BC mantém Selic em 6,5% pela 5ª vez seguida
Comunicado indica cenário mais favorável para reformas, em especial a da Previdência
Em sua primeira decisão após a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na corrida presidencial, os dirigentes do Banco Central mantiveram ontem a Selic (o juro básico da economia) em 6,50% ao ano. Foi a quinta manutenção consecutiva do juro nesse nível, que é o menor desde que a taxa foi criada, em 1996. Além disso, sem se referir especificamente ao resultado da eleição, o BC indicou que o risco de as reformas econômicas não continuarem pode ter diminuído no Brasil.
Embora a Selic esteja no patamar mais baixo da história, a taxa de juros real (descontada a inflação) do Brasil é a sexta maior do mundo. Ranking elaborado pela Infinity Asset Management e pelo site MoneYou indica que o juro real brasileiro está em 2,93% ao ano. Taxas reais mais elevadas somente são registradas na Argentina (18,90%), na Turquia (8,55%), no México (4,47%), na Indonésia (4,34%) e na Rússia (4,24%), considerando o conjunto das 40 economias mais relevantes do planeta
O anúncio de ontem era largamente aguardado pelos economistas do mercado financeiro. De um total de 61 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, todas esperavam pela manutenção da Selic em 6,50% ao ano na reunião desta semana. Os economistas ouvidos também aguardam pela manutenção da Selic em 6,50% no último encontro do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, marcado para os dias 11 e 12 de dezembro.
A decisão tomada pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, e pelos oito diretores da instituição teve como pano de fundo o atual período de transição do governo de Michel Temer para o governo Bolsonaro. Não há definição sobre a permanência nem de Ilan nem dos diretores nas atuais funções a partir de janeiro de 2019.
Cenário. O comunicado divulgado após a reunião, porém, trouxe pistas de que, passada a eleição, o BC pode estar enxergando um cenário mais favorável para as reformas econômicas – em especial, a da Previdência –, algo que é considerado fundamental para que a Selic permaneça em patamares mais baixos.
No texto, o BC cita três riscos para a inflação brasileira. De um lado, a ociosidade da economia, que pode provocar baixa de preços. De outro, a possibilidade de as reformas não caminharem e o cenário externo mais desfavorável aos países emergentes, o que pode impulsionar a inflação. O BC também passou a indicar que o exterior preocupa menos do que antes e que as reformas têm mais chances de caminhar no Congresso. Vale lembrar que o futuro ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, tem tratado a reforma da Previdência como prioridade.
O economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, vê no comunicado que o BC segue fiel às expectativas do mercado para a inflação. “Quem comanda o espetáculo são as expectativas do mercado, que estão condicionadas à política fiscal do novo governo. O BC está sendo técnico e acompanhando.”
“Para o Brasil continuar com juros baixos, será preciso implementar as reformas de maneira rápida”, afirmou o gestor Arnaldo Curvello, da Ativa Investimentos.