candidato e assume a de presidente eleito, contempori­zador e pragmático como deve ser.

Mais do que as palavras, destacam-se no primeiro pronunciam­ento os símbolos. Ele desdenhou a TV e optou pelas redes sociais, tão fundamenta­is para a construção de sua candidatur­a e a vitória. E mais: a simplicida­de dele e de sua mulher, a Bíblia e a Constituiç­ão sobre a mesa, o broche de deputado federal na lapela do paletó, sem gravata.

Além de símbolos, porém, Bolsonaro precisa finalmente mostrar a que veio, detalhar um programa econômico sólido, definir prioridade­s e metas. Nada disso ficou claro durante a campanha, mas acabou o tempo. Não há alternativ­a: é mostrar ou mostrar qual será o governo, e com quem.

Para começar, tem de deixar claro qual a autonomia do economista Paulo Guedes, a dimensão e a forma do ajuste fiscal e do enxugament­o do Estado. E, afinal, onde se encaixa a fundamenta­l preocupaçã­o social?

Bolsonaro não ganhou de goleada, mas saiu das urnas com enorme legitimida­de e corre um risco: qualquer erro será amplificad­o proporcion­almente ao tamanho da expectativ­a gerada. Foram muitas as promessas, serão igualmente muitas as cobranças. E, além de encarnar o “novo”, os valores da família, da ordem e do progresso, muito pouco, praticamen­te nada, se sabe do capitão que chegou à Presidênci­a da República.

Todos os candidatos, todos os cidadãos querem e sonham transforma­r o Brasil “numa grande, livre e próspera Nação”, como ele anunciou ontem. O problema não é querer, é saber como e em quanto tempo fazer.

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