Possível fusão de pastas divide o agronegócio
Após repercussão negativa, futuro ministro disse que Bolsonaro ‘não bateu o martelo’
Produtores de soja aprovaram a fusão dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, proposta pela equipe de Jair Bolsonaro. Lideranças da agroindústria criticaram a possibilidade. À noite, Onyx Lorenzoni disse que Bolsonaro “ainda não bateu o martelo”.
A fusão do Ministério da Agricultura com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), anunciada anteontem pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro, dividiu os representantes do agronegócio. Enquanto sojicultores avaliam positivamente a fusão, lideranças da agroindústria e também o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, criticaram a decisão.
Depois da repercussão negativa, o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, declarou, ontem à noite, que “o presidente ainda não bateu o martelo” sobre a fusão. Foi o próprio Lorenzoni que anunciou a união das pastas no dia anterior. “Ele está analisando mais de um desenho de organização de ministérios. O que tem é o conceito: de 29 pastas vai cair para 14, 15 ou 16”, disse.
Lideranças do agronegócio como a Confederação Nacional da Agricultura, a Abiec, que reúne os exportadores de carne, e a Abiove, que representa a indústria processadora de soja, não quiseram se manifestar sobre a integração das duas pastas. O presidente da Sociedade Rural Brasileira, Marcelo Vieira, disse, por meio de nota, “que é preciso mais detalhes de como será feita a fusão para avaliar as consequências para o agronegócio”.
Já Maggi, em viagem aos Emirados Árabes, lamentou a decisão que, segundo ele, trará prejuízos ao agronegócio, muito cobrado pelos países da Europa pela preservação ambiental.
“Vejo essa decisão com restrição, principalmente em relação ao comércio internacional”, afirmou o diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio, Luiz Cornacchioni. Ele explicou que o MMA é um órgão regulador e o da Agricultura é regulado pelo Meio Ambiente. Com a fusão, ele teme que o Ministério da Agricultura se sobreponha ao MMA. O que estaria em risco, disse, são exportações anuais de US$ 100 bilhões do agronegócio, que sustentam a balança comercial.
Já Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Aprosoja Brasil, que reúne os produtores, acredita que a fusão vai simplificar muitas coisas, como o excesso de burocracia que leva à “propinagem”. “As ONGs estão impregnadas no Ministério do Meio Ambiente. Há ideologias de pessoas que acham que são protetoras do meio ambiente, mas quem protege o meio ambiente são os produtores.”
Entre as desvantagens da fusão, Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV, apontou o fato de que muitos assuntos tratados pelo MMA são transversais ao agronegócio, mas o setor não tem experiência para tratá-los. Maggi também faz essa ponderação e disse que o MMA cuida de questões que não são ligadas ao agronegócio, como energia, infraestrutura, mineração e petróleo.
Meio ambiente. Para especialistas da área ambiental, a fusão é ruim para ambas as pastas, com risco de perdas irreparáveis para a conservação e uso sustentável do patrimônio natural do País. “É lamentável que isso esteja indo adiante”, disse a advogada Brenda Brito, pesquisadora associada ao Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. “O Brasil tem o maior patrimônio ambiental do planeta. Só isso já justifica a existência do MMA.”
“É uma ignorância completa. O Brasil tem muito a perder”, disse o pesquisador Britaldo Soares, da UFMG, que estuda o desmatamento do Cerrado e da Amazônia. Segundo ele, a sinalização dada é que a proteção do meio ambiente não será prioridade.
“Vejo a decisão com restrição, principalmente em relação ao comércio internacional” Luiz Cornacchioni
DIRETOR EXECUTIVO DA ABAG