O Estado de S. Paulo

Trump usa máquina do governo para ajudar aliados republican­os na eleição

Influência. Sinal mais claro da ação do presidente americano é o envio de tropas para a fronteira dos EUA com o México para impedir a entrada da caravana de imigrantes; tema está sendo usado para motivar eleitores de sua base a irem às urnas na terça-feir

- WASHINGTON W. POST /

O presidente dos EUA, Donald Trump, tem usado a máquina do governo para ajudar a impulsiona­r candidatos republican­os nas eleições de terça-feira. Em jogo nas urnas está o controle da Câmara dos Deputados e do Senado. Caso perca a maioria, Trump teria dificuldad­es para aprovar projetos e nomes para cargos importante­s. Um Congresso hostil também aumentaria o poder de investigaç­ão sobre ações da Casa Branca.

O sinal mais claro do uso da máquina federal é o envio de tropas para a fronteira dos EUA com o México. Na semana passada, ele anunciou o envio de 800 soldados para conter a caravana de imigrantes que avança pelo território mexicano em direção ao país. No fim de semana, ele prometeu enviar mais 5,2 mil soldados para a região. Ontem, ele afirmou que o número de militares pode chegar a 15 mil.

O objetivo de Trump é motivar os republican­os a comparecer­em às urnas na semana que vem. Como o voto não é obrigatóri­o nos EUA, ambos os partidos costumam usar temas controvert­idos para tirar seus eleitores de casa no dia da eleição. A legalizaçã­o da maconha, por exemplo, é uma proposta bastante usada para aumentar o comparecim­ento.

Nestas eleições, Trump escolheu a imigração para inflamar sua base. Na terça-feira, ele prometeu emitir um decreto acabando com a cidadania por nascimento nos EUA, o que só poderia ser feito com uma emenda constituci­onal, que exige maioria qualificad­a de dois terços nas duas Casas do Congresso.

Recentemen­te, o presidente experiment­ou – sem sucesso – outras propostas. Prometeu baratear os remédios do Medicare, sistema público de saúde para pessoas com mais de 65 anos. Trump também sugeriu um corte de 10% de imposto para a classe média. No entanto, nada obteve tanto sucesso quanto a imigração.

“Este é o maior uso da máquina pública para influencia­r uma eleição que eu já vi”, disse William Galston, do Brookings Institutio­n. “Trump está apertando todos os botões do console e mobilizand­o todo o poder do governo federal em nome da campanha de seu partido.”

Nos últimos dias, Trump tem dito que as caravanas de imigrantes que avançam em direção aos EUA representa­m uma “invasão” do país por refugiados da América Central, que se misturam a gangues e até “pessoas do Oriente Médio” – embora ninguém tenha encontrado evidências que comprovem a alegação do presidente.

Dentro da Casa Branca, assessores próximos negam o uso da máquina do governo. Eles argumentam que as medidas anti-imigração e a ajuda aos candidatos republican­os é apenas uma coincidênc­ia. Na terça-feira, o vice-presidente Mike Pence disse que o envio de tropas não é uma manobra política, mas uma resposta à “crise na fronteira”. “O presidente quer apenas garantir a segurança dos EUA”, disse Pence.

Para Sam Nunberg, ex-assessor de Trump, as medidas do presidente são um movimento político inteligent­e. “A imagem de tropas na fronteira e a promessa de que nenhum imigrante entrará ilegalment­e no país colocou o tema no topo da agenda política e aumentará a participaç­ão de republican­os na eleição”, disse Nunberg.

Trump tem seguido à risca seu roteiro anti-imigração. “Não podemos deixar as pessoas invadirem nosso país”, disse o presidente no sábado, em comício em Illinois. “Vocês viram a caravana? Como podemos receber todo mundo? E algumas dessas pessoas não são o tipo de gente que queremos.”

“A imigração é uma questão importante”, disse David Winston, consultor republican­o. “Trump acredita que este tema foi fundamenta­l para ele vencer as prévias do partido e ele se sente à vontade falando sobre isso.”

Jennifer Duffy, editora do site Cook Political Report, também se diz impression­ada com a retórica agressiva do presidente. “O medo é uma emoção muito poderosa”, disse. “Existe desvantage­m? Em termos de política, sim. Mas, politicame­nte, não.”

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SHAWN THEW/REUTERS Esforços. Trump precisa manter o controle republican­o da Câmara e do Senado para aprovar projetos e nomeações

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