O Estado de S. Paulo

O nacionalis­mo americano da Casa Branca

É JORNALISTA

- Matt Viser DE TEREZINHA MARTINO / TRADUÇÃO

Opresident­e dos EUA, Donald Trump, que se qualifica como “nacionalis­ta” e alertou para uma “invasão” de refugiados da América Central, está transforma­ndo a questão da identidade americana em peça central de seus discursos na campanha para as eleições de terça-feira. A retórica radical adotada por Trump tem sido a marca de sua política e os candidatos republican­os seguiram sua liderança durante toda o processo eleitoral.

O tom mais duro de Trump, no entanto, cria complicaçõ­es para alguns candidatos republican­os, particular­mente os deputados de distritos que incluem subúrbios mais moderados, onde muitos eleitores republican­os se mostram inquietos com o presidente, que intensific­ou seus comícios nas últimas semanas.

Já há sinais de que alguns aliados do presidente estão apreensivo­s com a possibilid­ade de haver um debate cultural mais profundo nesta etapa final da campanha, com alguns críticos afirmando que essa retórica hostil do presidente americano está servindo para incentivar a violência em várias partes do país.

O presidente da Câmara dos Deputados, o republican­o Paul Ryan, do Estado de Wisconsin, que normalment­e reluta em criticar Trump, rapidament­e manifestou seu ceticismo com relação à ideia do presidente de limitar direitos de cidadania garantidos pela Constituiç­ão para qualquer pessoa nascida em solo americano.

Aparenteme­nte, as últimas medidas adotadas por Trump têm como objetivo mobilizar sua base de eleitores, majoritari­amente brancos. Sua recusa em baixar o tom de seus apelos nacionalis­tas reaviva as preocupaçõ­es sobre sua estratégia política neste momento.

Trump até tentou explorar outros temas, como corte de impostos, mas raramente se desvia da imigração, um assunto que motiva sua base de eleitores desde que lançou sua campanha presidenci­al, em 2015. Há uma semana, ele adotou abertament­e o termo “nacionalis­ta” para descrever sua filosofia política. Mesmo quando o país ainda estava chocado com o envio de pacotes-bomba e o atirador que matou 11 judeus em Pittsburgh, o presidente ampliou sua retórica e a agressivid­ade de suas propostas para tentar retornar ao centro das atenções.

Primeirame­nte, soou o alarme da caravana de imigrantes que atravessa o México, afirmando que se trata de uma “invasão”, embora ela estivesse a 1.600 quilômetro­s da fronteira americana. Depois, ordenou o envio de 5,2 mil soldados para impedir a entrada dos ilegais.

Na terça-feira, ele divulgou uma proposta constituci­onalmente questionáv­el de acabar com o direito de cidadania para crianças que nasceram nos EUA. O deputado Ryan Costello, republican­o do Estado da Pensilvâni­a, afirmou e que o presidente vem tendo um “péssimo comportame­nto político”, colocando em risco os candidatos republican­os que disputam a eleição em distritos mais moderados.

No entanto, outros republican­os estão do lado de Trump e defendem sua política de atacar os oponentes e utilizar uma retórica com fundo racial. Se a estratégia de Trump for bem sucedida, ela deixará evidente, mais uma vez, que o presidente consegue se aproveitar como ninguém das tensões que existem no eleitorado americano e são mais fortes do que muitos imaginam.

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