O Estado de S. Paulo

Implementa­ção de propostas é incerta, dizem economista­s

Levar ideias econômicas a cabo vai exigir união de discurso entre núcleos político e econômico do PSL, diz pesquisado­r

- Fernando Scheller Luciana Dyniewicz Francisco Carlos de Assis

O primeiro pronunciam­ento do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), serviu para confirmar o discurso de austeridad­e fiscal, de redução do tamanho do Estado e de comprometi­mento com reformas estruturai­s, como a da Previdênci­a. Embora este seja um passo na direção correta, o economista Samuel Pessôa, pesquisado­r do Ibre/FGV, lembra que existe um descompass­o entre a vontade da equipe econômica – liderada pelo economista Paulo Guedes – e o núcleo político que gravita em torno de Bolsonaro.

“A equipe econômica está ciente do problema e tem diagnóstic­o (dos desequilíb­rios econômicos e da necessidad­e de reformas). A impressão que eu tenho é que o grupo político não tem diagnóstic­o”, explica o pesquisado­r. “Pessoas como o Onyx Lorenzoni (deputado do DEM que é um dos principais interlocut­ores do eleito), por exemplo, não têm a menor ideia do problema fiscal, acham que não existe déficit na Previdênci­a. Precisamos ver como vai ser o diálogo entre o grupo que está tocando a economia e os políticos.”

Incertezas. Diante das incertezas sobre a capacidade do novo governo em encaminhar as reformas necessária­s para reduzir o déficit fiscal – que vai ficar em torno de R$ 120 bilhões em 2018 –, a economista-chefe da XP Investimen­tos, Zeina Latif, disse não acreditar que o Produto Interno Bruto (PIB) possa se acelerar além da taxa de 1,5% que a corretora já vinha prevendo para o ano que vem. “Há muitas incertezas e, por isso, não há razões para ver aceleração do PIB em 2019”, disse Zeina, em entrevista ao Broadcast/Estadão.

A economista da XP, no entanto, considerou positivo o tom do discurso de Bolsonaro no domingo à noite. “O ajuste no discurso era esperado e deve continuar. Achei importante a ênfase dada a temas da economia, que ficaram de lado durante a campanha no segundo turno”, disse ela.

Na visão de Pessôa, da FGV, embora os temas tenham sido endereçado­s, falta sinalizaçã­o sobre como “ele espera avançar” para atingir os objetivos. “A gente vai ter de ver, nas próximas semanas, qual é o desenho do ajuste fiscal que eles vão promover. Isso não está claro ainda”, diz o economista.

Equipe de trabalho. Coordenado­r das propostas econômicas do candidato derrotado do MDB à Presidênci­a da República, Henrique Meirelles, o economista José Márcio Camargo afirmou não estar preocupado com as contradiçõ­es que apareceram durante a campanha entre o programa liberal de Guedes e as falas nacionalis­tas do presidente eleito. “Apesar de eu não ter conversado com ele (Guedes), minha sensação é que ele está se sentindo à vontade para escalar a equipe.”

Sobre a possibilid­ade de Bolsonaro não conseguir passar as reformas no Congresso, o economista disse que o presidente eleito não é um novato em Brasília, apesar de nunca ter sido uma liderança parlamenta­r. “O Bolsonaro foi um tsunami eleitoral. Acho que ele vai ter uma capacidade razoavelme­nte grande para negociar suas propostas. Independen­temente de ter 50 deputados, acho que a base dele é muito maior. Esse Congresso novo será mais conservado­r que o atual.”

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