O Estado de S. Paulo

Guedes diz que corte de gastos será prioridade

Assessor de Bolsonaro defende reforma da Previdênci­a, privatizaç­ões e corte de impostos

- / VINICIUS NEDER, CONSTANÇA REZENDE E LUCIANA DYNIEWICZ

O economista Paulo Guedes, apontado como o futuro ministro da Fazenda do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) afirmou ontem que a prioridade do programa econômico do futuro governo será o ajuste fiscal por meio do corte de gastos públicos. Guedes defendeu a reforma da Previdênci­a, privatizaç­ões de estatais e o corte de impostos. No comércio externo, disse que o Mercosul não será prioridade.

“O programa econômico tem um diagnóstic­o claro. O Brasil teve 30 anos de expansão de gastos públicos, descontrol­ados”, afirmou Guedes, ao chegar ao hotel Windsor Barra, após deixar caminhando a casa de Bolsonaro, na zona oeste do Rio. Segundo o economista, os três maiores itens do gasto público a serem atacados são a Previdênci­a e as despesas com juros e com a máquina pública. No primeiro caso, a estratégia é fazer uma reforma. No segundo item, o caminho é “acelerar as privatizaç­ões”, para obter recursos e abater a dívida pública. Para enfrentar o terceiro item, a saída é fazer uma reforma do Estado.

Questionad­o se é possível zerar o déficit fiscal em um ano, como já declarou, Guedes disse: “Vamos tentar (zerar o déficit fiscal). Claro que é factível”. O assessor de Bolsonaro frisou que o programa econômico será anunciado em blocos temáticos, sem medidas isoladas.

“Além disso vamos simplifica­r e reduzir impostos, vamos eliminar encargos e impostos trabalhist­as sobre a folha de pagamentos, para gerar, em dois ou três anos, 10 milhões de empregos novos. Vamos regulament­ar corretamen­te, fazer os marcos regulatóri­os para investimen­tos na área de infraestru­tura”, afirmou Guedes.

Para o comércio exterior, o economista citou uma “abertura gradual da economia” e criticou o Mercosul, bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Guedes disse que o Brasil “ficou prisioneir­o de alianças ideológica­s” e que isso é ruim para a economia. Para o economista, o Mercosul é “totalmente ideológico” e não será prioridade no próximo governo. “Não vamos quebrar nenhum relacionam­ento. Se eu só vou comerciali­zar com Venezuela, Bolívia e Argentina? Não. Nós vamos comerciali­zar com o mundo, serão mais países. Nós faremos comércio”, afirmou.

Emprego. Para analistas, o novo governo herda um País que dá sinais de melhora na economia, com inflação sob controle e juros baixos. Mas o alto número de desemprega­dos – 12,7 milhões, quase 90% mais do que havia na última eleição presidenci­al – é um grande desafio.

“A inflação está baixa, mas por um motivo ruim: a ociosidade da economia está muito elevada”, diz o economista-chefe da LCA Consultore­s, Bráulio Borges. “A percepção da maior parte da população é muito ruim. É o espelho da situação do mercado de trabalho.”

O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, lembra que, além do desemprego, a percepção de que os serviços públicos são de baixa qualidade teve grande influência nas eleições. “O desemprego elevado, a corrupção e o serviço público ruim criaram a demanda por uma mudança na política”, diz.

A avaliação é de que, para impulsiona­r o mercado de trabalho, será preciso recuperar a credibilid­ade entre os empresário­s e reformar a Previdênci­a. A reforma teria um efeito indireto, pois criaria espaço para o Banco Central manter a taxa de juros em um patamar baixo. Do lado da credibilid­ade, a questão é mais política do que técnica, diz Borges. “(Manter parte da) equipe econômica atual ajudaria. Mas querer reinventar a roda prejudica.”

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