O Estado de S. Paulo

Com Zema em Minas, Novo leva primeiro governo

Empresário obteve 71,8% dos votos e derrotou o tucano Antonio Anastasia; ontem, disse que a ‘política deve ser democratiz­ada’

- Jonathas Cotrim BELO HORIZONTE

Depois de surpreende­r no primeiro turno e tirar o governador Fernando Pimentel (PT) da segunda fase da disputa, Romeu Zema derrotou ontem o senador Antonio Anastasia, do PSDB, e se tornou o primeiro governador eleito pelo partido Novo no País.

Zema obteve 71,8% dos votos válidos, enquanto Anastasia ficou com 28,2%. Em sua primeira disputa eleitoral, o empresário procurou se colocar como alternativ­a para “os mesmos políticos de sempre” e se apresentou como “gestor”. Sua principal proposta de governo é enxugar a máquina pública, com corte de cargos, secretaria­s e privilégio­s.

“Sou o primeiro governador a ser eleito sem o apoio da classe política. A política deve ser democratiz­ada, não pode pertencer a um grupo”, disse ontem, durante entrevista após ser anunciado vencedor, ao lado do vice, Paulo Brant, e do presidente nacional do Novo, João Amoêdo.

Zema afirmou que começará a trabalhar hoje na transição de governo e que tem total liberdade para escolher o secretaria­do. O governador eleito pediu a união dos mineiros para recuperar o Estado dos problemas financeiro­s e afirmou que fará “a gestão mais transparen­te da história de Minas”.

“Cada cafezinho que eu gastar com o dinheiro do Estado, quero que seja lançado para o povo saber com o que estou gastando”, afirmou.

Durante a campanha, ele se compromete­u, em cartório, a só receber o salário depois que os servidores, que estão com os pagamentos escalonado­s, receberem os vencimento­s.

De acordo com analistas ouvidos pela reportagem, a eleição de Zema é explicada pelo desgaste da polarizaçã­o entre PT e PSDB, partidos que comandaram o Estado nos últimos 16 anos, o que abriu margem para busca de uma candidatur­a que representa­sse “renovação”. “Isso expressa a vontade da população em superar a crise”, disse o pesquisado­r do Centro de Estudos Legislativ­os da Universida­de Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas Cunha.

Para o professor de Ciências Políticas da PUC-MG, Malco Camargos, a marca da campanha eleitoral em Minas foi a busca por uma terceira via, e Zema foi impulsiona­do na ausência de forças alternativ­as à tradiciona­l polarizaçã­o no Estado. “É uma vitória antissistê­mica. Zema é alguém que se considerou de fora da política.”

Crise. Romeu Zema terá como principal desafio resolver a grave crise financeira do Estado, que se arrasta desde 2016. Ele herdará um orçamento com previsão de déficit de R$ 11,4 bilhões. O governo de Minas também tem uma dívida com as prefeitura­s estimada em R$ 9,4 bilhões pela Associação Mineira de Municípios.

Além da questão financeira, Malco Camargos acredita que o governador terá dificuldad­e em

conseguir apoio na Assembleia Legislativ­a – seu partido elegeu três deputados, além de propor uma forma diferente de governar, que não envolva negociaçõe­s com bancadas, mas com cada parlamenta­r. “Esse cenário de negociação individual traz incertezas, e não é possível prever o que cada deputado vai querer”, analisa o cientista político.

Empresas. Empresário de 54 anos, Zema nasceu em Araxá, na região do Triângulo Mineiro, e comandou por mais de 15 anos o Grupo Zema, empresa familiar que tem mais de 850 estabeleci­mentos em nove Estados.

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LEO FONTES/O TEMPO Empresário.Zema (centro)comemora a vitória ao lado de Amoêdo (de branco)

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