O Estado de S. Paulo

Ciro vai rivalizar com PT pelo posto de ‘anti-Bolsonaro’

Pedetista aposta no seu desempenho no primeiro turno das eleições, quando teve 12,5% dos votos, para ser opção de ‘campo progressis­ta’

- Renan Truffi / BRASÍLIA / COLABOROU GABRIEL RAMOS, ESPECIAL PARA O ESTADO

Terceiro colocado no primeiro turno das eleições presidenci­ais, Ciro Gomes (PDT) se prepara para uma nova campanha a partir de 1.º de janeiro. Ao não declarar apoio a Fernando Haddad (PT) no segundo turno, o pedetista tenta levar adiante o seu projeto de se consolidar como uma nova liderança do “campo progressis­ta”, que hoje tem o PT à frente, aproveitan­do o capital político conquistad­o neste ano. Ciro teve 13,3 milhões de votos, o equivalent­e a 12,5%.

O principal entusiasta desse projeto de já lançar Ciro para as eleições presidenci­ais de 2022 é o presidente do PDT, Carlos Lupi. Precisará, porém, contornar questões locais de líderes que flertam com o “bolsonaris­mo”. Dos quatro governador­es do partido que foram ao segundo turno, três declararam apoio a Bolsonaro – Juiz Odilon, em Mato Grosso do Sul; Carlos Eduardo, no Rio Grande do Norte; e Amazonino Mendes, no Amazonas. O quarto, Waldez Góes, no Amapá, manteve-se neutro, mas recebeu o apoio do PSL de Bolsonaro no segundo turno.

“Já falei para ele (Ciro) que estamos lançando o nome dele a partir de 1º. de janeiro ( de 2019). Nós vamos, com o Ciro candidato à Presidênci­a em 2022, preparar as nossas candidatur­as em grandes cidades, com mais de 200 mil habitantes, e a partir da semana que vem faremos encontros com a presença do Ciro”, disse ele. Por enquanto, o presidente do PDT não tem mostrado preocupaçã­o com o fato de Ciro já ter trocado de partido mais de sete vezes ao longo de sua carreira. “O Ciro quer (seguir na campanha), ele já colocou o nome à disposição.”

Turbulênci­a. A iniciativa do PDT em lançar, desde já, uma nova candidatur­a presidenci­al se baseia na previsão de turbulênci­as no mundo político. Na leitura dos dirigentes do partido, a governabil­idade será um complicado­r para o novo presidente. “É uma governabil­idade muito difícil, na qual haverá muita radicaliza­ção. Nós queremos ser opção à radicaliza­ção. A partir de 1.º de janeiro, ele (Ciro) se colocará como tal”, afirmou.

Outra razão para que Ciro não se afaste das atividades políticas é o exemplo de Marina Silva, que foi candidata à Presidênci­a pela Rede Sustentabi­lidade. Ela quase chegou ao segundo turno em 2014 numa disputa apertada com Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), mas se distanciou do mundo político nos últimos quatro anos. Marina voltou a se candidatar neste ano, sua terceira vez, mas acabou com apenas 1% dos votos válidos.

Desafio. O principal desafio de Ciro Gomes e do PDT, no entanto, será se afastar do PT sem perder apoio do campo progressis­ta, o que já tem causado rusgas para sua imagem. Para se distanciar do PT, Ciro ignorou os pedidos para participar da campanha de Haddad. A escolha de viajar com a família para Europa logo após o primeiro turno rendeu críticas entre seus eleitores. Pressionad­o a gravar uma declaração a favor do petista, disse que não estava neutro, mas que não declararia apoio ao petista por uma razão “muito prática”, que não revelaria.

Ontem, voltou a dizer que não faria campanha com o PT “nunca mais”. “A quem que eu estou devendo essa presença? Estou devendo ao PT?”, questionou ele, após votar em Fortaleza (CE).

Nesse contexto, a opção de se apresentar como centro-esquerda, termo usado por seu irmão Cid Gomes (PDT-CE), senador eleito, também está longe de ser uma unanimidad­e dentro do partido. Para evitar a polêmica, Lupi e outras lideranças têm evitado falar de Ciro como uma nova alternativ­a ao PT ou à esquerda. Um dos principais aliados de Ciro, o deputado André Figueiredo (PDTCE) evitar falar em “centro-esquerda”. “Temos quatro anos para trabalhar um projeto diferente dos outros. Ele (Ciro) se configura como uma alternativ­a dentro do campo progressis­ta. Não gosto de rotular como de esquerda ou de centro, gosto de colocar no campo democrátic­o e progressis­ta”, disse Figueiredo.

O Ciro saiu realmente maior do que entrou. As pessoas puderam ver como ele está preparado. Infelizmen­te, o PT preferiu apostar na sua ida ao segundo turno, mesmo sabendo que perderia.” André Figueiredo

DEPUTADO FEDERAL (PDT-CE)

 ?? JARBAS OLIVEIRA/ ?? Disputa na oposição. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), candidato derrotado à Presidênci­a da República no primeiro turno, deixa cabine de votação em posto de Fortaleza (CE)
JARBAS OLIVEIRA/ Disputa na oposição. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), candidato derrotado à Presidênci­a da República no primeiro turno, deixa cabine de votação em posto de Fortaleza (CE)

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