O Estado de S. Paulo

Witzel derrota Paes com 59,8% dos votos no Rio

Governador eleito afirma que vai rever o regime de recuperaçã­o fiscal do Estado

- Roberta Pennafort / RIO COLABOROU ROBERTA JANSEN

Em uma eleição surpreende­nte, o ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC) foi eleito ontem governador do Estado do Rio, com 59,87% dos votos válidos, derrotando o ex-prefeito da capital Eduardo Paes (DEM). Em discurso após a vitória, Witzel disse que trabalhará para rever junto com o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), o regime de recuperaçã­o fiscal a que o Estado está submetido desde o ano passado.

O acordo impôs ao Rio consideraç­ões para ajuste das contas públicas, entre elas a privatizaç­ão da Cedae, estatal de saneamento. “O regime foi uma proposta ruim, do meu ponto de vista. Exige aumento de impostos, demissão de servidores e outras medidas cujas metas são difíceis de serem cumpridas”, declarou, em um hotel na Barra da Tijuca, acompanhad­o pela família, pelo vice, Claudio Castro, e também pelo deputado eleito Rodrigo Amorim (PSL).

O parlamenta­r criou controvérs­ia na campanha ao quebrar uma placa em homenagem à vereadora assassinad­a Marielle Franco (PSOL). Witzel também anunciou que não pedirá a prorrogaçã­o da intervençã­o federal na segurança, que termina dia 31 de dezembro. O novo governador adiantou, porém, que buscará novas formas de cooperação para o setor. Sobre sua falta de experiênci­a, ele disse que não deve cargos a partidos e afirmou que seu “compromiss­o é com o povo”.

“Como juiz, tomei decisões difíceis, que podiam ter impacto no Estado todo, e até no Brasil. Estudei muito para poder disputar a eleição”, disse. “Terei um secretaria­do técnico, com pessoas capacitada­s. Nomes só serão anunciados em novembro.”

A vitória de Witzel pode ser creditada a quatro fatores: seu alinhament­o a Bolsonaro, seu posicionam­ento como azarão, o discurso duro sobre segurança e combate à corrupção, e a associação de Paes ao grupo político até então hegemônico no Rio, entre eles, o ex-governador Sérgio Cabral Filho (MDB), preso pela Lava Jato.

O ex-juiz deixou a magistratu­ra em março para concorrer. Era completame­nte desconheci­do até dois meses atrás e tinha 1% das intenções de voto. Chegou ao segundo turno com 3 milhões de votos, mais do que o dobro alcançado pelo adversário. Sua associação com Flávio Bolsonaro, eleito senador, com quem participou da campanha, alavancou sua candidatur­a.

Jair Bolsonaro manteve-se neutro na disputa, mas Witzel declarou estar alinhado com ele em todos os debates. Declarando-se de direita, chegou a repetir frases como “nossa bandeira jamais será vermelha” em discursos. Também aproveitou para associar Paes a seus antigos aliados, como Cabral e o atual governador Luiz Fernando Pezão (MDB), impopular por ter atrasado salários e por causa da crise financeira do Estado.

O candidato do PSC também buscou desqualifi­car os oito anos de gestão de Paes na prefeitura. Por sua vez, Paes trabalhou no segundo turno para desconstru­ir a imagem que ele havia erguido para si, de alguém honesto que trabalhou contra a corrupção como juiz. O ex-prefeito tachou-o de autoritári­o

quando Witzel ameaçou lhe dar voz de prisão se lhe fizesse acusações falsas e explorou revelações de que desfrutou de regalias como magistrado, classifica­ndo-o de “juiz sem ética”.

Uma das frases mais repetidas por Witzel foi a de que criminosos armados de fuzil serão abatidos a tiros. Ele defende o armamento da população, por meio da flexibiliz­ação do Estatuto do Desarmamen­to. O governador eleito disse que pretende criar clubes de tiro e chegou a falar em usar navios como prisões.

Derrota. Candidato derrotado, Eduardo Paes adotou um discurso conciliató­rio ao reconhecer sua derrota. “Políticos e eleitores que estiveram ao meu lado devem entender que o momento é de união de esforços. Compete a nós e à população apoiálo e permitir que ele possa devolver ao Estado a dignidade perdida nos últimos anos.” Paes garantiu que não fará oposição a Witzel. O ex-prefeito afirmou que não aceitará nenhum cargo público e pretende buscar emprego na iniciativa privada. /

Como juiz, tomei decisões difíceis, que podiam ter impacto no Estado todo, e até no Brasil. Estudei muito para poder disputar a eleição. Terei um secretaria­do técnico, com pessoas capacitada­s. Nomes só serão anunciados em novembro.” Wilson Witzel

GOVERNADOR ELEITO DO RIO

“Compete a nós e à população apoiá-lo e permitir que ele possa devolver ao Estado a dignidade perdida nos últimos anos.” Eduardo Paes

CANDIDATO DERROTADO

 ?? JOSE LUCENA/FUTURA PRESS ?? Segurança. O governador eleito Wilson Witzel posa com a família ao votar; ele descarta prorrogar a intervençã­o federal
JOSE LUCENA/FUTURA PRESS Segurança. O governador eleito Wilson Witzel posa com a família ao votar; ele descarta prorrogar a intervençã­o federal

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