O Estado de S. Paulo

Eleição deve levar euforia ao mercado, com disparada da Bolsa

Projeções são de que a Bolsa pode chegar aos 100 mil pontos até o fim do ano; dólar deve ter queda expressiva

- Eduardo Laguna Luciana Dyniewicz

Com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) confirmada nas urnas, a previsão de analistas é que tenha início uma fase de lua de mel do mercado financeiro com o presidente eleito. Alimentado pelo otimismo que os investidor­es nutrem pela agenda liberal prometida por Bolsonaro – ou pelo alívio de que o PT não voltará ao poder –, as projeções são de que a Bolsa de Valores pode chegar em pouco tempo aos 100 mil pontos, com uma queda expressiva da cotação do dólar.

Na sexta-feira, último pregão antes da eleição, o Ibovespa, principal índice de ações da B3, a bolsa de valores de São Paulo, já tinha alcançado 85,7 mil por força, em grande parte, da tendência, mostrada pelas pesquisas de intenção de voto, de vitória do capitão reformado.

Ontem, com a abertura das bolsas asiáticas, já foi possível ter um termômetro das reações dos investidor­es ao resultado das eleições no Brasil. O fundo que replica ações do Ibovespa (ETF) negociado na Bolsa de Tóquia subia mais de 13% às 22h de ontem (horário de Brasília).

Para Celson Plácido, estrategis­ta-chefe e sócio da XP Investimen­tos, o dólar deve cair 2% hoje e a Bolsa subir cerca de 5%, já se aproximand­o dos 90 mil pontos. Segundo ele, a percepção dos investidor­es em relação ao discurso do presidente eleito será positiva. “A palavra liberdade foi a mais utilizada. Além de ele ter mencionado ‘pacificaçã­o’.”

Menos de uma hora após Bolsonaro ter sido matematica­mente eleito, a XP Investimen­tos publicou um guia pós-eleições no qual ratifica a previsão de um Ibovespa na casa de 90 mil a 100 mil pontos até o fim do ano, sob a justificat­iva de que o mercado dará o “benefício da dúvida” de que o presidente eleito entregará um governo reformista e liberal.

Potencial. Para Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da corretora Nova Futura, ainda que a vitória de Bolsonaro já tenha sido em parte antecipada nos preços dos ativos, há potencial para a Bolsa avançar ainda mais. Ele sustenta que grande parte dos investidor­es estrangeir­os estava esperando o resultado final da eleição para “entrar” no rali brasileiro e a tendência de queda dos juros futuros tende a dar força ao mercado de renda variável.

“A lua de mel vai atuar forte a partir de agora. A principal preocupaçã­o de qualquer gestor estrangeir­o agora é fazer realocação ao Brasil. Não vão esperar pelas nomeações de ministros ou pela definição de quem vai ser o presidente do Banco Central. O gestor nem vai olhar para programa de governo, vai correr para ativo brasileiro num primeiro momento”, diz Silveira, para quem o Ibovespa caminhará para a faixa de 90 mil a 95 mil nas próximas semanas. A ressalva dele é que essa subida poderá ser contida pelo aumento da percepção de risco no exterior.

Economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves avalia que previsões como as feitas pela XP fazem sentido. Segundo ele, os próximos três dias devem ser de forte “puxada” na Bolsa e queda do dólar, mas há chance de o bom humor dos investidor­es ser de curta duração. Para Gonçalves, em pouco tempo, as preocupaçõ­es dos investidor­es com a situação fiscal do País vão se impor, levando o mercado a devolver parte da subida dos ativos.

Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora ModalMais, concorda que, apesar da provável alta no mercado hoje, o mercado pode ficar instável nos próximos dias, até que a equipe de governo esteja completame­nte definida. O economista-chefe da Guide Investimen­tos, João Mauricio Rosal, destaca, porém, que os temas equilíbrio fiscal e ambiente favorável aos negócios apareceram no discurso de Bolsonaro de forma mais forte que se esperava. “Pareceu ser um compromiss­o pessoal dele. Ainda havia dúvidas em relação a essa agenda.”

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