O Estado de S. Paulo

Festa ganha ruas e redes sociais; PM teve de agir em SP

Houve confronto na Paulista; pelo País, milhares foram às ruas, com bandeiras, camisas do Brasil, citações bíblicas e críticas ao PT

- / VINICIUS NEDER, MARCIO DOLZAN, LEONENCIO NOSSA, ANDRÉ BORGES, PABLO PEREIRA, JOSÉ MARIA TOMAZELA, MARIANNA HOLANDA, FELIPE RESK e IGOR MACARIO

“Ele sim”, puxava do alto do carro de som da Avenida Paulista Marcelo Reis, coordenado­r do Revoltados Online e apoiador do presidente eleito Jair Bolsonaro. Com poucos registros de confusão – o principal em São Paulo – e muitos fogos, a festa da vitória do candidato do PSL ganhou as redes sociais – para quem ele fez o primeiro discurso – e as ruas. Milhares festejaram em São Paulo, Rio, Porto Alegre e Brasília, entre outras cidades.

O figurino escolhido pela maioria dos apoiadores do candidato vitorioso do PSL foi o verde e amarelo ou o preto, inevitavel­mente ligados à Bandeira do Brasil. O Hino Nacional foi ouvido em vários locais, ao lado de cânticos evangélico­s e do lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!”. Não faltaram também várias críticas ao PT, tendo como alvo principal não o candidato Fernando Haddad, mas Lula.

Curitiba, onde o ex-presidente está preso, foi um dos locais em que se viu nas ruas o Pixuleco. O boneco também foi inflado em Brasília, onde um dos lados da Esplanada dos Ministério­s ficou completame­nte tomado por manifestan­tes, até a rodoviária central. Ali, além da louvação ao “Mito”, houve várias palavras de ordem contra a imprensa. Situação semelhante, incluindo agressão a uma petista, foi vista em Salvador.

“Esperamos dias melhores para o País”, disse Antonio Marcos, analista de sistemas aposentado, de 66 anos. “Foi coisa de Deus”, completou Maria Rosicler, dona de casa, também com 66 anos. O casal é vizinho de Bolsonaro no Rio. Ali, a concentraç­ão na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, zona oeste, começou de manhã. Buzinaço, coro de “o capitão chegou” e “Mito”, churrasco no canteiro e até o carro fúnebre do PT davam o tom.

Por volta das 17 horas, os apoiadores já tomavam pelo menos duas pistas da avenida. A queima de fogos teve início, após as 19 horas, quando ficou clara a vitória do candidato. Mas o momento de maior comoção foi quando um telão transmitiu ao vivo a fala da vitória. Mais tarde, Bolsonaro foi à porta do condomínio. Naquele momento, a festa e as carreatas já tomavam várias ruas pelas capitais do País.

Mesmo em cidades pequenas, como a terra natal do capitão, a cidade de Glicério (SP) teve buzinaços na praça da Matriz e queima de fogos. O mesmo ocorreu em Eldorado, onde foi criado o futuro presidente. Já na cidade de Amaporã (PR), onde a eleição para presidente registrou um empate no primeiro turno, o PT venceu ontem por 64 votos – 1.538 a 1.474.

São Paulo. Antes do fechamento das urnas, eleitores de Bolsonaro já se reuniam na Avenida Paulista em São Paulo. Com bandeiras do Brasil e do candidato hasteadas, o grupo gritava palavras de ordem, enquanto carros passavam buzinando e motoristas faziam “positivo”.

Com uma camisa amarela e o rosto de Bolsonaro, Bruno Godoy chegou com dois amigos ao vão do Masp. “Tem de ter história para contar para os netos. Nossos pais participar­am do Diretas Já, né?”, disse. Godoy foi eleitor de Lula e Dilma e atribuiu o apoio ao candidato do PSL a uma decepção com o PT. “Se desvirtuar­am em troca de dinheiro. Por enquanto, ele (Bolsonaro) não é dessa corja.”

Veruska Muller, de 37 anos, estava acompanhad­a do marido e da filha Flavia, de 2 anos. A menina vestia uma farda da PM, segundo a mãe, em homenagem ao candidato do PSL. “Ela faz com os dedinhos a arma. Não tem problema para quem não age errado, quem tem problema que tem medo.”

Nos prédios da Avenida Paulista, moradores se dividiam entre a festa e gritos de “Ele não”. Esse “embate” se repetiu por outros bairros de São Paulo, como em Pinheiros, Perdizes, Saúde e Mooca.

Mas foi só na mesma Paulista que houve a necessidad­e de intervençã­o da polícia. Assim que o resultado das eleições foi confirmado, um grupo de simpatizan­tes petistas, que se concentrav­a no vão livre do Masp, começou a gritar frases como “Ele não” e “Bolsonaro, fascista”. A animosidad­e entre os grupos foi crescendo, até que alguns enfrentame­ntos foram surgindo.

PMs formaram um cordão de isolamento e marcharam para dispersar os eleitores do PT. “Fora, PT! Fora, PT!”, diziam os manifestan­tes pró-Bolsonaro. O grupo contrário atirou objetos e garrafas de bebida contra os policiais, além de derrubar lixeiras. A polícia usou balas de borracha na dispersão.

Após o tumulto, os policiais foram aplaudidos por eleitores de Bolsonaro, que também pediam para tirar selfies. Gritos de “Fora, PT”, “Chora, petista” , “Xô, satanás, PT nunca mais” e “o capitão voltou” foram entoado – e ativistas pró-Bolsonaro estouraram champanhe.

Da mesma forma que disseram que Bolsonaro não seria presidente, disseram que muitos deputados federais e estaduais do Bolsonaro não se elegeriam. É com muita honra e orgulho que vamos ocupar a Câmara dos Deputados e o Senado. Agora podemos falar: quem é nosso presidente? Bolsonaro!” Marcelo Reis

APOIADOR DE BOLSONARO

“Foi coisa de Deus” Maria Rosicler

DONA DE CASA

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Telão e redes sociais. Ativistas balançaram bandeiras durante fala pela web; mais tarde, Bolsonaro foi à porta do condomínio em que mora, na Barra da Tijuca, para o primeiro discurso
 ?? NILTON FUKUDA/ESTADÃO ?? Paulista. Verde e amarelo e ataques ao PT deram o tom
NILTON FUKUDA/ESTADÃO Paulista. Verde e amarelo e ataques ao PT deram o tom
 ?? ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO ?? Brasília. Apoiadores do futuro presidente foram à Esplanada
ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO Brasília. Apoiadores do futuro presidente foram à Esplanada
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RODOLFO BUHRER / REUTERS Curitiba. Ato em frente à sede da PF, onde Lula está preso

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