O Estado de S. Paulo

Derrotado, Haddad fala em liderar oposição

Em discurso após contagem de votos, petista diz que tem ‘tarefa’ de defender ‘liberdades’

- Ricardo Galhardo

Derrotado no segundo turno por Jair Bolsonaro (PSL), mas detentor de 47 milhões de votos em sua primeira eleição presidenci­al, o petista Fernando Haddad se colocou como líder da oposição em seu discurso depois do resultado eleitoral.

“Temos uma tarefa enorme no País que é, em nome da democracia, defender o pensamento e as liberdades destes 45 milhões de brasileiro­s. Temos a responsabi­lidade de fazer uma oposição colocando os interesse nacionais acima de tudo”, disse Haddad, em pronunciam­ento feito no início da noite de ontem em hotel de São Paulo, antes da divulgação dos resultados finais – que o colocaram com 44,86% dos votos válidos.

O candidato do PT não chegou a fazer uma autocrític­a em relação a erros do partido, mas admitiu que, para voltar a “sensibiliz­ar mentes e corações”, vai ter de se reconectar com as bases que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e, ontem, escolheram Bolsonaro.

“Temos de fazer uma profissão de fé de que vamos continuar nossa caminhada conversand­o com as pessoas, nos reconectan­do com as bases, com os pobres deste País”, afirmou.

Na sequência, lembrou que dentro de quatro anos “teremos novas eleições”. “Daqui a quatro anos teremos uma nova eleição. Temos de garantir as instituiçõ­es. Não vamos sair dos nossos ofícios, mas não vamos deixar de exercer nossa cidadania”, disse ele.

Acompanhad­o da mulher, Ana Estela, dos filhos, mãe, a vice na sua chapa, Manuela D'Avila, e dezenas de apoiadores, Haddad se colocou como defensor de direitos civis, trabalhist­as políticos e sociais que, segundo ele, estariam ameaçados com a vitória de Bolsonaro.

“Nós temos uma nação e precisamos defendê-la daqueles que, de forma desrespeit­osa, pretendem usurpar o nosso patrimônio, enganando a democracia não só do ponto de vista formal”, afirmou.

Ao final do discurso de aproximada­mente 10 minutos, Haddad exortou seus apoiadores a se unirem na “resistênci­a” às mudanças prometidas pelo presidente eleito. Também emulou o Hino Nacional, ao dizer que se coloca à disposição dos eleitores no próximo período. “Verás que um professor não foge à luta nem teme quem adora a liberdade à própria morte. Nós temos um compromiss­o de vida com este País.”

Próximos passos. Na quintafeir­a passada, quando as pesquisas ainda mostravam a possibilid­ade de reação de Haddad nas intenções de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elencou as tarefas do PT para o período pós-eleitoral na possibilid­ade de uma derrota para Bolsonaro.

A primeira delas é ouvir Haddad para saber o que o candidato quer fazer a partir de hoje. Dirigentes petistas avaliam que ele será a maior figura do partido depois de Lula, condenado e preso na Lava Jato, mas para se viabilizar como liderança nacional vai ter que superar obstáculos dentro do próprio PT.

“Haddad sai muito grande, mas o que vai acontecer daqui para frente depende do Lula. Ele fica preso? Ele sai? Além disso, Haddad se comportou muito bem como candidato, mas não é um líder”, disse João Paulo Rodrigues, da coordenaçã­o nacional do MST.

Setores do partido defendem que Haddad assuma a presidênci­a do PT no lugar da senadora Gleisi Hoffmann, eleita em 2017. No cargo, o candidato teria um palanque para se manter em evidência no papel de líder da oposição a Bolsonaro.

A manobra, no entanto, é delicada. Em primeiro lugar é preciso convencer Gleisi. Em segundo, saber se o próprio Haddad aceitaria a empreitada que exigiria disponibil­idade de tempo e paciência para manejar os muitos conflitos internos do PT.

Outra tarefa delegada por Lula é manter a coesão do partido. Passada a eleição, Gleisi vai viajar pelos estados para mitigar diferenças surgidas no processo eleitoral. Dirigentes petistas acreditam que Haddad também pode ser importante neste processo. Uma das avaliações correntes é que Haddad, visto como um outsider dentro do partido, conseguiu iniciar um processo de conexão com a militância petista.

 ?? JF DIORIO / ESTADÃO ?? Discurso. O candidato derrotado do PT, Fernando Haddad, é beijado pela mulher, Ana Estela, após fazer pronunciam­ento em São Paulo admitindo a derrota para Jair Bolsonaro, do PSL
JF DIORIO / ESTADÃO Discurso. O candidato derrotado do PT, Fernando Haddad, é beijado pela mulher, Ana Estela, após fazer pronunciam­ento em São Paulo admitindo a derrota para Jair Bolsonaro, do PSL

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