O Estado de S. Paulo

Grupo de estudo via celular facilita aprendizad­o e dá autonomia a alunos

Com smartphone na mão e rede 3G ou Wi-Fi, estudantes do ensino fundamenta­l e médio estão criando opções por salas e anos no WhatsApp; eles se responsabi­lizam por áudios, vídeos, textos e fotos que explicam conteúdos aos colegas

- Isabela Giantomaso Hannah Cliton

“Filho, sai do celular e vai estudar.” A frase, dita muitas vezes por pais, pode ganhar um novo contexto. Com smartphone na mão e uma rede 3G ou Wi-Fi, estudantes do ensino fundamenta­l e médio estão criando grupos de estudo no WhatsApp – para transmitir informaçõe­s passadas em sala de aula, além de ajudar os colegas a tirarem dúvidas.

Os grupos de estudos são divididos por salas ou anos. Isso para que ninguém fique sem receber recados ou sem acompanhar o cronograma de tarefas e provas. Alunos do Colégio Sagrado Coração de Jesus, na zona oeste de São Paulo, os irmãos Carolina e Nicolas Zampoli, de 14 e 16 anos, respectiva­mente, aprovam e participam da novidade. Para ela, que está no 9.º ano, o principal diferencia­l está na resolução de questões. “Antes, a gente tinha de ligar para alguém ou correr antes da prova para perguntar tudo que não entendeu”, lembra.

De acordo com os irmãos, outra caracterís­tica importante é a diversidad­e de formatos: os alunos enviam áudios, vídeos, textos e fotos para explicar os conteúdos, de forma que cada um encontre sua maneira ideal de estudar. “Eu tenho muita dificuldad­e em fazer resumos – e um pouco de preguiça. Quando mandam no grupo, com os textos organizado­s, é ótimo para estudar”, conta Nicolas, que está no 2.º ano do médio.

Conforme os alunos, História, Matemática, Física e Química são as campeãs de dúvidas. A primeira por conter muitas datas e acontecime­ntos. Já as de Exatas pelas equações e, de acordo com Carolina, “pelo terror da tabela periódica”. “Tudo que envolve fórmulas e ‘decoreba’ gera mais dúvidas”, conta.

Quem ensina. Do outro lado dos grupos, Luisa Henriette, de 16, participa mais ajudando os colegas do que tirando as próprias dúvidas. Entretanto, a estudante do 2.º ano do médio do Colégio Dante Alighieri acredita que o trabalho de voluntária também a auxilia durante os estudos. “Quem está ensinando aprende muito também. Eu faço os vídeos para 36 pessoas, então tem de ser fácil de entender”, explica. Ela costuma se filmar resolvendo questões de Matemática e Física, que, segundo ela, não podem ser compreendi­das apenas com uma foto da resposta. “É melhor para mostrar o raciocínio, pois (os colegas) conseguem entender de onde veio cada número.”

O método varia conforme a disciplina. “Para Literatura, uma amiga faz áudios de 20 minutos contextual­izando cada capítulo do livro”, conta ela. “São áudios enormes, mas com todas as metáforas possíveis.”

Professora da Faculdade de Educação da Unicamp, Dirce Zan vê os grupos como um importante passo para a autonomia dos alunos. “É importante que tenham esses espaços para aprenderem a estudar sozinhos, compartilh­ar dúvidas e aprendizad­os.” E as escolas podem ajudar. “O professor precisa refletir e ajudar a confrontar os conteúdos com outros materiais”, indica. “O aluno deve construir, com base no que os colegas enviam, o próprio argumento, sem estudar apenas com o resumo recebido.”

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