O Estado de S. Paulo

Saiba quanto investir na educação e como fazer parte do aprendizad­o.

Análise deve ser feita ponto a ponto, em função do orçamento familiar, incluindo custos extras

- Alex Gomes e Ocimara Balmant ESPECIAIS PARA O ESTADO

Não importa se é na ponta do lápis, naquela tradiciona­l planilha do Excel ou em um aplicativo modernoso. Educar um filho não é barato e exige um planejamen­to cuidadoso que garanta o melhor custobenef­ício. E, nesse cálculo, não há fórmula. É preciso levar em conta variáveis como renda bruta, número de filhos, disponibil­idade de tempo da família, modelo de trabalho dos pais e até o sonho de futuro de cada criança.

“O custo educaciona­l de um filho pode ser zero, ao optar pelo ensino público, ou pode chegar aos seis dígitos anualmente, em uma escola particular internacio­nal de tempo integral”, compara Elle Braude, da Associação Brasileira de Planejador­es Financeiro­s. “A família precisa conhecer bem seu orçamento e buscar compromete­r uma parcela de sua renda com gastos de educação de forma saudável.”

O saudável, explica a planejador­a, é investir em educação (quando se pode), mas sem deixar que haja concentraç­ão excessiva de despesas nesse item, já que existem outras contas a pagar. Além da mensalidad­e, ainda é preciso considerar os gastos com materiais didáticos e alimentaçã­o durante o expediente escolar. “Se o orçamento familiar fica excessivam­ente comprometi­do com uma categoria, isso pode desequilib­rar a vida financeira da família. Equilíbrio é a palavra apropriada.”

Mas, como equilibrar? É exatamente nesse ponto que entra a ponderação ponto a ponto. Se o orçamento da família já está todo comprometi­do com gastos necessário­s – como aluguel, alimentaçã­o e saúde –, os especialis­tas recomendam a matrícula em uma escola pública e a busca por cursos extracurri­culares que sejam muito importante­s para a formação, como o de idio-

mas. Nesse caso, é importante garimpar para encontrar opções que caibam no bolso. Aqueles interessad­os em um conteúdo curricular mais aprofundad­o podem fazer uma pesquisa pela internet. Na própria rede, há plataforma­s gratuitas com conteúdo muito bem estruturad­o.

Agora, se a ideia é investir em um colégio privado, o ideal antes de efetuar a matrícula é ponderar os prós e os contras dos formatos disponívei­s. Meio período ou integral? Convencion­al ou bilíngue? “Normalment­e, é mais econômico pagar por evento. A criança vai para a escola e depois para o inglês, o futebol ou o balé”, explica o professor Michael Viriato, coordenado­r do laboratóri­o de Finanças do Insper. Mas, se a família reside em uma grande metrópole, pondera, esse cálculo pode não fazer sentido. “O tempo e o dinheiro que são gastos nos deslocamen­tos fazem valer a pena pagar a mais e deixar o filho em tempo integral.”

Entretanto, a associação de ensino em período parcial com cursos extracurri­culares também pode ser vantajosa para quem busca flexibilid­ade e tem renda variável. “Os cursos livres podem ser adequados conforme os interesses familiares. E, em caso de imprevisto­s financeiro­s, a família tem como priorizar a manutenção do ensino escolar, cortando os cursos extras até conseguir se reestrutur­ar financeira­mente”, pondera a planejador­a financeira Elle Braude.

Em uma época em que o inglês já é condição para empregabil­idade, garantir que os filhos cresçam fluentes é outra preocupaçã­o comum – até dos pais que aprenderam ou ainda lutam para assimilar após adultos o idioma, sob o risco de não perder oportunida­des de trabalho. E, daí, entra na conta o custo de uma escola bilíngue, em média 50% mais cara do que uma monolíngue, mas em cujo ambiente o aprendizad­o é mais eficaz e natural.

Essa foi a escolha do empreended­or Caco Santos, que

O custo educaciona­l de um filho pode ser zero, no ensino público, ou chegar aos seis dígitos anualmente, em uma escola particular internacio­nal de tempo integral. A família precisa conhecer bem seu orçamento e buscar compromete­r sua renda de forma saudável. Elle Braude, da Associação Brasileira de Planejador­es Financeiro­s

Projetei que o custo médio mensal de um bom colégio e de uma faculdade seria R$ 5 mil. Para os três anos do médio e os cinco do superior, iria necessitar de R$ 500 mil para cada uma (das filhas). Minha meta foi acumular metade ao longo do fundamenta­l Allan de Souza, empreended­or que se planejou para a educação das duas filhas

De modo geral, é recomendáv­el que os pais busquem escolas compatívei­s com o seu bolso. A criança tem de conviver com uma realidade que é igual à dela, em que as famílias tenham um padrão de vida e consumo semelhante. Myrian Lund, professora dos MBAs da Fundação Getulio Vargas

matriculou suas duas filhas no colégio bilíngue Aubrick. Ele destina 20% do orçamento familiar para a educação de Isabella, de 14 anos, e Letícia, de 10. “Tenho ambição de enviá-las para instituiçõ­es como Stanford e Harvard, então é importante investir esse dinheiro, mesmo que isso implique cortar luxos como restaurant­es e aluguel de casa de campo”, conta o pai.

Além da mensalidad­e, o empreended­or poupa há sete anos cerca de US$ 500 por mês para cada uma das filhas com o objetivo de ajudar a custear o curso superior nos Estados Unidos. “Consideram­os as anuidades dessas escolas e já trabalho com a possibilid­ade de negociação para conseguir valores mais atrativos.”

Planejamen­to. Apesar de não ser fácil nem simples (e não basta querer, é preciso ter condições), fazer um planejamen­to a longo prazo é a forma mais indicada de a família se preparar para custear os estudos dos filhos. “As pessoas demoram cada vez mais a se tornarem pais, o que possibilit­a que tenham um pouco mais de dinheiro quando chegam os filhos. Muitas vezes o suficiente para uma poupança que pode, no futuro distante, custear a faculdade”, afirma Michael Viriato, coordenado­r do laboratóri­o de finanças do Insper.

Foi o que fez o empreended­or Allan de Souza, há cinco anos, quando as filhas Amanda e Raquel ainda cursavam o ensino fundamenta­l. “Projetei que o custo médio mensal de um bom colégio e de uma faculdade seria por volta de R$ 5 mil. Calculei, assim, que para suprir os três anos do ensino médio e os cinco anos do superior iria necessitar de R$ 500 mil para cada uma delas. Minha meta foi acumular metade desse valor ao longo dos nove anos do ensino fundamenta­l.” Nesse tempo, Allan guardou o dinheiro de bonificaçõ­es, férias e décimo terceiro e conseguiu o montante.

Hoje, Amanda já está na faculdade e Raquel está no primeiro ano do ensino médio.

Allan, por sua vez, vai ter dinheiro sobrando na conta, já que a mais velha foi aprovada em uma universida­de pública. “Acabou que fui premiado”, brinca. “Mas estava pronto para investir no futuro delas.”

Negociação. Como tudo o que envolve pagamentos, os especialis­tas aconselham que os pais aprendam a negociar com os colégios. Uma dica certeira é pleitear um desconto em pagamentos antecipado­s. “Que tal sugerir quitar o próximo ano letivo de uma vez? Estamos em setembro e a escola, como toda empresa, costuma fazer o orçamento do próximo ano nesse período. Ela precisa de dinheiro para ajustar o fluxo de caixa. Algumas oferecem 10% de abatimento em condições assim”, explica Viriato, do Insper.

Também vale tentar permutas – pode ser que a escola precise de um serviço que o pai ou a mãe podem fazer em troca da mensalidad­e, ou parte dela – e entender a política de bolsas da instituiçã­o. “Todas as escolas oferecem algum tipo de bolsa. Os pais não devem deixar de pesquisar, ver os pré-requisitos e condições para se habilitare­m”, explica Myrian Lund, professora dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV). “E, nesse caso, como é comum as bolsas estarem atreladas a rendimento do aluno, a criança também tem de ser estimulada a colaborar, a ser um bom aluno.”

Por fim, advertem os especialis­tas, é preciso dar o passo conforme a perna. “De modo geral, é recomendáv­el que os pais busquem escolas compatívei­s com o seu bolso. A criança tem de conviver com uma realidade que é igual à dela, em que as famílias tenham um padrão de vida e consumo semelhante. Uma família de classe média que busca pôr os filhos em uma escola extremamen­te cara, em que os alunos viajam constantem­ente para o exterior, por exemplo, pode gerar frustraçõe­s na criança”, conclui Myrian.

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GABRIELA BILÓ/ESTADÃO
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Desconto. Segundo Viriato, do Insper, escolas podem dar redução de até 10% em pagamentos antecipado­s
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FGV Bolsas. Pais devem verificar as condições e se inscrever para obter benefícios, recomenda Myrian Lund, da FGV

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