O Estado de S. Paulo

‘A polícia vai mirar na cabecinha e... fogo’

Governador eleito do Rio, Witzel defende execução de bandidos com fuzis e, antes de assumir, já fala em reeleição

- Roberta Pennafort / RIO

Eleito governador do Rio com discurso apoiado no combate à corrupção e ao tráfico de drogas, além da promessa de promover o desenvolvi­mento econômico, Wilson Witzel (PSC) reafirmou, em entrevista ao Estado, que policiais que matarem quem portar fuzis não devem ser responsabi­lizados “em hipótese alguma”.

Segundo ele, a autorizaçã­o para o “abate”, a ser oficializa­da, não aumentará a letalidade no Estado – hoje, são cerca de 500 registros por mês, ou 16 assassinat­os por dia. Para Witzel, a medida reduzirá o número “de bandidos de fuzil em circulação”.

“O correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e... fogo! Para não ter erro”, afirmou o governador eleito, que é ex-juiz federal, nascido em Jundiaí (SP), e novato na política.

Ele ainda chamou os antecessor­es no governo do Estado do Rio de “constelaçã­o de pilantras” e disse que vai pedir à futura gestão Jair Bolsonaro (PSL), um aliado, a permanênci­a das Forças Armadas de janeiro até outubro de 2019, dez meses além do prazo do decreto da intervençã­o federal na segurança. A seguir, os principais trechos da entrevista:

O sr. se apresenta como uma novidade. Já se sente político?

Eu estou governador durante quatro anos. Se o povo avaliar bem, a gente fica mais quatro. Acho a reeleição saudável. Não concordo com o presidente Bolsonaro nessa. Ele vai acabar ficando oito anos também.

Além da segurança, qual será seu principal foco?

O principal é gerar emprego, aumentar o PIB da agricultur­a, a educação, a saúde, diversific­ar o turismo.

Espera que o Rio seja privilegia­do na renegociaç­ão do Regime de Recuperaçã­o Fiscal?

O presidente tem de ouvir todos os governador­es e arrumar uma solução. É uma discussão que tem de ser travada. O presidente é “paulistoca” (paulista e carioca) e o governador também. Mas a preocupaçã­o dele é nacional. Quero tirar o Rio das páginas policiais para colocar nas páginas positivas. Hoje, o turismo no Rio está com cresciment­o negativo. O chinês olha para o Rio e pensa só em praia, mulher de bunda de fora.

Os servidores podem confiar que não terão mais salários atrasados?

Nosso problema não é de despesa, é de receita. Tudo o que o Estado tem de fazer é melhorar o desempenho de sua economia. Vem perdendo essa capacidade em razão de escândalos, por falta de interesse das empresas. O ICMS é alto, as isenções foram feitas de forma seletiva. Houve receio do empresaria­do. O (atual governador, Luiz Fernando) Pezão ficou marcado por causa dos governos anteriores. Perdeu credibilid­ade. Eu não tenho relação com eles. Isso já é uma sinalizaçã­o positiva para os investidor­es. Não sou ladrão, minha vida mostra. Os últimos governador­es, só Jesus na causa... Foi uma constelaçã­o de pilantras.

O senhor defende a excludente de ilicitude para policiais. Então no caso do policial que mata em serviço não deve haver mesmo qualquer responsabi­lização?

Se for um ato em confronto, em que o policial está acobertado por uma excludente de ilicitude, não é homicídio, é morte em combate. A excludente está no Código Penal desde 1940, Artigo 25. (Responsabi­lização) em hipótese alguma. É auto de resistênci­a e arquivo. O ato é lícito.

Não há consenso sobre a interpreta­ção de que basta o bandido estar de fuzil, sem mirar em alguém, para que se configure ato em legítima defesa.

Se estiver mirando em alguém, tem de receber tiro na cabeça na hora.

Se não há agressão, é legítima defesa sem dúvida?

Também tem de morrer. Está de fuzil? Tem de ser abatido.

Se o senhor dá essa autorizaçã­o expressa e o policial depois é processado, a responsabi­lida-

de não cai no seu colo?

Não vai cair no meu colo nada. Vai cair no colo do Estado. O Estado tem de entender que tipo de segurança pública quer.

Houve casos de pessoas que morreram porque estavam com uma furadeira ou um guarda-chuva. Os policiais se confundira­m. Atira primeiro e verifica depois?

Quem atirou é um incompeten­te, não devia ter atirado. Não estava preparado. Se fizer um curso de “sniper”, vai estar preparado para identifica­r quem está de guarda-chuva.

O senhor falou em colocar “snipers” em helicópter­os. Os moradores das favelas ficam em pânico nessas operações.

E os cinco bandidos de fuzil atirando para tudo quanto é lado não contam, não? A errada é a polícia?

Da polícia o cidadão espera a conduta correta; do bandido, não...

O correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e... fogo! Para não ter erro.

Essa diretriz não vai aumentar os índices de letalidade?

Vai reduzir os índices de bandido de fuzil em circulação.

Se matar bandido reduzisse a violência, o Rio seria um paraíso...

Então não está matando, não é? Está deixando de matar.

O senhor está dizendo que a polícia do Rio mata pouco? Só em agosto, foram 175 pessoas mortas por policiais

(um aumento de 150% na comparação com agosto de 2017).

Tem de resolver o problema, não está sendo resolvido.

A polícia do Rio é a que mais morre e a que mais mata do Brasil.

É que tem muito bandido na rua. Mas não é só um lado da moeda. Tem a questão do combate à lavagem, o trabalho para asfixiar quem está fornecendo fuzis. Não é só fazer guerra: tem de tirar o fuzil de circulação, evitar isso. Caso contrário, não adianta, é chover no molhado. É incompetên­cia de todos os lados.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Governo. Witzel chama antecessor­es no Estado do Rio de ‘constelaçã­o de pilantras’

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