Entre o mar e a montanha
Bastam 30 minutos para ir, do centro de Adelaide, às vinícolas ou ao litoral. Vale fazer bate-voltas – e, no tempo livre, curtir a cidade
A brisa que sopra do mar em direção às montanhas nos arredores de Adelaide é como um afago para as uvas. Beneficiadas pelas estações bem marcadas e um clima de noites frias e sol em abundância, shirazs, pinot noirs, chardonnays, malbecs e outras variedades se transformam em vinhos de qualidade e sabor, aclamados em toda Austrália – e também fora dela. Ao todo, 200 vinícolas se espalham pelas regiões produtoras de Barossa, McLaren Vale e Adelaide Hills.
Embora menos procurada do que Sydney ou Melbourne, a capital do Estado de South Australia é uma cidade atraente, com boas opções turísticas no inverno ou verão. O mar está a apenas 30 minutos do centro. As montanhas repletas de vinícolas e pousadas, também. Entre ambos, essa pequena grande metrópole de 1,2 milhão de habitantes (a Austrália toda tem 24 milhões) cuja arquitetura sempre flertou com a modernidade.
Trata-se, afinal, da primeira cidade planejada da Austrália – os colonizadores chegaram ali em 1836. Um deles, Colonel William Light (espécie de Niemeyer britânico) foi o responsável por escolher onde se instalaria e como ficaria disposta a cidade. Desenhou um retângulo, com um centro formado basicamente por 11 largas avenidas principais e outras seis paralelas, e cinco praças distribuídas entre os quarteirões cortados por ruas menores. Ao redor disso tudo, um cinturão de parques, o Ring.
Ao norte, o Rio Torrens serpenteia entre os parques e marca a região que vem passando por uma transformação arquitetônica e paisagística. Em meio a essa área verde surgiram, nos últimos anos, um moderno centro de convenções, uma casa de shows e um estádio esportivo. Quem se hospeda no centro pode ir a todos eles a pé. Ou de bicicleta, já que a cidade é plana – há pontos de empréstimos de bikes por todo centro (bikesa.asn.au/adelaidefreebikes).
Gastronomia. Aliás, as principais atrações do centro estão ao alcance de uma caminhada. Caso do Queen Victoria Market, mercado central que não conta com a mesma aura gastrohipster do seu homônimo em Melbourne, mas tem seu valor. Comi ali as maiores (e mais saborosas) uvas que vi na vida, mas poderia ter sentado também em um dos 26 cafés, restaurantes e bares do local.
Outra opção é atravessar a rua e jantar em Chinatown, o bairro chinês. Escolha entre os especializados em comida japonesa, chinesa, coreana, vietnamita e tailandesa, entre outros, espalhados nos arredores da Gouger Street.
Se quiser algo mais moderno, siga para o extremo leste, nos arredores da Hindley Street. Entre brechós, galerias e lojas descoladas (adorei a Urban Cow, de decoração), há bares e restaurantes modernos e de ótima qualidade como o Africola (africola.com.au). O menu, como o nome sugere, é baseado na comida africana. Tudo ali é encantador: a decoração, o cardápio e os pratos – vale pedir porções menores e dividir com os colegas para provar mais opções.
Entre os grandes sucessos da mesa, os mexilhões (AU$ 24 a porção ou R$ 63), pelo sabor, e a couve-flor, pelo inusitado: ela vem inteira, temperada com tahine e outras especiarias, e é cortada tal qual um bolo para ser servida. Custa AU$ 19 (R$ 50).
Mais perto do centro propriamente dito, a Hindley Street tem outra atmosfera. No trecho entre a King William St. e a Pulteney St., ela é um shopping a céu aberto, exclusiva para pedestres. Em meio a magazines, mercados e lojas de lembrancinhas made in China, artistas de rua de habilidades variadas se apresentam.
Experimente também fazer a pé esse mesmo trecho, mas indo pela North em vez da Hindley. Ali fica uma espécie de pool cultural, formado pela Universidade de Adelaide, a Biblioteca Estadual, a Art Gallery of South Australia e o South Australian Museum. Todos cercados por muito verde.
Vou ser honesta: não me apaixonei por Adelaide à primeira vista. Peguei dias chuvosos, vento e frio – sem bagagem, que só chegou no dia seguinte. Mas, aos poucos, a cidade me conquistou. Como se a cada nova descoberta eu recebesse um afago no coração. Talvez por isso as uvas cresçam tão bem por ali.