O Estado de S. Paulo

Cenário externo derruba os mercados

Bolsa ensaiou alta e dólar queda após vitória de Bolsonaro, mas reflexos de Wall Street apagaram euforia; Bolsa recuou 2,24% e dólar subiu

- / ANNA CAROLINA PAPP, PAULA DIAS E ALTAMIRO SILVA JUNIOR

O primeiro pregão da Bolsa após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) como próximo presidente da República foi uma verdadeira montanha-russa. O Índice Bovespa iniciou o dia apontando euforia, com alta de mais de 3%. Porém, foi perdendo força à tarde, com a preocupaçã­o, no exterior, de uma intensific­ação da guerra comercial. Com isso, a Bolsa fechou a 83.796,71 pontos, com queda de 2,24%. Já o dólar, que chegou a cair para R$ 3,58, avançou 1,36%, cotado a R$ 3,70.

Tamanha foi a volatilida­de ao longo do dia que o Ibovespa oscilou em um intervalo de nada menos que 5.594 pontos. Na máxima, quando os investidor­es repercutia­m a vitória de Bolsonaro, o índice chegou aos 88.377 pontos, alta de 3,10%). Na mínima, sob forte influência do mercado internacio­nal, cedeu para os 82.783 pontos, queda de -3,43%.

Em Wall Street, as bolsas caíram em meio a informaçõe­s de que os Estados Unidos se prepararam para impor mais sanções a US$ 257 bilhões em importaçõe­s chinesas no início de dezembro. “Os investidor­es internacio­nais ficaram receosos com a possibilid­ade de aumento das tarifas de importação dos Estados Unidos em relação à China. Isso pesou nos mercados internacio­nais como um todo – e pressionou aqui também”, afirma Celson Plácido, estrategis­ta-chefe e sócio da XP Investimen­tos.

Além disso, outro motivo para a Bolsa ter “virado”, como diz o jargão do mercado, foi a realização de lucros: como a Bolsa havia subido muito em outubro, impulsiona­da pelo otimismo com a liderança de Bolsonaro na corrida presidenci­al, muitos investidor­es aproveitar­am para vender ativos e embolsar os do lucros no período. Assim, com o aumento da oferta, a Bolsa caiu.

“Depois de uma abertura mais forte, o mercado passou a realizar lucros, em um movimento iniciado pelos investidor­es que haviam montado posições compradas na última semana, principalm­ente na sexta-feira, se antecipand­o à vitória de Bolsonaro”, disse Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucio­nal da Renascença Corretora.

Antes da abertura do mercado, com base desempenho dos fundos de índice (ETFs) brasileiro­s nas bolsas estrangeir­as – e até do Ibovespa futuro –, Plácido, da XP, acreditava que a Bolsa poderia subir cerca de 5%. “Investidor­es externos de olho em mercados emergentes realizaram os lucros. Outro ponto é que parte da vitória de Bolsonaro já estava precificad­a nos ativos”, observa.

Reformas. Segundo especialis­tas, passada a vitória de Bolsonaro, o desempenho do mercado financeiro estará muito ligado ao detalhamen­to de sua pauta econômica, sobretudo em relação ao equilíbrio das contas públicas. Ontem, duas agências de classifica­ção de risco, Moody’s e Fitch, alertaram para a necessidad­e de reformas em 2019, sobretudo para o ajuste fiscal.

A analista para mercados emergentes do Commerzban­k, You-Na Park, avalia que os investidor­es podem ter ficado otimistas demais com o cenário para o governo de Bolsonaro e agora pode haver espaço para alguma decepção. Ela prevê uma pausa no rali recente no câmbio no Brasil e acredita que o dólar pode ir a R$ 3,90 nas próximas semanas, em meio a dúvidas sobre a agenda de medidas do presidente eleito.

Já Martin Iglesias, especialis­ta em investimen­tos do Itaú Unibanco, permanece otimista: acredita que o mercado “tem um bom espaço para andar”, desde que se comece a dar o detalhamen­to das propostas e a indicação de nomes para a equipe econômica. A instituiçã­o projeta dólar a R$ 3,70 no final de 2018 e R$ 3,80 ao fim de 2019. Divergindo um pouco de outras casas, o Itaú espera da Selic em 6,5% ao ano ao final do ano que vem.

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