O Estado de S. Paulo

Retrato de um homem que nasceu para brilhar

- CRÍTICA: Luiz Carlos Merten

Bryan Singer, diretor da franquia XMen, é gay assumido, e mesmo que não fosse toda a indústria saberia disso por conta das denúncias contra ele no #MeToo. É fácil imaginar os motivos que o levaram ao longa sobre Freddie Mercury. Uma parte significat­iva do filme mostra o jovem Freddie, ainda ligado à mulher, Mary, saindo do armário. Ele descobre sua atração por homens – há uma cena de sexo a três no Rio –, revela para Mary que é bissexual, mas ela diz que não, e o força a se assumir como gay.

E, assim como Cinderela tem a madrasta, Freddie tem a bicha má, a cobra venenosa – Paul, o amante que, dispensado, vai para a TV contar os podres do ex. Tudo isso é para calar a boca dos que dizem que o filme não conta tudo sobre a sexualidad­e de Freddie. Talvez seja inexato, mas não por falta de informaçõe­s. Algumas das melhores cenas abordam o processo criativo do artista. Como ele misturou rock e ópera, e criou a Bohemian Rhapsody. No final, doente – soropositi­vo –, um fragilizad­o Freddie consegue o aval dos antigos parceiros (‘Somos uma família!’) para que o Queen participe do megaconcer­to Live Aid.

É o gran finale. Cada artista teve seus 20 minutos no palco e Singer recria o concerto inteiro, começando com Mother Love e terminando, na apoteose, com We Are The Champions. É um filme bonito, emotivo. Conflitos familiares, amores e amizades rompidos. Todo mundo trai todo mundo, mas, no limite, vence o afeto. Singer trabalha no registro da semelhança física. Os pais, o novo namorado, Mary, Brian May, John Deacon, Roger Meddows-Taylor, todo mundo é muito parecido. Rami Malek talvez seja mais franzino, mas entende e expressa o personagem que nasceu para brilhar.

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