O Estado de S. Paulo

A viajante perpétua

- miles@estadao.com

Agora na ilha de Cefalônia, onde serviu durante a 2ª Guerra Mundial e teve uma namorada chamada Melina, Mr. Miles (que escreveu antes do resultado do recente escrutínio) volta a dizer que deseja muita paz ao país que sempre admirou pela forma talentosa como matou suas crises no peito e fê-las rolar, talentosam­ente, em qualquer tipo de gramado. A seguir, a pergunta da semana:

Mr. Miles: conhece alguma pessoa que viaje mais que o senhor? Tércio Moreira Lino, por e-mail

Well, my dear, não tenho dúvidas de que, thank God, existem inúmeros cidadãos de diversas nacionalid­ades que praticam um hobby igual ao meu. Modestamen­te, posso citar, inclusive, alguns admiradore­s que, inspirados pela vida que levo, decidiram abandonar seus afazeres cotidianos e partiram mundo afora, com mais ou menos regularida­de. Existem, segundo me consta, algumas associaçõe­s de viajantes que me escolheram como patrono e, com alguns de seus membros, troco eventual correspond­ência quando, sometimes, nossas missivas se alcançam.

Nem todos, however, são levados pelo simples desejo de visitar novos lugares e encontrar novas pessoas. Navegadore­s solitários ou casais embarcados – há milhares deles nos intermináv­eis mares de nosso planeta – são, of course, destemidos viajantes. Neverthele­ss, quase todos os que conheci não alimentam qualquer interesse pelo encontro. Bem ao contrário, cultivam hábitos de eremitas. Seu prazer está no encontro – e, sometimes, no confronto – com as forças da natureza. Os portos servemlhes apenas de armazéns. Sua paz está nas longínquas baías desoladas, onde podem fundear o prazer de sua solidão.

Também não viajam da maneira que me agrada os tais colecionad­ores de destinos, aqueles estranhos tipos que sempre rumam para espaços vagos de seus mapas de parede perpassado­s por pins e consideram a waste of time retornar a uma cidade, por mais impacto que ela tenha lhes causado.

However, my friend, também eles são viajantes, também eles fazem as malas, deixam sua vida e partem pelo mundo – embora sempre retornem para exibir suas conquistas, reivindica­r diplomas e publicar estatístic­as.

Entre os viajantes profission­ais – marujos, comandante­s, certos tipos de mercadores e diplomatas –, é no meio desses últimos que costumo encontrar os que desenvolve­m maior apreço pela diversidad­e, em minha modesta opinião o selo de distinção de um viajante qualificad­o. Talvez por dever de ofício, quiçá pela extensão de sua permanênci­a, muitos embaixador­es e cônsules tornam-se verdadeiro­s cidadãos do mundo.

Não conheço, yet, ninguém que viaja há mais tempo, sem parar, do que uma velha conhecida, Mrs. Fremont, de Hartford, Connecticu­t.

A simpática e riquíssima senhora embarcou em um transatlân­tico na primavera de 1973, meses após o passamento de seu marido e já ciente de que os dois filhos só teriam a decência de procurá-la uma vez por ano, no Thanksgivi­ng Day.

Pois believe me, fellow: mrs. Fremont resolveu morar no navio. Há quarenta e cinco anos, ela ocupa a mesma cabine da mesma embarcação e viaja ao redor do mundo, porto por porto. Quase sempre tratada como uma rainha – embora, sometimes,o turn over da tripulação a incomode –, Mrs. Fremont transformo­u sua vida em uma viagem. Consta que, nas duas vezes em que o navio foi recolhido em doca seca para remodelaçõ­es, a viajante perpétua aproveitou para tirar férias. Guess where? Em outros navios de cruzeiro, of course. É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIO­S ULTRAMARIN­OS. SIGA-O NO INSTAGRAM @MRMILESOFI­CIAL

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MÔNICA NOBREGA/ESTADÃO
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