O Estado de S. Paulo

Codesp troca comando após operação da PF

Cúpula da estatal responsáve­l por gerir o Porto de Santos foi presa ontem; polícia federal investiga pagamento a ex-bailarina de Latino

- Julia Affonso Fausto Macedo

A Polícia Federal prendeu ontem sete executivos da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), responsáve­l pela gestão do Porto de Santos, entre eles o diretorpre­sidente, o superinten­dente jurídico e o diretor de relações com o mercado. Depois das prisões, o conselho de administra­ção da estatal, ligada ao Ministério dos Transporte­s, decidiu substituir a cúpula do colegiado que administra o maior porto da América Latina. A Operação Tritão, deflagrada ontem, investiga fraudes em licitações que somaram R$ 37 milhões.

A PF prendeu José de Alex Botelho de Oliva, que ocupava o cargo de diretor-presidente da Codesp, Gabriel Nogueira Eufrásio (superinten­dente jurídico) e Cleveland Sampaio Lofrano (diretor de relações com o mercado). Outros quatro investigad­os foram presos por ordem do juiz Roberto Lemos dos Santos Filho, da 5.ª Vara Federal de Santos. O magistrado ordenou buscas em 21 endereços.

As suspeitas de irregulari­dades surgiram com um vídeo postado na internet em setembro de 2016, no qual Carlos Antonio de Souza, o Carlinhos, ex-assessor do presidente da Codesp confessava a prática de diversos delitos na empresa. O inquérito teve início em novembro de 2017.

Os autos apontam fraudes envolvendo agentes públicos ligados à estatal e empresário­s, nas áreas de tecnologia da informação, dragagem e consultori­a. Entre as irregulari­dades, estão contrataçõ­es direcionad­as, aquisições desnecessá­rias e ações adotadas para simular a realização de serviços.

Os investigad­os responderã­o pelos crimes de associação criminosa, fraude a licitações, peculato, corrupção ativa e passiva, com penas de 1 a 12 anos de prisão. O magistrado alertou para o risco de os alvos da Operação Tritão destruírem provas.

O juiz aponta que a investigaç­ão revela ‘casos intrincado­s’. “Tudo estando a revelar, ao menos em tese, que foram e/ou estão sendo perpetrado­s por pessoas possuidora­s de elevados poder político e/ou econômico.”

Os autos da operação também citam uma modelo e exdançarin­a

do cantor Latino. Em 2016, o diretor-presidente da Codesp nomeou sua assessora a ‘Latinete’ Daniele Elise Rodrigues, de 22 anos, que reside em Laguna (SC). Ela ficou no cargo apenas uma semana e recebeu R$ 154 mil. A PF suspeita que a dançarina tenha sido usada como ‘laranja’ para repasse de propinas a políticos. “Ao que parece, o descaso com a coisa pública chegou ao ponto de, inclusive, ocorrer contrataçã­o de modelo e dançarina residente em Santa Catarina para atuar como assessora da presidênci­a da Codesp”, apontou o magistrado.

Na época, por pressão dos sindicatos, que alegaram que a moça não tinha experiênci­a e exercia a função em Laguna, ela acabou destituída no cargo.

Em nota, o conselho da Codesp informou que “consciente de sua responsabi­lidade e comprometi­do com a governança” decidiu substituir o diretor-presidente e o diretor de relações com o mercado por Luiz Fernando Garcia e José Alfredo de Albuquerqu­e e Silva, respectiva­mente. O novo presidente do conselho, indicado pelo Ministério dos Transporte­s, será Ogarito Borgias Unhares.

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NEWTON MENEZES/FUTURA PRESS Prisão. Gabriel Nogueira Eufrásio, superinten­dente jurídico da Codesp, chega à sede da PF

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