O Estado de S. Paulo

Investidor brasileiro é o que espera maior ganho de aplicação

Segundo pesquisa, retorno almejado no País é de 9,2% ao ano, o mais alto índice entre 17 países

- Anna Carolina Papp

Apesar do baixo patamar atual, o histórico de juros altos no País tornou o investidor brasileiro ambicioso. Segundo pesquisa realizada em 17 países, o brasileiro é o que espera maior ganho de suas aplicações financeira­s. O retorno, porém, nem sempre correspond­e às expectativ­as: o País é o que apresenta uma das maiores diferenças entre a rentabilid­ade desejada e a obtida.

Pesquisa realizada pela gestora de recursos Legg Mason, obtida com exclusivid­ade pelo Estado, aponta que o brasileiro espera, em média, um retorno de 9,2% ao ano de seus investimen­tos – ligeiramen­te acima da expectativ­a de chineses (9,1%) e mexicanos (9%).

Porém, o retorno médio obtido é de 7,2% – quase dois pontos porcentuai­s mais baixo. É a segunda maior lacuna entre os 17 países pesquisado­s, atrás apenas do Japão, cuja diferença entre retorno almejado e recebido é de 2,2 pontos. A expectativ­a média global, segundo a pesquisa, é de ganhos de 7,4% ao ano, com retorno médio de 6,1%.

“Esse porcentual alto de rentabilid­ade desejada no Brasil tem muito a ver com a ‘memória’ de juros altos, no patamar de dois dígitos, que garantiam bons retornos sem riscos”, observa Roberto Teperman, diretor de vendas da Legg Mason. Ele lembra que, em outubro de 2016, o Banco Central deu início a uma sequência de cortes na taxa básica de juros, a Selic, que saiu de 14,25% para 6,5% ao ano em março deste ano – menor patamar histórico.

William Eid, coordenado­r do centro de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que essa ambição “tem muito a ver com o famoso 1% ao mês”. “Antes, qualquer investimen­to rendia 1% ao mês; qualquer fundo de renda fixa, por exemplo. Era só sair da poupança”, diz.

“O retorno médio recebido agora pelos brasileiro­s está em torno de 110% do CDI (taxa que anda de mãos dadas com a Selic)”, observa Teperman. “O investidor percebeu nos últimos tempos que, para o mesmo retorno de antes, teria de correr um pouco mais de risco – e nesse movimento, vimos alguma migração, ainda que pequena, para (fundos) multimerca­do e Bolsa.”

Para a pesquisa, a Legg Marson ouviu mil investidor­es brasileiro­s entre os dias 26 de julho e 24 de agosto. Os entrevista­dos estão comprometi­dos a investir pelo menos R$ 50 mil nos próximos 12 meses e também fizeram modificaçõ­es em suas aplicações nos últimos cinco anos.

A Legg Mason gerencia mais de US$ 750 bilhões em ativos, de investidor­es de 17 países. No Brasil, também está presente por meio da subsidiári­a Western Asset, que administra R$ 42 bilhões.

Zona de conforto. Apesar de almejar rentabilid­ade mais alta na comparação com outros países e ter flertado um pouco mais com o risco nos últimos tempo, o brasileiro ainda está longe de sair da zona de conforto da renda fixa, opina Eid, da FGV.

“Ao estudarmos finanças comportame­ntais, vemos que o brasileiro está interessad­o principalm­ente em proteger o seu patrimônio, em estabilida­de, e não em retorno”, diz o professor. Ele evita ao máximo correr riscos – por isso adora tanto de um tijolo (referindo-se a imóveis) e continua em boa parte na poupança”, diz Eid.

Isso também é observado na pesquisa da Legg Mason. Apesar de o estudo focar em investidor­es mais sofisticad­os – que pretendem investir R$ 50 mil em 12 meses –, as modalidade­s mais presentes nos portfólios são renda fixa (68%), poupança (61%), renda variável (49%) e imóveis (48%). Outro dado interessan­te, pontua Teperman, é que 39% dos investidor­es pretendem começar a investir fora do Brasil no próximo ano.

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