O Estado de S. Paulo

Medidas elevam conta de luz em 3%

Decisões do Ministério de Minas e Energia repassam custos de R$ 4,8 bi aos consumidor­es

- Anne Warth / BRASÍLIA

A dois meses do fim do governo Michel Temer, o Ministério de Minas e Energia decidiu propor medidas polêmicas que podem trazer custo de R$ 4,8 bilhões aos consumidor­es de energia e aumento de quase 3% na conta de luz, segundo a Associação Brasileira de Grandes Consumidor­es de Energia (Abrace).

Entre as ações propostas está o acionament­o de usinas térmicas a gás, que hoje estão paradas devido ao custo fixo elevado, e a realização de um leilão para contrataçã­o de térmicas na modalidade de reserva, sob a justificat­iva de elevar a segurança do sistema. O governo também aprovou uma resolução que dobrou o preço da energia da usina nuclear de Angra 3, cujas obras foram interrompi­das após o envolvimen­to de empreiteir­as em denúncias de corrupção.

O presidente da Abrace, Edvaldo Alves de Santana, questiona o momento para o governo adotar políticas que elevam o custo da energia em meio ao calendário eleitoral. Outro ponto é a tentativa de acionar térmicas mais antigas e caras em outubro, início do período chuvoso, o que já permitiu a adoção da bandeira amarela nas contas de luz em novembro, reduzindo o valor extra pago nas contas.

Segundo a Abrace, o reajuste de Angra 3 vai adicionar um custo de R$ 2,5 bilhões por ano nas contas de luz, depois que a usina estiver pronta. A contrataçã­o das térmicas mais antigas deve adicionar outros R$ 300 milhões por ano. “Acho incompreen­sível a pressa para implementa­r as medidas, além de deselegant­e com o governo que vai entrar. Tem tanto equívoco que se corre o risco de gastar com térmicas no período de chuvas”, disse Santana.

Na semana passada, o governo também lançou, para consulta pública, uma portaria e um decreto que permitiria­m a realização de uma licitação para termoelétr­icas, mas numa modalidade inédita. Uma vez que os estudos de planejamen­to energético indicam sobra de energia, o governo pretende realizar um leilão para contrataçã­o de potência associada à energia de reserva, sob a justificat­iva de elevar a segurança do sistema no Nordeste, Sudeste, CentroOest­e e Sul.

Especialis­tas consultado­s pelo Estadão/Broadcast avaliam que o leilão não tem base legal, pois a lei não prevê essa modalidade de contrataçã­o. Fontes destacam a falta de rumo do ministério, que se propôs a lançar um programa para reduzir a conta de luz, mas adota medidas isoladas que vão no sentido contrário, em atendiment­o a interesses de setores específico­s.

Questionad­o, o Ministério de Minas e Energia reconheceu que a consultori­a jurídica do MME “ainda não se debruçou sobre o mérito jurídico de tal proposição” e que só vai se pronunciar após a consulta pública em curso. Fontes ouvidas pela reportagem consideram improvável que o novo governo aceite fazer a licitação nessas condições.

O coordenado­r do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro, alerta para o custo das medidas. “É um grupo de medidas que reforça a tendência de aumento de tarifas para os consumidor­es”, afirmou. “Por que essa ansiedade para fazer um leilão para contratar térmicas agora, se todo o planejamen­to do setor é de longo prazo?” No caso do leilão das térmicas, serão R$ 2 bilhões por ano a cada 1 mil MWs contratado­s, diz a Abrace.

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UESLEI MARCELINO / REUTERS - 8/6/2016 Nuclear. Pasta de Moreira Franco aprovou ampliação de gastos com Angra 3

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