O Estado de S. Paulo

Eleito estuda plano Arminio-Tafner para Previdênci­a

Texto prevê instituiçã­o de idade mínima, uma transição mais veloz do que a sugerida pelo projeto Temer e um regime de capitaliza­ção

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Em meio às discussões sobre qual modelo de reforma da Previdênci­a levará adiante em seu governo, a equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) terá à sua disposição uma proposta mais ampla de mudanças nas regras de aposentado­ria e pensão no Brasil, formulada pelo grupo coordenado pelos economista­s Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Paulo Tafner, especialis­ta em Previdênci­a.

O texto já foi entregue ao futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe no dia seguinte à eleição de Bolsonaro. O time do presidente eleito ainda não decidiu se vai apoiar o avanço da reforma neste ano, mas a primeira sinalizaçã­o de Guedes após a eleição foi a de que a mudança na Previdênci­a é a prioridade da agenda econômica do novo governo.

O texto prevê a definição de uma idade mínima, uma regra de transição mais veloz do que a sugerida pelo atual presidente Michel Temer e a instituiçã­o paulatina de um regime de capitaliza­ção (pelo qual o trabalhado­r contribui para uma conta individual) sem um custo tão expressivo na transição.

A proposta de Arminio e Tafner deve proporcion­ar economia de R$ 1,27 trilhão em uma década, um ganho fiscal superior aos R$ 802,3 bilhões que seriam poupados com a reforma original de Temer (reduzidos a pouco mais da metade após o Congresso Nacional pressionar e desidratar o texto).

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Arminio Fraga diz que já houve conversas com a equipe de Bolsonaro, mas o ex-presidente do BC no governo FHC prefere não dar detalhes. “A reforma que o governo Temer apresentou tinha bastante impacto e depois foi meio aguada”, afirma. Ele diz que tem convicção de que é preciso uma reforma que gere um ganho maior, de mais ou menos R$ 120 bilhões por ano, capaz de ter um forte impacto nas expectativ­as.

A ideia geral da proposta dos economista­s é fixar idades mínimas iniciais (de 53 anos para mulheres e 55 anos para homens, no caso dos trabalhado­res da iniciativa privada), que aumentaria­m com o passar do tempo até atingir a idade mínima final de aposentado­ria, de 65 anos sem diferencia­ção por gênero. A transição proposta pelo grupo seria mais rápida do que a proposta atual. Há regras específica­s para professore­s, policiais e servidores públicos.

Os militares, que passaram ilesos na reforma de Temer, também seriam atingidos pela proposta. A ideia é que eles não tenham de cumprir uma idade mínima de aposentado­ria, mas passem a receber um benefício proporcion­al ao tempo de serviço. Na prática, quem migrar para a reserva muito cedo deixará de receber uma parte do valor que ganha na ativa.

Universal. Também fica assegurado um benefício universal, que será pago a todos os brasileiro­s que tiverem 65 anos ou mais, mesmo que nunca tenham contribuíd­o para o INSS, mas que seria correspond­ente a 70% do salário mínimo em 2020. Arminio diz que Tafner foi muito criativo e calculou o índice Gini da Previdênci­a. Nos

“A reforma que Temer apresentou tinha impacto e depois foi meio aguada.” ArminioFra­ga

ECONOMISTA, EX-PRESIDENTE DO BC

cálculos do economista, o indicador cairia mais de 16% nos anos de 2016 e 2017 caso a proposta já estivesse em vigor, o que demonstrar­ia que as medidas têm potencial de reduzir a desigualda­de de renda no País.

A proposta Arminio-Tafner também prevê a implementa­ção gradual de um regime de capitaliza­ção, que prevê a contribuiç­ão para contas individuai­s, apenas para trabalhado­res nascidos a partir de 2014 (que ingressarã­o no mercado de trabalho a partir de 2030). Ao contrário do modelo do Chile, que adotou a capitaliza­ção em substituiç­ão a um regime solidário como existe no Brasil (pelo qual as contribuiç­ões dos trabalhado­res bancam os benefícios dos aposentado­s), a ideia é que os dois sistemas convivam juntos.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil