MP apura pedido de deputada por imagens de aulas
Eleita pelo PSL-SC, Ana Campagnolo orientou alunos a registrarem condutas ‘ideológicas’ dos professores
O Ministério Público de Santa Catarina vai apurar a conduta da deputada estadual eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL), que pediu que alunos filmassem professores e denunciassem condutas tidas por ela como “ideológicas”.
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) vai apurar a conduta da deputada estadual eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL), que pediu para que alunos filmassem seus professores em sala de aula e denunciassem condutas consideradas por ela como “ideológicas”. Na noite de domingo, Ana Caroline postou mensagem nas redes sociais pedindo para que os vídeos fossem enviados para seu número de telefone celular, com o nome do docente, da escola e da cidade.
A promotoria quer verificar “possível violação ao direito à educação dos estudantes catarinenses para adoção das medidas cabíveis”. Ana Caroline é professora de História da rede estadual em Chapecó, tem 27 anos e foi eleita defendendo o projeto Escola sem Partido. Sua campanha foi feita basicamente pela internet, com vídeos em que ela critica o que chama de “doutrinação” de professores.
Na publicação, a deputada estadual eleita argumenta que “professores e doutrinadores estarão inconformados e revoltados” com o resultado da eleição de Jair Bolsonaro (PSL). “Muitos deles não conterão sua ira e farão da sala de aula um auditório cativo para suas queixas político partidárias”, escreveu.
Em vídeo de 2016, Bolsonaro pediu que os estudantes fizessem o mesmo. “Um recado que dou para a garotada de todo o País: vamos filmar o que acontece nas salas de aula e vamos divulgar. Os seus pais, os adultos, têm o direito de saber o que esses professores, entre aspas, ficam fazendo com você em sala de aula”, disse.
O Estado entrou em contato com a deputada, mas ela não respondeu. Ana Caroline disse ontem à Rádio Chapecó que conhece Bolsonaro há cinco anos e que concorda com quase todas as suas ideias. A aprovação no Congresso do projeto Escola Sem Partido – que quer proibir discussões sobre políticas, sexualidade e gênero nas escolas – é uma das bandeiras do presidente eleito.
O ministro da Educação, Rossieli Soares, disse ao Estado que “esse não é caminho adequado para problemas dentro da escola”. “Há canais na diretoria, nas secretarias municipal e estadual para denúncias.” Dois membros do Conselho Nacional de Educação (CNE) também criticaram a atitude da deputada. “É preciso tomar cuidado porque isso pode descambar para uma censura da atividade docente”, disse o exsecretário de educação de Santa Catarina Eduardo Deschamps.
Para outro conselheiro do CNE, Francisco Soares, a proposta é o oposto do que se quer para uma educação de qualidade. “O importante é incentivar os alunos a pensar, questionar, refletir. E não a achar que sabe tudo e pode denunciar.”
Lei. Em Santa Catarina, há uma lei que impede que os alunos entrem com celulares nas aulas. Para resolver essa questão, Ana Caroline sugeriu que eles levassem “gravadores ou câmeras”.