Festa ganha ruas e redes sociais; PM teve de agir em SP
Houve confronto na Paulista; pelo País, milhares foram às ruas, com bandeiras, camisas do Brasil, citações bíblicas e críticas ao PT
“Ele sim”, puxava do alto do carro de som da Avenida Paulista Marcelo Reis, coordenador do Revoltados Online e apoiador do presidente eleito Jair Bolsonaro. Com poucos registros de confusão – o principal em São Paulo – e muitos fogos, a festa da vitória do candidato do PSL ganhou as redes sociais – para quem ele fez o primeiro discurso – e as ruas. Milhares festejaram em São Paulo, Rio, Porto Alegre e Brasília, entre outras cidades.
O figurino escolhido pela maioria dos apoiadores do candidato vitorioso do PSL foi o verde e amarelo ou o preto, inevitavelmente ligados à Bandeira do Brasil. O Hino Nacional foi ouvido em vários locais, ao lado de cânticos evangélicos e do lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!”. Não faltaram também várias críticas ao PT, tendo como alvo principal não o candidato Fernando Haddad, mas Lula.
Curitiba, onde o ex-presidente está preso, foi um dos locais em que se viu nas ruas o Pixuleco. O boneco também foi inflado em Brasília, onde um dos lados da Esplanada dos Ministérios ficou completamente tomado por manifestantes, até a rodoviária central. Ali, além da louvação ao “Mito”, houve várias palavras de ordem contra a imprensa. Situação semelhante, incluindo agressão a uma petista, foi vista em Salvador.
“Esperamos dias melhores para o País”, disse Antonio Marcos, analista de sistemas aposentado, de 66 anos. “Foi coisa de Deus”, completou Maria Rosicler, dona de casa, também com 66 anos. O casal é vizinho de Bolsonaro no Rio. Ali, a concentração na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, zona oeste, começou de manhã. Buzinaço, coro de “o capitão chegou” e “Mito”, churrasco no canteiro e até o carro fúnebre do PT davam o tom.
Por volta das 17 horas, os apoiadores já tomavam pelo menos duas pistas da avenida. A queima de fogos teve início, após as 19 horas, quando ficou clara a vitória do candidato. Mas o momento de maior comoção foi quando um telão transmitiu ao vivo a fala da vitória. Mais tarde, Bolsonaro foi à porta do condomínio. Naquele momento, a festa e as carreatas já tomavam várias ruas pelas capitais do País.
Mesmo em cidades pequenas, como a terra natal do capitão, a cidade de Glicério (SP) teve buzinaços na praça da Matriz e queima de fogos. O mesmo ocorreu em Eldorado, onde foi criado o futuro presidente. Já na cidade de Amaporã (PR), onde a eleição para presidente registrou um empate no primeiro turno, o PT venceu ontem por 64 votos – 1.538 a 1.474.
São Paulo. Antes do fechamento das urnas, eleitores de Bolsonaro já se reuniam na Avenida Paulista em São Paulo. Com bandeiras do Brasil e do candidato hasteadas, o grupo gritava palavras de ordem, enquanto carros passavam buzinando e motoristas faziam “positivo”.
Com uma camisa amarela e o rosto de Bolsonaro, Bruno Godoy chegou com dois amigos ao vão do Masp. “Tem de ter história para contar para os netos. Nossos pais participaram do Diretas Já, né?”, disse. Godoy foi eleitor de Lula e Dilma e atribuiu o apoio ao candidato do PSL a uma decepção com o PT. “Se desvirtuaram em troca de dinheiro. Por enquanto, ele (Bolsonaro) não é dessa corja.”
Veruska Muller, de 37 anos, estava acompanhada do marido e da filha Flavia, de 2 anos. A menina vestia uma farda da PM, segundo a mãe, em homenagem ao candidato do PSL. “Ela faz com os dedinhos a arma. Não tem problema para quem não age errado, quem tem problema que tem medo.”
Nos prédios da Avenida Paulista, moradores se dividiam entre a festa e gritos de “Ele não”. Esse “embate” se repetiu por outros bairros de São Paulo, como em Pinheiros, Perdizes, Saúde e Mooca.
Mas foi só na mesma Paulista que houve a necessidade de intervenção da polícia. Assim que o resultado das eleições foi confirmado, um grupo de simpatizantes petistas, que se concentrava no vão livre do Masp, começou a gritar frases como “Ele não” e “Bolsonaro, fascista”. A animosidade entre os grupos foi crescendo, até que alguns enfrentamentos foram surgindo.
PMs formaram um cordão de isolamento e marcharam para dispersar os eleitores do PT. “Fora, PT! Fora, PT!”, diziam os manifestantes pró-Bolsonaro. O grupo contrário atirou objetos e garrafas de bebida contra os policiais, além de derrubar lixeiras. A polícia usou balas de borracha na dispersão.
Após o tumulto, os policiais foram aplaudidos por eleitores de Bolsonaro, que também pediam para tirar selfies. Gritos de “Fora, PT”, “Chora, petista” , “Xô, satanás, PT nunca mais” e “o capitão voltou” foram entoado – e ativistas pró-Bolsonaro estouraram champanhe.
Da mesma forma que disseram que Bolsonaro não seria presidente, disseram que muitos deputados federais e estaduais do Bolsonaro não se elegeriam. É com muita honra e orgulho que vamos ocupar a Câmara dos Deputados e o Senado. Agora podemos falar: quem é nosso presidente? Bolsonaro!” Marcelo Reis
APOIADOR DE BOLSONARO
“Foi coisa de Deus” Maria Rosicler
DONA DE CASA