O Estado de S. Paulo

Pedetista é um ‘derrotado vitorioso’

- Rodrigo Prando

Terminado o pleito eleitoral cuja eleição atípica, paradigmát­ica mesmo, foi assentada muito mais em rejeição, medo e ódio do que em propostas concretas para o País, temos a vitória de Jair Bolsonaro e a derrota de Fernando Haddad. Há, todavia, um derrotado com elementos de vitória: Ciro Gomes. A política é repleta de oximoros como este: Ciro é um “derrotado vitorioso”.

Ciro foi, nesta disputa, o nome mais qualificad­o da esquerda. Não teria como superar a onda bolsonaris­ta e nem a força do PT, especialme­nte no Nordeste. Mas seu terceiro lugar o qualifica, sem dúvida, a iniciar a segunda-feira como um nome de oposição ao governo Bolsonaro e, mais ainda, uma oposição diferencia­da, distante do PT e do lulismo. Não nos esqueçamos que Lula, preso, articulou o isolamento de Ciro e seu partido, o PDT, nesta eleição.

Findado o primeiro turno, Haddad quis uma “frente democrátic­a” contra Bolsonaro. Visou, em primeiro lugar, Ciro e seus votos, depois, Marina Silva e, por fim, Fernando Henrique Cardoso. Nenhum deles, contudo, ressentido­s não com Haddad, mas com o PT e Lula, lhe estenderam a mão. Ciro, inclusive, declarou apoio crítico e viajou para o exterior. Voltou e não consignou o apoio que os petistas esperavam. Animal político que é, Ciro sabe que seu capital eleitoral e sua trajetória não poderiam ser ligadas ao candidato preposto de Lula. Quis – e quer – ser uma importante voz na oposição a Bolsonaro. E será, certamente.

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