Witzel derrota Paes com 59,8% dos votos no Rio
Governador eleito afirma que vai rever o regime de recuperação fiscal do Estado
Em uma eleição surpreendente, o ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC) foi eleito ontem governador do Estado do Rio, com 59,87% dos votos válidos, derrotando o ex-prefeito da capital Eduardo Paes (DEM). Em discurso após a vitória, Witzel disse que trabalhará para rever junto com o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), o regime de recuperação fiscal a que o Estado está submetido desde o ano passado.
O acordo impôs ao Rio considerações para ajuste das contas públicas, entre elas a privatização da Cedae, estatal de saneamento. “O regime foi uma proposta ruim, do meu ponto de vista. Exige aumento de impostos, demissão de servidores e outras medidas cujas metas são difíceis de serem cumpridas”, declarou, em um hotel na Barra da Tijuca, acompanhado pela família, pelo vice, Claudio Castro, e também pelo deputado eleito Rodrigo Amorim (PSL).
O parlamentar criou controvérsia na campanha ao quebrar uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL). Witzel também anunciou que não pedirá a prorrogação da intervenção federal na segurança, que termina dia 31 de dezembro. O novo governador adiantou, porém, que buscará novas formas de cooperação para o setor. Sobre sua falta de experiência, ele disse que não deve cargos a partidos e afirmou que seu “compromisso é com o povo”.
“Como juiz, tomei decisões difíceis, que podiam ter impacto no Estado todo, e até no Brasil. Estudei muito para poder disputar a eleição”, disse. “Terei um secretariado técnico, com pessoas capacitadas. Nomes só serão anunciados em novembro.”
A vitória de Witzel pode ser creditada a quatro fatores: seu alinhamento a Bolsonaro, seu posicionamento como azarão, o discurso duro sobre segurança e combate à corrupção, e a associação de Paes ao grupo político até então hegemônico no Rio, entre eles, o ex-governador Sérgio Cabral Filho (MDB), preso pela Lava Jato.
O ex-juiz deixou a magistratura em março para concorrer. Era completamente desconhecido até dois meses atrás e tinha 1% das intenções de voto. Chegou ao segundo turno com 3 milhões de votos, mais do que o dobro alcançado pelo adversário. Sua associação com Flávio Bolsonaro, eleito senador, com quem participou da campanha, alavancou sua candidatura.
Jair Bolsonaro manteve-se neutro na disputa, mas Witzel declarou estar alinhado com ele em todos os debates. Declarando-se de direita, chegou a repetir frases como “nossa bandeira jamais será vermelha” em discursos. Também aproveitou para associar Paes a seus antigos aliados, como Cabral e o atual governador Luiz Fernando Pezão (MDB), impopular por ter atrasado salários e por causa da crise financeira do Estado.
O candidato do PSC também buscou desqualificar os oito anos de gestão de Paes na prefeitura. Por sua vez, Paes trabalhou no segundo turno para desconstruir a imagem que ele havia erguido para si, de alguém honesto que trabalhou contra a corrupção como juiz. O ex-prefeito tachou-o de autoritário
quando Witzel ameaçou lhe dar voz de prisão se lhe fizesse acusações falsas e explorou revelações de que desfrutou de regalias como magistrado, classificando-o de “juiz sem ética”.
Uma das frases mais repetidas por Witzel foi a de que criminosos armados de fuzil serão abatidos a tiros. Ele defende o armamento da população, por meio da flexibilização do Estatuto do Desarmamento. O governador eleito disse que pretende criar clubes de tiro e chegou a falar em usar navios como prisões.
Derrota. Candidato derrotado, Eduardo Paes adotou um discurso conciliatório ao reconhecer sua derrota. “Políticos e eleitores que estiveram ao meu lado devem entender que o momento é de união de esforços. Compete a nós e à população apoiálo e permitir que ele possa devolver ao Estado a dignidade perdida nos últimos anos.” Paes garantiu que não fará oposição a Witzel. O ex-prefeito afirmou que não aceitará nenhum cargo público e pretende buscar emprego na iniciativa privada. /
Como juiz, tomei decisões difíceis, que podiam ter impacto no Estado todo, e até no Brasil. Estudei muito para poder disputar a eleição. Terei um secretariado técnico, com pessoas capacitadas. Nomes só serão anunciados em novembro.” Wilson Witzel
GOVERNADOR ELEITO DO RIO
“Compete a nós e à população apoiá-lo e permitir que ele possa devolver ao Estado a dignidade perdida nos últimos anos.” Eduardo Paes
CANDIDATO DERROTADO