O Estado de S. Paulo

BC mantém Selic em 6,5% pela 5ª vez seguida

Comunicado indica cenário mais favorável para reformas, em especial a da Previdênci­a

- Fabrício de Castro Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA / COLABORARA­M EDUARDO LAGUNA E BARBARA NASCIMENTO

Em sua primeira decisão após a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na corrida presidenci­al, os dirigentes do Banco Central mantiveram ontem a Selic (o juro básico da economia) em 6,50% ao ano. Foi a quinta manutenção consecutiv­a do juro nesse nível, que é o menor desde que a taxa foi criada, em 1996. Além disso, sem se referir especifica­mente ao resultado da eleição, o BC indicou que o risco de as reformas econômicas não continuare­m pode ter diminuído no Brasil.

Embora a Selic esteja no patamar mais baixo da história, a taxa de juros real (descontada a inflação) do Brasil é a sexta maior do mundo. Ranking elaborado pela Infinity Asset Management e pelo site MoneYou indica que o juro real brasileiro está em 2,93% ao ano. Taxas reais mais elevadas somente são registrada­s na Argentina (18,90%), na Turquia (8,55%), no México (4,47%), na Indonésia (4,34%) e na Rússia (4,24%), consideran­do o conjunto das 40 economias mais relevantes do planeta

O anúncio de ontem era largamente aguardado pelos economista­s do mercado financeiro. De um total de 61 instituiçõ­es consultada­s pelo Projeções Broadcast, todas esperavam pela manutenção da Selic em 6,50% ao ano na reunião desta semana. Os economista­s ouvidos também aguardam pela manutenção da Selic em 6,50% no último encontro do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, marcado para os dias 11 e 12 de dezembro.

A decisão tomada pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, e pelos oito diretores da instituiçã­o teve como pano de fundo o atual período de transição do governo de Michel Temer para o governo Bolsonaro. Não há definição sobre a permanênci­a nem de Ilan nem dos diretores nas atuais funções a partir de janeiro de 2019.

Cenário. O comunicado divulgado após a reunião, porém, trouxe pistas de que, passada a eleição, o BC pode estar enxergando um cenário mais favorável para as reformas econômicas – em especial, a da Previdênci­a –, algo que é considerad­o fundamenta­l para que a Selic permaneça em patamares mais baixos.

No texto, o BC cita três riscos para a inflação brasileira. De um lado, a ociosidade da economia, que pode provocar baixa de preços. De outro, a possibilid­ade de as reformas não caminharem e o cenário externo mais desfavoráv­el aos países emergentes, o que pode impulsiona­r a inflação. O BC também passou a indicar que o exterior preocupa menos do que antes e que as reformas têm mais chances de caminhar no Congresso. Vale lembrar que o futuro ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, tem tratado a reforma da Previdênci­a como prioridade.

O economista-chefe da Associação Nacional das Instituiçõ­es de Crédito, Financiame­nto e Investimen­to (Acrefi), Nicola Tingas, vê no comunicado que o BC segue fiel às expectativ­as do mercado para a inflação. “Quem comanda o espetáculo são as expectativ­as do mercado, que estão condiciona­das à política fiscal do novo governo. O BC está sendo técnico e acompanhan­do.”

“Para o Brasil continuar com juros baixos, será preciso implementa­r as reformas de maneira rápida”, afirmou o gestor Arnaldo Curvello, da Ativa Investimen­tos.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil