A trajetória da futura primeira-dama
Discreta durante toda a campanha, Michelle deve se envolver em causas sociais, mas sem cenas de protagonismo
No primeiro pronunciamento de Jair Bolsonaro após ser eleito presidente, em transmissão ao vivo via rede social, Michelle de Paula Firmino Reinaldo estava ao lado do marido. Avessa a entrevistas e aparições públicas, ela é mãe da filha caçula dele, Laura, de 8 anos, e se manteve discreta durante toda a campanha. Apareceu em propaganda de TV só na última quinta-feira, suavizando a imagem de Bolsonaro e o descrevendo como “um cara humano” e “brincalhão”.
Fluente na Língua Brasileira de Sinais, Michelle tem se apresentado como uma defensora dos direitos das pessoas com necessidades especiais. Fez a ligação de Bolsonaro com essa comunidade, incentivando-o a assinar um termo de compromisso para melhorar a qualidade de vida dos deficientes.
Na reta final da corrida presidencial, Michelle foi apresentada como uma possível primeira-dama ligada a projetos sociais, “uma mulher forte e sensível que estará com Jair Bolsonaro trabalhando pelo Brasil”, como descrito na propaganda. Evangélica praticante, ela é frequentadora da Igreja Batista Atitude, na Barra da Tijuca, bairro da zona oeste do Rio onde fica o condomínio à beiramar em que o casal mora.
De personalidade forte ao menos no ambiente familiar, temida pelo círculo de aliados mais próximos, Michelle segue as características das últimas duas primeiras-damas brasileiras. Ela já avisou ao marido e à sua equipe que não vai se arriscar em discursos e cenas de protagonismo, como Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e Marcela, casada com o presidente Michel Temer.
Os dois têm uma diferença de idade de 27 anos – ele tem 63; ela, 36. Filha de um migrante cearense e criada em Ceilândia, cidade pobre do Distrito Federal, Michelle cursou até o ensino médio e tem experiência em trabalho administrativo na Câmara. Foi onde conheceu e começou a namorar Bolsonaro em 2006. Ela era secretária na sala da liderança do PP. Michelle, então, foi levada pelo deputado para trabalhar em seu gabinete. Dois meses depois, casaram-se no papel. Em 2008, com a súmula do Supremo Tribunal Federal que impedia o nepotismo no serviço público, ela deixou o cargo.
Foi Michelle que levou o marido, católico, para a nova corrente religiosa, que acabou por lhe render parte de sua votação expressiva. O deputado registrou a filha dela, de um relacionamento anterior, hoje adolescente – ele já disse em gravações que ela era “mãe solteira”. Bolsonaro foi batizado no Rio Jordão, em Israel, em 2016, pelo pastor Everaldo Dias, da Assembleia de Deus e presidente do PSC. Ele romperia com o partido em 2017.
Uma das condições impostas por Michelle para que o relacionamento se tornasse sério era que os dois se casassem no papel. Outra foi que ele revertesse a vasectomia que havia feito, pois ela tinha o desejo de ser mãe novamente.
Em 2008, os dois se casaram no civil, em regime de separação de bens. Em 2010, nasceu Laura, a única filha depois de quatro homens – “no quinto (filho) eu dei uma fraquejada, e veio uma mulher”, já declarou Bolsonaro.
Em 2013, Michelle e Jair fizeram uma festa para comemorar o enlace, com direito a cerimônia ministrada pelo pastor Silas Malafaia e capas de revistas de noiva.
O casamento com Michelle marcou também uma mudança na trajetória política de Bolsonaro, que, na eleição do ano seguinte, teve 460 mil votos para mais um mandato na Câmara. Nas disputas anteriores, sem o voto evangélico, foi eleito com média de 100 mil votos.
Quando o casal se mudou para a residência da Barra, Michelle passou a frequentar a igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, de Malafaia, no bairro. A ruptura política de Bolsonaro e do bispo, em 2016, levou Michelle a frequentar a nova igreja. No bairro, o casal costuma ir à praia, em frente ao condomínio, e à pizzaria Fratelli, onde comem massa e tomam apenas sucos e refrigerantes.
Rótulos. Durante a campanha, quando assessores pediam que ela ajudasse a reverter os rótulos de misógino e machista, Michelle brincava: “Por mim, ele nem seria candidato. Só vai ser por uma causa nobre.” Ela também procurou afastar os políticos de casa. Os encontros ocorriam na residência ao lado, do vereador licenciado Carlos, filho de Jair.
No dia 5 de setembro, Bolsonaro fez homenagem à mulher. Em carreata na cidade natal dela, perguntou: “Vamos ter uma primeira-dama de Ceilândia ou não vamos?”