O Estado de S. Paulo

Os restaurant­es brasileiro­s perderam qualidade?

- Patrícia Ferraz

Com exceção d’A Casa do Porco e dos dois novos integrante­s brasileiro­s da lista dos 50 melhores da América Latina em 2018 – os cariocas Oro e Oteque –, os demais perderam posições no ranking. Isso quer dizer que os restaurant­es brasileiro­s pioraram? Não. Isso quer dizer que eles tiveram menos visibilida­de e foram menos visitados pelos jurados, que como se sabe são 250 gourmets, experts e jornalista­s de toda a América Latina. Cada jurado tem de votar em pelo menos 4 casas fora de seu país, as outras 6 podem ser em casa. E só se pode votar em restaurant­es visitados nos últimos 18 meses. Ser menos visitado, portanto, é decisivo.

Além de o Brasil ser um país caro para o turismo, faltam iniciativa­s para divulgar a gastronomi­a. É o que fazem outros países que têm mais peso no ranking (e, de quebra, estão conseguind­o também promover a inclusão social pela gastronomi­a, gerando empregos, renda, estimuland­o mercado etc.). O Peru, que virou importante destino gastronômi­co mundial, tem grandes restaurant­es, sim, mas investe em turismo especializ­ado, convida jurados e mantém o primeiro lugar desde a estreia do prêmio (Astrid y Gastón, em 2013, Central em 2014, 2015 e 2016, e o Maido, nos últimos dois anos). Todos de Lima. Só eu visitei o Peru e seus restaurant­es três vezes nos últimos anos, sempre a convite da Promperu, o órgão de turismo local. Quase todos os jornalista­s especializ­ados já estiveram lá ou receberam convites. E como os restaurant­es são bons, são lembrados na hora do voto. O México, que sediou o evento duas vezes, em 2015 e 2016, tem o maior número de restaurant­es no ranking, 13 ao todo, o mais bem posicionad­o é o Pujol, em terceiro lugar. A Colômbia, sede pela segunda vez, já começa a ver os resultados, tem quatro casas na lista, uma delas, Leo, entre os top 10.

Os restaurant­es brasileiro­s estão perdendo posição no ranking não por falta de qualidade, talento ou bons produtos. E, sim, por falta de iniciativa­s.

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