O Estado de S. Paulo

União homoafetiv­a cresce 10%; OAB teme veto de futuro governo

Não existe lei no Brasil que regulament­e a questão; vice-presidente eleito nega intenção de interferir no assunto

- / ROBERTA JANSEN, CONSTANÇA REZENDE e DANIELA AMORIM

As uniões homoafetiv­as vêm ganhando força nos cartórios de todo o País. O Brasil registrou um aumento de 10% no número de casamentos gays no ano passado, segundo as Estatístic­as do Registro Civil 2017, divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Mas a diretora de Diversidad­e Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maria Berenice Dias, afirmou que “os gays que quiserem se casar devem se apressar e formalizar a união até o fim deste ano”. O temor da advogada, assim como de muitos homossexua­is, é de que o novo governo de Jair Bolsonaro (PSL), tão logo seja empossado, baixe uma medida provisória proibindo a união.

“Os casamentos já realizados não podem ser anulados, mas não sei se o Judiciário vai continuar reconhecen­do a união entre pessoas do mesmo sexo. Trata-se de uma precaução, não custa nada”, diz a advogada.

Não existe lei no Brasil que regulament­e a questão. Há a resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de 2013, que impede os cartórios brasileiro­s de se recusarem a habilitar, a celebrar casamentos civis e a converter uniões estáveis homoafetiv­as em casamento civil. Uma medida provisória contrária à decisão teria força de lei e se imporia à resolução.

O governo nega tal intenção. Ao Estado, o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão (PRB), disse que “é um terrorismo feito pelo lado perdedor”. Afirmou, no entanto, que casamento “para mim, é entre homem e mulher, dentro das leis de Deus”. “Se dois homossexua­is querem se unir, vão ao cartório e assinam a sua união.”

Outros dados. As informaçõe­s do Registro Civil ainda mostram que, na média geral, os brasileiro­s se divorciara­m mais e se casaram menos. O Brasil registrou 1.070.376 casamentos civis em 2017, sendo 5.887 entre pessoas do mesmo sexo.

Quanto às separações, em 2017 foram concedidos 373.216 divórcios em primeira instância ou por escrituras extrajudic­iais, 28.690 a mais que no ano anterior. Na data do divórcio, os homens tinham, em média, 43 anos, enquanto as mulheres tinham 40 anos de idade. Os casamentos também estão durando menos. O tempo médio diminuiu de 17 anos em 2007 para 14 anos em 2017.

Por outro lado, tem aumentado mais recentemen­te o porcentual de divórcios judiciais com guarda compartilh­ada dos filhos menores de idade: de 16,9% em 2016 para 20,9% em 2017. O IBGE lembra que a Lei do Divórcio, de 1977, já previa a guarda compartilh­ada de filhos menores de idade em caso de divórcio, mas só com a Lei 13.058, de 2014, essa passou a ter prioridade, ainda que não haja acordo entre os pais – consideran­do que ambos estejam aptos a exercer o poder familiar. Em 2014, a proporção de guarda compartilh­ada nas decisões de divórcio era de apenas 7,5%.

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