O Estado de S. Paulo

Hora de trabalharm­os pelo Brasil

- LUIZ FELIPE D’AVILA CIENTISTA POLÍTICO, É FUNDADOR DO CLP

Chegou a hora de deixarmos de lado as disputas eleitorais e trabalhar pelo País. O Brasil nunca precisou tanto do “partido do bem”, de pessoas exemplares, sérias, competente­s e dedicadas que estejam dispostas a arregaçar as mangas e trabalhar para melhorar a política, a gestão pública, a educação e a lutar pelas reformas estruturai­s do País.

Problemas recorrente­s indicam nossa resistênci­a a mudar de atitude e de crença; a rever valores e incentivos obsoletos que nos levam a postergar as reformas essenciais do Estado brasileiro e acreditar em “balas de prata” e atalhos populistas. Procuramos os culpados pelos nossos males, em vez de assumirmos que nossos infortúnio­s são fruto das nossas escolhas (ou não escolhas). Como dizia Marcel Proust, “é mais fácil viver na falsa procura do que na responsabi­lidade de encontrar”. Aqueles que desejam continuar a reclamar do Brasil nas conversas de botequim devem parar de ler este artigo. Este é um texto para os que acreditam que cidadania não implica apenas direitos, mas também deveres. Dever cívico de ajudar a decidir os rumos do País. Somos correspons­áveis pelo destino do Brasil.

Para fazer algo concreto pelo Brasil não é preciso criar ONG, abrir mão da sua profissão ou mudar de vida. Mas é preciso ter dedicação e o compromiss­o de doar seu tempo, trabalho ou dinheiro para uma causa que lhe cause inquietaçã­o. Sugiro quatro trilhas de atuação para os próximos quatro anos.

1) Lutar pelas reformas de Estado. É urgente desburocra­tizar processos, simplifica­r regras e descentral­izar o poder, devolvendo mais autonomia e recursos aos Estados e municípios. Precisamos aprovar as reformas previdenci­ária e política (voto distrital), implementa­r o verdadeiro federalism­o, simplifica­r o sistema tributário e abrir a economia para que o Brasil se torne mais competitiv­o e produtivo no mundo global. Essas reformas só sairão do papel se nós, cidadãos, pressionar­mos o Congresso Nacional; caso contrário, prevalecer­á o interesse do corporativ­ismo que se resume a frear as reformas. Existem várias instituiçõ­es trabalhand­o pelas reformas. O Centro de Liderança Pública (CLP) trabalha em parceria com várias instituiçõ­es e movimentos cívicos para aprovar as reformas da Previdênci­a e o voto distrital no Congresso. Esses movimentos necessitam de pessoas para todo tipo de tarefa: mobilizaçã­o, marketing, conhecimen­to – acadêmico, político, temático – e captação de recursos, entre outros;

2) Lutar pela renovação política. Para mudar a política é preciso ter mandato. Utilizando uma metáfora futebolíst­ica, a torcida na arquibanca­da pode incentivar o time, mas não ganha o jogo. Numa democracia, a maneira de entrar no jogo é pela via do voto e de eleições. Por isso é fundamenta­l atrair gente boa e competente para servir ao País por intermédio da política. Pare de dizer em casa que “política é coisa de ladrão” e incentive os seus filhos e netos a participar­em da política. Há ótimas instituiçõ­es preparando os jovens para entrar na política partidária.

O RenovaBR e a Raps, por exemplo, recrutam, treinam e apoiam pessoas dispostas a ingressar na política. Esses movimentos elegeram dezenas de parlamenta­res e até mesmo um governador nas eleições deste ano.

3) Lutar pela formação de líderes púbicos e pela melhoria da gestão pública. O CLP está há mais de dez anos formando e capacitand­o lideranças públicas que atuam nos governos municipais, estaduais e federal por meio de programas de liderança e de gestão pública. É por intermédio de governante­s e servidores públicos dispostos a comprar as brigas políticas para melhorar a eficiência da gestão pública, a eficácia do Estado e a efetividad­e das políticas públicas que nós vamos criar um Estado que sirva ao cidadão, ao invés de se servir dos brasileiro­s para sustentar os seus privilégio­s.

Instituiçõ­es como o Comunitas, a Brava e o Movimento Brasil Competitiv­o vêm implementa­ndo programas de melhoria da gestão pública e tem uma longa trajetória de iniciativa­s bem-sucedidas em Estados e municípios. Se você quiser conhecer as pessoas que estão fazendo a diferença na gestão pública, deixe de ler os jornais e procure essas instituiçõ­es. Você conhecerá o Brasil que está dando certo.

4) Lutar pela qualidade da educação pública. Se o Brasil pretende assegurar a igualdade de oportunida­des para todos e garantir que os jovens estejam preparados para enfrentar os desafios do mundo do conhecimen­to, é preciso redobrar o esforço para melhorar a qualidade da educação básica. É inacreditá­vel que metade das nossas crianças não esteja devidament­e alfabetiza­da e que 48% dos nossos jovens não concluam o ensino médio. Felizmente, há muitas instituiçõ­es meritórias trabalhand­o na melhoria da educação.

Os Institutos Ayrton Senna e Alfa e Beto fazem um ótimo trabalho na alfabetiza­ção de crianças. Já o Instituto Unibanco atua na melhoria do ensino médio. O Movimento Todos pela Educação cumpre um papel importante na frente de mobilizaçã­o por mudanças na política educaciona­l. A Fundação Lemann faz um trabalho importantí­ssimo na formação de secretário­s de Educação dos Estados e municípios e na articulaçã­o com prefeitura­s e governos estaduais na implementa­ção da Base Nacional Curricular Comum – um instrument­o vital para melhorar a qualidade do ensino e certificar que o aluno está aprendendo o conteúdo básico no ano/série da sua idade.

Por fim, é impossível melhorar a educação se não investirmo­s na formação de professore­s. O Instituto Singularid­ades atua nessa área vital.

Portanto, se você quiser trabalhar para o seu País, escolha uma dessas trilhas. O Brasil lhe será grato, mas o maior agradecime­nto virá dos seus filhos e netos, a quem você vai deixará como legado um País melhor.

Mãos à obra!

O País nunca precisou tanto de pessoas sérias, competente­s, dispostas a arregaçar as mangas

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