Comprovada a eficácia da imunoterapia em diferentes tipos de câncer de pulmão
Descobertas ligadas aos medicamentos que aumentam em até quatro vezes o número de pacientes vivos em cinco anos levaram o prêmio Nobel de Medicina de 2018
No último Congresso Mundial de Câncer de Pulmão, que aconteceu no fim de setembro, no Canadá, foram apresentados os novos estudos publicados na revista científica
The New England Journal of Medicine, a mais renomada na área. Eles apontam a imunoterapia, medicamento que ativa o nosso próprio sistema de defesa para agir contra as células cancerígenas [veja mais no quadro abaixo]. No começo de outubro, descobertas ligadas ao combate do câncer com essa classe de medicamentos renderam ao americano James P. Allison e ao japonês Tasuku Honjo o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2018.
“Até então, o tratamento era destinado apenas a alguns tipos de câncer, como o de pulmão de células não pequenas e em estágios avançados da doença”, diz Fernando Santini, oncologista do Hospital Sírio-Libanês e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). “Agora, as pesquisas mostram que a imunoterapia também pode ser utilizada mais precocemente, depois da rádio e da quimioterapia.” Um outro estudo abordou os casos de subtipo de pequenas células e mostrou que, após um ano, o número de pacientes vivos subiu de 38,2% para 51,7% – o que representa um grande marco para uma doença altamente agressiva.
Resultados anteriores já sinalizavam um caminho otimista. No caso do câncer de pulmão de não pequenas células, o número de sobreviventes em 12 meses saltou de 49% para 69% quando a imunoterapia foi usada logo de cara associada à quimioterapia (em quatro anos, essa taxa vai de 5% para 48%, de acordo com o novo estudo). “Já se ela for escolhida como único tratamento, o índice de sobrevida mediana, quando o número de pacientes vivos que estão sendo acompanhados cai para a metade, passou de 8 para 30 meses”, diz Pedro de Marchi, oncologista clínico do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
Maior expectativa de vida, menos efeitos colaterais
O câncer de pulmão tem a maior mortalidade no mundo (que é a proporção entre pacientes totais e os que falecem). Só no Brasil, são mais de 26 mil óbitos por ano, segundo a última divulgação do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), de 2015. Além de aumentar a expectativa de vida, a imunoterapia tem efeitos colaterais mais controláveis em comparação com a quimioterapia. “Enquanto o tratamento tradicional provoca náusea, baixa dos glóbulos brancos [células de defesa] e queda de cabelo, esses novos medicamentos podem causar vermelhidão na pele, dores nas articulações e inflamação do intestino e do pulmão”, diz Milton Barros, oncologista do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo.
Uma pesquisa liderada por Fernando Santini, publicada recentemente na revista Cancer Immunology Research, mostrou que, mesmo nos casos em que há sintomas graves causados pela imunoterapia, talvez valha a pena lançar mão de corticoides e retomar o tratamento. “O estudo também apontou que os pacientes que já apresentam redução do tamanho do tumor não precisariam retomar a imunoterapia, já que o próprio organismo está combatendo as células cancerígenas”, diz o oncologista.
Detecção precoce
Também no congresso, foi apresentada uma pesquisa da University Medical Center Rotterdam, na Holanda, que acompanhou o impacto do rastreamento do tumor em população de risco (fumantes entre 50 e 75 anos). Com o uso de tomografia de baixa dose, foi possível reduzir até 61% das mortes em mulheres e 26% em homens. O exame, que está na cobertura dos planos de saúde, consegue detectar o câncer de pulmão em estágio inicial, quando pode ser retirado por meio de cirurgia. Cerca de 40% dos pacientes são diagnosticados em fases em que o tratamento ainda tem intenção curativa.