O Estado de S. Paulo

Entre fé e realidade

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

Bem provável que nem todos os torcedores do Palmeiras sigam algum credo religioso. Mas sugiro aos que têm fé, seja qual for, pedirem intervençã­o divina na tarefa do time na noite de hoje. Pois, além de jogar muita bola, precisará de sopro dos céus para despachar o Boca e classifica­r-se para a final da Libertador­es. Os 2 a 0 sofridos na Bombonera, uma semana atrás, pesarão como toneladas nas costas dos rapazes de Felipão assim que pisarem o gramado do Allianz Parque.

O leitor palestrino pode detectar pessimismo exagerado no parágrafo acima. Não há desconfian­ça a respeito da capacidade da equipe. De jeito nenhum! Dudu, William & cia. podem destrambel­har os adversário­s, no mínimo com a devolução do placar fora de casa. Não custa lembrar que, na fase de grupos, ganharam por 2 a 0 em Buenos Aires. Portanto, estão na briga.

Uma situação é bater um rival importante numa etapa em que havia jogos de ida e volta, e com outros dois participan­tes na chave. O tropeço era recuperáve­l – e aí está o Boca para provar a tese: esteve a um passo da desclassif­icação, salvou-se com ajuda do Palmeiras (que bateu o Junior Barranquil­la na última rodada), ressuscito­u, agigantous­e e está perto de brigar pela sétima taça. Outra é levar dois gols como visitante em confronto eliminatór­io. Com o peso adicional de que, se tomar um como mandante, terá de fazer quatro!

Eis o grande dilema verde. Como comportar-se, do ponto de vista estratégic­o e mental, não só para cravar ao menos os dois gols que levarão para os pênaltis, como ainda ter equilíbrio para fazer um eventual terceiro ou mesmo quarto e não tomar nenhum? Garanto que a dúvida martela a cabeça de Felipão desde o apito final da partida disputada na outra quarta-feira.

O técnico do Palmeiras sabe que não poderá ficar à espera, como ocorreu no primeiro clássico ou como se viu no sábado, no Maracanã, diante do Flamengo. Desta vez, não é o contragolp­e a alternativ­a a usar, mas a iniciativa de encurralar o oponente. Ou seja, dará ao Boca a possibilid­ade de utilizar o veneno palmeirens­e. Por isso, também, não é sensato apelar para a formação com três meio-campistas de forte marcação, como Felipe Melo, Bruno Henrique e Moisés. Faz-se necessário alguém que crie, e aí surge Lucas Lima como opção, para o lugar de Moisés, já que os dois primeiros são imprescind­íveis para a proteção da zaga.

Fosse o Felipão, apelaria até para a presença dos quatro, com Dudu e William à frente, mais soltos e perto da área. Hipótese menos provável, pois o professor ama ter um centroavan­te, uma referência. A tendência, salvo surpresa, é começar com Deyverson, alto, lutador, bom nas bolas áreas, imprevisív­el, temperamen­tal. Ai, Jesus...

Outro perigo está no controle emocional. Tomara ninguém esteja a falar, nos vestiários, que se trata do “jogo da vida” ou que “os gringos são catimbeiro­s”. Concentraç­ão e coragem são indispensá­veis em momentos como este. Adrenalina em excesso é porta aberta para desastre, confusão, brigas e decepção. Filme já manjado e que resultou, incontávei­s vezes, em vexames nacionais.

O Palmeiras tem o Boca atravessad­o na garganta – com o perdão do trocadilho involuntár­io –, pela perda do título continenta­l de 2000 e pela eliminação nas semifinais de 2001. Deve ter em mente esses episódios, claro. Mas que tal lembrar sobretudo dos 6 a 1 que tascou no vilão em 1994 no antigo Palestra Itália? Muito melhor. Ok, não precisa repetir o placar; basta ficar em 3 a 0 que já representa­rá reviravolt­a fabulosa. Que a torcida cante e vibre, no estádio ou em casa. Isso é fé. A realidade são os 2 a 0. Então, palestrino, acenda uma velinha para San Gennaro e a Madonna de Achiropita. Não custa nada. Que eles inspirem os moços da frente e Weverton no gol.

O torcedor do Palmeiras precisa acreditar na virada. Mas os 2 a 0 para o Boca pesam...

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