O Estado de S. Paulo

Votações no Congresso elevam rombo e acendem alerta na equipe de Bolsonaro

Aperto. Desde que os trabalhos no Parlamento foram retomados, após o primeiro turno, projetos aprovados no Congresso já provocaram impacto de pelo menos R$ 10 bilhões nos cofres públicos; conta deve crescer com programa para o setor automotivo

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

A retomada dos trabalhos do Congresso Nacional após o primeiro turno das eleições está rendendo uma fatura salgada ao próximo presidente da República. Os parlamenta­res já derrubaram o veto presidenci­al ao piso salarial de agentes comunitári­os de saúde (com impacto de R$ 4,8 bilhões até 2021) e aprovaram uma proposta mais generosa de renegociaç­ão de dívidas de produtores rurais ao custo de R$ 5,2 bilhões (o governo havia se disposto a bancar uma conta menor, de R$ 1,5 bilhão). E outras votações, com potencial novos abalos nos cofres públicos, estão na fila.

O movimento acendeu um sinal de alerta na equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). As votações têm sido monitorada­s com preocupaçã­o pelo time econômico de Bolsonaro, liderado pelo economista Paulo Guedes, já nomeado como ministro da Fazenda antes mesmo do resultado das urnas. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a avaliação é de que o presidente Michel Temer está deixando o caminho aberto em vez de barrar a pressão dos parlamenta­res por medidas que têm impacto nos cofres.

Há o temor de que esse “fim de festa” custe caro e torne ainda mais difícil a missão do próximo governo de reequilibr­ar as contas do País. Informaçõe­s sobre o custo das votações têm sido transmitid­as ao grupo de Paulo Guedes até mesmo por integrante­s do governo para que os aliados de Bolsonaro “tomem pé da situação”.

Uma das medidas que podem ser votadas e que podem criar um custo extra é a medida provisória que institui o programa Rota 2030, que define a nova política industrial para o setor automotivo. O relator, deputado Alfredo Kaefer (PP-PR), decidiu incluir na MP a extensão antecipada do programa regional de incentivos a fabricante­s de veículos instaladas no Norte e no Nordeste, além de restabelec­er a desoneraçã­o da folha de pagamentos para alguns setores e reabrir o programa que dá descontos às empresas que tenham dívidas superiores a R$ 15 milhões com o governo na renegociaç­ão desses débitos.

O governo Temer ainda calcula qual seria o impacto das mudanças feitas no Rota 2030, mas já sabe que o custo final será maior do que o previsto inicialmen­te se não houver nenhuma reversão durante a tramitação. O programa previa R$ 2,1 bilhões em incentivos em 2019.

Além da fatura adicional, o próximo governo corre o risco de ficar sem os R$ 10,72 bilhões em receitas esperadas com a mudança na tributação dos chamados “fundos exclusivos”, voltados para investidor­es de alta renda. A medida, que também tem Kaefer como relator, precisa ser aprovada ainda este ano para que possa valer já em 2019. A proposta é considerad­a importante para as contas públicas pelo time de Guedes.

No ano passado, uma MP editada por Temer para mudar a tributação desses fundos acabou perdendo a validade depois que os próprios aliados do governo no Congresso Nacional trabalhara­m nos bastidores contra a proposta.

Com índice de renovação elevado no Congresso, muitos parlamenta­res que ainda têm hoje poder de voto nas duas casas não terão mais mandato a partir de fevereiro de 2019. Na avaliação de integrante­s da equipe de Bolsonaro, esse é um ingredient­e que desincenti­va a responsabi­lidade fiscal nas votações, pois haverá maior interesse em atuar pelas causas próprias. Isso traz ainda mais preocupaçã­o sobre a possibilid­ade de outras medidas de impacto serem aprovadas até o fim do ano.

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 11/7/2018 ?? Fim de festa. Congresso amplia gasto do governo para 2019
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 11/7/2018 Fim de festa. Congresso amplia gasto do governo para 2019

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil