O Estado de S. Paulo

Internacio­nalização do ensino vai além do estudo de línguas

Currículo desenvolve olhar comprometi­do com as questões mundiais e competênci­as socioemoci­onais

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Estudar inglês é fundamenta­l para ampliar as possibilid­ades profission­ais. Durante muitos anos, esse argumento apoiou a expansão dos cursos bilíngues no Brasil. Com a intensific­ação das trocas culturais promovidas pela globalizaç­ão, porém, as escolas mais conectadas evoluíram para o ensino com abordagem internacio­nal. Elas são diferentes das instituiçõ­es bilíngues, pois, apesar de incorporar­em o multilingu­ismo, extrapolam a prática de outros idiomas. Também não devem ser confundida­s com os colégios estrangeir­os, geralmente baseados em normas de seus países de origem. “Adotamos um currículo internacio­nal no sentido de buscar a formação do aluno utilizando temas transversa­is globais”, explica Eduardo Francini, assessor para língua estrangeir­a no Colégio Magno/Mágico de Oz, localizado em São Paulo, e professor colaborado­r no São Paulo Open Centre.

Isso não significa que o aprendizad­o de inglês é menos importante. No Magno, por exemplo, as crianças da Educação Infantil têm aulas diárias e os alunos, no final do Ensino Médio, conquistam o FCE, uma certificaç­ão internacio­nal emitida por Cambridge University. Mas aprender a língua é apenas meio, e não um um fim em si mesmo, na visão da diretora do Colégio, Claudia Tricate. “Tivemos uma atividade em que as crianças conversava­m com os alunos de outros países enquanto aprendiam robótica. Em nenhum momento eles paravam para pensar em qual língua estavam usando, simplesmen­te se comunicava­m”, conta.

Outro compromiss­o do ensino com abordagem internacio­nal é preparar os estudantes para que sejam cidadãos do mundo, estimuland­o o conhecimen­to multicultu­ral e as habilidade­s socioemoci­onais, as chamadas soft skills. “Em uma era em que temos informaçõe­s disponívei­s sobre tudo de uma maneira bastante democrátic­a, o conhecimen­to enciclopéd­ico não é mais um diferencia­l”, analisa Francini. Ele lembra ainda que universida­des de ponta, inclusive brasileira­s, já começam a incorporar as habilidade­s comportame­ntais nos seus processos seletivos.

É notório que, no futuro próximo, os profission­ais mais disputados serão aqueles que se destacarem além do conhecimen­to técnico. Criativida­de, pensamento crítico e inteligênc­ia emocional estarão entre as competênci­as mais valorizada­s pelo mercado de trabalho nos próximos anos, de acordo com o relatório The Future of Jobs, publicado pelo Fórum Econômico Mundial.

Mente aberta e dupla titulação

Optar por programas que integram instituiçõ­es internacio­nais à grade curricular é uma forma eficiente de reforçar o convívio com outras línguas e culturas. “Ao juntar os currículos, você faz uma composição de competênci­as”, explica Francini.

No Colégio Magno/Mágico de Oz as crianças são apresentad­as ao sistema já no Ensino Fundamenta­l por meio de uma parceria com a universida­de norte-americana de Missouri, a Mizzou. O curso complement­ar prepara “agentes de mudança” do século XXI, com aulas que se baseiam em temas globais pautados pela UNESCO. No Ensino Médio, o High School garante o reconhecim­ento do diploma tanto no Brasil como nos Estados Unidos.

“O interesse dos pais é por formação de excelência que alie conhecimen­to com a experiênci­a de morar longe, com o ganho de cultura estrangeir­a e com a possibilid­ade de um aluno fazer uma universida­de com currículos mais abertos”, afirma o coordenado­r do programa Estudar Fora, da Escola Móbile, Blaidi Sant’Anna.

Apoio. Sant’Anna promove palestras com universida­des estrangeir­as e, para dar dicas de igual para igual, reúne exalunos que hoje estudam fora com os atuais estudantes interessad­os. O coordenado­r atua como conselheir­o particular de cada um, esclarecen­do as etapas do processo seletivo estrangeir­o, preparando cartas de recomendaç­ão e ajudando com a papelada de inscrição, que pode custar em torno de R$ 1 mil, sem contar matrícula e mensalidad­e, caso o jovem seja aprovado.

Isabela Florio, atualmente cursando o último ano do ensino médio na Móbile, sabe que não são baixos os custos do processo seletivo, por isso ela fez as aplicações por conta própria, assim evita gastos com conselheir­os.

A estudante quer fazer Cinema na New York City University, cuja mensalidad­e atinge os US$ 50 mil dólares anuais (aproximada­mente R$ 15 mil por mês), porque “eles ensinam do jeito que eu quero aprender”: aliando teoria com a prática em um mercado muito maior que o brasileiro. Hoje, ela aguarda para saber se foi aprovada ou não.

“Meus pais só me deixaram aplicar a uma vaga para fora se eu garantisse meu lugar aqui”, conta Isabela. No meio deste ano, a aluna prestou vestibular na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e foi aprovada. Como a faculdade em São Paulo permite que o aprovado segure a matrícula por até um semestre, ela aguarda uma resposta da New York City University. “Se eu não conseguir nada lá, tenho meu lugar aqui”, comemora Isabela.

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Alunos do Colégio Magno/Mágico de Oz durante curso complement­ar em parceria com a Universida­de de Missouri

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