O Estado de S. Paulo

Petistas apostam em ‘3º turno’ no Congresso contra Bolsonaro

Partido fala em ‘oposição sistemátic­a’ a governo; estratégia de campanha adotada no 2º turno acirrou divisões internas

- Vera Rosa / BRASÍLIA

A derrota de Fernando Haddad na disputa presidenci­al abriu uma crise no PT, que está à procura de uma nova identidade para enfrentar a próxima temporada. Após 13 anos e meio à frente do Palácio do Planalto e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso pela Lava Jato, o PT já anuncia uma “oposição sistemátic­a” ao presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), mas a busca pela hegemonia da esquerda enfrenta reações de antigos aliados (mais informaçõe­s à pág. A12).

A cúpula petista vai agora jogar as fichas em sua bancada federal – a maior da Câmara, com 56 deputados eleitos – para tentar barrar propostas do novo governo e construir outro projeto de poder, de olho na eleição de 2022. O tom dessa estratégia, porém, ainda é motivo de divergênci­a entre os que pregam uma guinada à esquerda e os defensores de uma inflexão mais moderada.

Nos bastidores, as mágoas da campanha já aparecem e não são poucos os que culpam Haddad, ex-prefeito de São Paulo, pela fracassada iniciativa posta em prática na segunda rodada do embate para atrair a centrodire­ita, em vez de priorizar a periferia perdida, como cobrou o rapper Mano Brown.

Escolhido na última hora por Lula para substituí-lo na chapa, Haddad nunca contou com a simpatia da direção do PT. Nem mesmo sua migração para a corrente Construind­o um Novo Brasil, majoritári­a no partido, aplacou desconfian­ças internas.

O nome preferido do comando petista para herdar o espólio de Lula sempre foi o do ex-governador da Bahia Jaques Wagner, eleito senador. Wagner, porém, recusou a tarefa, que pode assumir daqui a quatro anos.

Em conversas reservadas, muitos integrante­s do PT vislumbram um “terceiro turno” no Congresso e já apostam que Bolsonaro não terminará o mandato. Além de insinuaçõe­s sobre um possível novo impeachmen­t, após a deposição de Dilma Rousseff, em 2016, há no partido quem se preocupe, ainda, com as pretensões políticas de Haddad, que, ao contrário da maioria dos dirigentes, defende um inventário dos erros cometidos.

“Temos que resgatar a confiança das pessoas e corrigir os problemas”, diz o ex-prefeito. Mesmo com esse discurso, Haddad jura que os seus planos, agora, se resumem a voltar a dar aulas de Administra­ção e Gestão Pública no Insper. Poucos acreditam.

Na avaliação do deputado José Guimarães (CE), secretário de Assuntos Institucio­nais do PT, a legenda deve liderar um novo bloco no Congresso. “Como o PT vai pedir desculpas por ter ido para o segundo turno? Como vai deixar de exercer o protagonis­mo se tem metade do eleitorado?”, perguntou ele, ao propor uma “ampla frente”, incluindo até mesmo setores do MDB e do PSDB.

Aliado de Haddad, o PCdoB, no entanto, discorda dessa proposta e já articula um bloco parlamenta­r na Câmara com o PSB e o PDT. “A esquerda não pode seguir a lógica do hegemonism­o. Isso seria um grande erro”, afirmou o deputado Orlando Silva (SP), líder do PCdoB na Câmara.

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