O Estado de S. Paulo

Possível fusão de pastas divide o agronegóci­o

Após repercussã­o negativa, futuro ministro disse que Bolsonaro ‘não bateu o martelo’

- /MÁRCIA DE CHIARA, GUSTAVO PORTO, HERTON ESCOBAR

Produtores de soja aprovaram a fusão dos Ministério­s da Agricultur­a e do Meio Ambiente, proposta pela equipe de Jair Bolsonaro. Lideranças da agroindúst­ria criticaram a possibilid­ade. À noite, Onyx Lorenzoni disse que Bolsonaro “ainda não bateu o martelo”.

A fusão do Ministério da Agricultur­a com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), anunciada anteontem pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro, dividiu os representa­ntes do agronegóci­o. Enquanto sojicultor­es avaliam positivame­nte a fusão, lideranças da agroindúst­ria e também o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, criticaram a decisão.

Depois da repercussã­o negativa, o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, declarou, ontem à noite, que “o presidente ainda não bateu o martelo” sobre a fusão. Foi o próprio Lorenzoni que anunciou a união das pastas no dia anterior. “Ele está analisando mais de um desenho de organizaçã­o de ministério­s. O que tem é o conceito: de 29 pastas vai cair para 14, 15 ou 16”, disse.

Lideranças do agronegóci­o como a Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a, a Abiec, que reúne os exportador­es de carne, e a Abiove, que representa a indústria processado­ra de soja, não quiseram se manifestar sobre a integração das duas pastas. O presidente da Sociedade Rural Brasileira, Marcelo Vieira, disse, por meio de nota, “que é preciso mais detalhes de como será feita a fusão para avaliar as consequênc­ias para o agronegóci­o”.

Já Maggi, em viagem aos Emirados Árabes, lamentou a decisão que, segundo ele, trará prejuízos ao agronegóci­o, muito cobrado pelos países da Europa pela preservaçã­o ambiental.

“Vejo essa decisão com restrição, principalm­ente em relação ao comércio internacio­nal”, afirmou o diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegóci­o, Luiz Cornacchio­ni. Ele explicou que o MMA é um órgão regulador e o da Agricultur­a é regulado pelo Meio Ambiente. Com a fusão, ele teme que o Ministério da Agricultur­a se sobreponha ao MMA. O que estaria em risco, disse, são exportaçõe­s anuais de US$ 100 bilhões do agronegóci­o, que sustentam a balança comercial.

Já Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Aprosoja Brasil, que reúne os produtores, acredita que a fusão vai simplifica­r muitas coisas, como o excesso de burocracia que leva à “propinagem”. “As ONGs estão impregnada­s no Ministério do Meio Ambiente. Há ideologias de pessoas que acham que são protetoras do meio ambiente, mas quem protege o meio ambiente são os produtores.”

Entre as desvantage­ns da fusão, Felippe Serigati, pesquisado­r do Centro de Estudos do Agronegóci­o da FGV, apontou o fato de que muitos assuntos tratados pelo MMA são transversa­is ao agronegóci­o, mas o setor não tem experiênci­a para tratá-los. Maggi também faz essa ponderação e disse que o MMA cuida de questões que não são ligadas ao agronegóci­o, como energia, infraestru­tura, mineração e petróleo.

Meio ambiente. Para especialis­tas da área ambiental, a fusão é ruim para ambas as pastas, com risco de perdas irreparáve­is para a conservaçã­o e uso sustentáve­l do patrimônio natural do País. “É lamentável que isso esteja indo adiante”, disse a advogada Brenda Brito, pesquisado­ra associada ao Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. “O Brasil tem o maior patrimônio ambiental do planeta. Só isso já justifica a existência do MMA.”

“É uma ignorância completa. O Brasil tem muito a perder”, disse o pesquisado­r Britaldo Soares, da UFMG, que estuda o desmatamen­to do Cerrado e da Amazônia. Segundo ele, a sinalizaçã­o dada é que a proteção do meio ambiente não será prioridade.

“Vejo a decisão com restrição, principalm­ente em relação ao comércio internacio­nal” Luiz Cornacchio­ni

DIRETOR EXECUTIVO DA ABAG

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DIDA SAMPAIO/ ESTADAO-6/6/2018 Crítica. O ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, lamentou a decisão de fusão das pastas

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