China adverte Brasil a não seguir passos de Trump
Por meio do jornal estatal China Daily, o governo chinês fez um alerta a Jair Bolsonaro ao dizer que a economia brasileira sairá perdendo se o novo governo optar por seguir a linha de Donald Trump e romper acordos comerciais com Pequim. A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Para o governo chinês, as exportações brasileiras “não apenas ajudaram a alimentar o rápido crescimento da China como apoiaram o forte crescimento do Brasil”.
Comércio exterior. Posicionamento de Pequim sobre o presidente eleito brasileiro foi publicado no principal jornal estatal com versão em inglês; no editorial, os chineses dizem que não há razão para que ele copie as políticas comerciais de Donald Trump
A China fez um alerta ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, ao dizer que a economia brasileira vai sair perdendo se o novo governo optar por seguir a mesma linha do presidente americano, Donald Trump, e romper acordos com Pequim.
O recado foi dado por meio de um editorial publicado no jornal estatal com versão em inglês, o China Daily. A publicação é o principal canal de interlocução do governo chinês com o Ocidente. “Ainda que Bolsonaro tenha imitado o presidente dos EUA ao ser vocal e ultrajante para captar a imaginação dos eleitores, não existe razão para que ele copie as políticas de Trump”, diz o editorial.
Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil. Só no ano passado, o país asiático comprou US$ 47,4 bilhões em produtos brasileiros, principalmente soja, minério de ferro e petróleo.
Para o governo chinês, as exportações brasileiras “não apenas ajudaram a alimentar o rápido crescimento da China, como também apoiaram o forte crescimento do Brasil”. A avaliação, segundo o editorial, é de que as críticas do novo governo brasileiro “podem servir para algum objetivo político específico”. “Mas o custo econômico pode ser duro para o Brasil, que acaba de sair de sua pior recessão.”
Durante a campanha, Bolsonaro não escondeu sua admiração por Trump e o desejo de aproximação com os EUA, que travam uma guerra comercial com a China. Ao mesmo tempo, Bolsonaro fez críticas aos chineses e demonstrou desconforto com a relação comercial com o país asiático. “A China não está comprando do Brasil, ela está comprando o Brasil”, disse no mês passado.
Colaboradores do presidente eleito dizem, no entanto, que muitas das declarações feitas durante a campanha, e que provocaram ruído no campo internacional, não vão prevalecer quando ele assumir a Presidência. A decisão de mudar a Embaixada do Brasil em Israel, por exemplo, já foi revista, segundo assessores, porque Bolsonaro foi informado sobre os prejuízos que isso traria para as exportações de carne aos países muçulmanos.
Em fevereiro, Bolsonaro irritou Pequim ao visitar Taiwan, vista pela China como província rebelde que faz parte de seu território. Na ocasião, a embaixada chinesa enviou uma carta de protesto em que expressava sua “profunda preocupação e indignação” e alertava que a visita era uma “afronta à soberania e integridade territorial da China”. O texto dizia também que a visita “causa eventuais turbulências na Parceria Estratégica Global China-Brasil, na qual o intercâmbio partidário exerce um papel imprescindível”.
O ministro-conselheiro para temas políticos da Embaixada da China no Brasil, Qu Yuhui, atribuiu essas manifestações ao desconhecimento do presidente eleito sobre a profundidade da parceria estratégica existente entre Brasil e China. Após deixar claro o desagrado de seu país em relação a Taiwan, o diplomata afirmou que o governo chinês está disposto a dialogar com o novo governo brasileiro. Após a eleição, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lu Kang, fez declarações na mesma linha.
Segundo o editorial, empresários chineses operando no Brasil e autoridades em Pequim vão se fazer a pergunta: “Até que ponto o próximo líder da maior economia da América Latina vai afetar a relação BrasilChina?”.
Para o professor da Universidade Columbia Marcos Troyjo, um dos integrantes do núcleo comandado pelo futuro ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, o Brasil não deve escolher lado na guerra entre EUA e China. “A suposta guerra comercial é mais um movimento de acomodação do que algo que vá escalar outras áreas para além da economia”, disse.
Segundo ele, tendo como missão recuperar uma economia enfraquecida, Bolsonaro não poderá prescindir do comércio com a China, que é o principal cliente do Brasil, nem dos investimentos que eles têm a oferecer. Há, porém, incômodo entre os militares por causa da compra de terrsa por chineses.
“O custo econômico pode ser duro para a economia brasileira, que acaba de sair de sua pior recessão da história.” China Daily
EM EDITORIAL SOBRE BOLSONARO