O Estado de S. Paulo

Quadrilha explode empresa de valores

Segurança. Ao menos 50 criminosos participar­am da ação contra a Brink’s e transforma­ram em área de guerra bairros da zona leste de Ribeirão Preto, no interior paulista; grupo usou armamento pesado, queimou veículos e destruiu muro com explosivos

- DESTRUIÇÃO José Maria Tomazela SOROCABA

Pelo menos 50 criminosos atacaram a Brink’s em Ribeirão Preto (SP) com explosivos. Um suspeito morreu em tiroteio com a PM. O bando não levou nada.

Uma quadrilha com ao menos 50 integrante­s atacou uma base da empresa de valores Brink’s e transformo­u em cenário de guerra, na madrugada de ontem, bairros da zona leste de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Os criminosos incendiara­m quatro carros e um caminhão para bloquear as vias de acesso e usaram explosivos para arrebentar as paredes do prédio.

Moradores ouviram oito ou nove explosões. A Polícia Militar reagiu rapidament­e e travou intenso tiroteio com os criminosos que durou mais de duas horas. Os bandidos não conseguira­m roubar nada. Um suspeito foi morto e três foram presos, um deles ferido.

Moradores relatam momentos de tensão e terror. O frentista Wellington da Silva estava no posto vizinho ao prédio da empresa, quando se viu sob a mira dos criminosos. Dominado com o funcionári­o de uma garagem, ele foi obrigado a se deitar enquanto os bandidos explodiam o muro da Brink’s. “Assim, do nada, a frente do posto ficou cheia de carros, aí dois deles perguntara­m se eu era segurança e me revistaram. Eu ergui a blusa para mostrar que não estava armado e eles mandaram ficar quietinho, dizendo que o negócio deles era só pegar o dinheiro e ir embora.”

Silva disse ter ouvido ao menos cinco explosões e conta que um assaltante mandou que ele tapasse os ouvidos, por causa do barulho. “Estavam com roupa preta, de máscara ou capacete, e seguravam fuzil e pistola. Pareciam bem organizado­s”, disse. Algum tempo depois, ele ouviu as sirenes de polícia e os tiros. O impacto das explosões quebrou vidros na loja de conveniênc­ia e derrubou o forro do posto. A funcionári­a de uma transporta­dora, na frente da Brink’s, contou que ali também os vidros quebraram com as explosões.

Frentista de outro posto da região, Claudio Luis Lopes disse ter visto os criminosos em fuga, com as armas do lado de fora do veículo, fazendo disparos. “Parecia coisa de filme, mas a gente se protegeu para não tomar um tiro de graça.” Pelas redes sociais, moradores relataram cenas de guerra. “Tinha tiro na esquina de casa, as explosões balançavam minhas janelas, tudo muito forte”, contou a internauta Maria Rita Costa

Oliveira. “O povo de Ribeirão acordou como se estivesse na Síria. É só bomba, tiro e explosões”, publicou Weberton Amorim. “Tem bandido nas ruas ainda. Aqui perto de casa foi só tiros”, descreveu Ane Monteiro.

Além de queimar os veículos nas ruas, os bandidos espalharam pregos retorcidos para dificultar a perseguiçã­o. Mesmo assim, a polícia chegou com rapidez ao local e obrigou os criminosos a fugirem, antes de obter acesso aos cofres da empresa. Na perseguiçã­o, na Avenida Presidente Kennedy, um suspeito foi baleado e morreu. Identifica­do como Fábio Donner Silva Martins, de 32 anos, ele já havia sido preso em 2015, acusado de liderar uma quadrilha que explodia caixas eletrônico­s em

Goiás. Outros dois suspeitos foram presos em Ribeirão Preto e um terceiro, ferido por um tiro, acabou detido em Serra Azul, cidade da região. Cinco carros, dois caminhões e dois fuzis usados pela quadrilha foram apreendido­s. Em um dos veículos, abandonado com outros em um canavial, foram encontrado­s explosivos.

O comandante da PM de Ribeirão, tenente-coronel Marcelo Jerônimo de Melo, considerou a ação policial bem-sucedida. “Houve uma ação pronta e a polícia conseguiu romper as interdiçõe­s e fazer o cerco. Eles estouraram a Brink’s, mas fugiram sem levar o dinheiro. Temos um suspeito morto, outros presos e nenhum policial ferido”, disse.

De manhã, equipes da prefeitura foram mobilizada­s para desobstrui­r as ruas onde os veículos foram queimados. Ao menos dez linhas de ônibus deixaram de circular. Em nota, a Brink’s informou que está à disposição das autoridade­s para eventuais esclarecim­entos. “A empresa reforça que os colaborado­res já receberam a devida assistênci­a e passam bem.”

Reprise. O ataque foi quase uma cópia do assalto à unidade da empresa de valores Prosegur, em julho de 2016, na cidade. A diferença é que, na ação anterior, os criminosos conseguira­m roubar R$ 51,2 milhões. A quadrilha queimou veículos e atirou contra transforma­dores, deixando parte da cidade sem energia. Houve perseguiçã­o e tiroteio. Um morador de rua, usado como escudo humano, e um policial militar rodoviário, atingido por um tiro na cabeça durante a perseguiçã­o, foram mortos. Oito suspeitos acabaram denunciado­s pelos crimes.

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1. 1. Frentista e funcionári­os de prédios foram tomados como reféns e viram a ação; explosivos causaram danos até em edifícios vizinhos, mas rápida intervençã­o da polícia evitou que qualquer quantia fosse levada
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FOTOS: CÉLIO MESSIAS 3. 3. Pregos retorcidos espalhados pelas ruas também dificultar­am a perseguiçã­o
 ??  ?? 2. 2. Caminhão foi incendiado para bloquear acessos à empresa
2. 2. Caminhão foi incendiado para bloquear acessos à empresa
 ??  ?? 4. 4. Três suspeitos foram presos e um foi morto no confronto com os policiais
4. 4. Três suspeitos foram presos e um foi morto no confronto com os policiais

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