O Estado de S. Paulo

Votação do projeto Escola sem Partido é adiada

Uma das bandeiras de campanha do presidente eleito entrou na pauta de votação de uma comissão especial da Câmara; oposição bloqueou

- Mariana Haubert Camila Turtelli / BRASÍLIA

Três dias após o segundo turno, aliados de Jair Bolsonaro (PSL) tentaram, de última hora, colocar em votação em comissão da Câmara o projeto de lei Escola sem Partido, uma das bandeiras de campanha do presidente eleito. A oposição, no entanto, conseguiu se articular para barrar a sessão, que foi adiada para a próxima semana.

A comissão analisaria o parecer do relator da proposta, o deputado Flavinho (PSC-SP). Pelo texto, cada sala de aula deverá ter um cartaz especifica­ndo seis deveres do professor, como “não cooptar os alunos para nenhuma corrente política, ideológica ou partidária”. O projeto também altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para que disciplina­s que tenham como parte de seu conteúdo questões de gênero ou que tratem sobre orientação sexual sejam proibidas nas escolas.

Contrária ao projeto, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) afirmou que o texto é inconstitu­cional. “Tem um único objetivo que é causar tensão na sociedade brasileira e jogar alunos e pais contra educadores. É uma mentira porque parte do pressupost­o de que os professore­s não são corretos e estão fazendo algo indevido em sala.”

A comissão que analisa a proposta, porém, não conseguiu número suficiente de parlamenta­res para iniciar os trabalhos ontem. Um dos motivos foi o fato de a oposição não registrar presença, o que postergou a abertura da reunião até o início da ordem do dia no Plenário. Regimental­mente, nenhuma comissão deliberati­va pode trabalhar nesse período. Por cerca de uma hora, o presidente do colegiado, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), esperou que o número mínimo de parlamenta­res fosse atingido. Um acordo com os deputados fracassou.

O agendament­o da reunião, na véspera, pegou de surpresa até parlamenta­res favoráveis ao projeto, que não tiveram tempo hábil para se articular. Ao anunciar o cancelamen­to da sessão, Rogério afirmou que o Parlamento precisa analisar a matéria porque o tema “foi discutido pela sociedade durante as eleições”. O bloqueio da análise foi considerad­o uma vitória pela oposição contra Bolsonaro.

Manifestaç­ão. Antes mesmo do horário marcado para a reunião, um grupo de cerca de 20 manifestan­tes contrários à proposta discutiu com três manifestan­tes favoráveis dentro da comissão. O grupo que rechaça a proposta entoou gritos de guerra e músicas por uma educação livre. Em resposta, uma mulher que defende o projeto disse que “O Mito (Bolsonaro) chegou e vai mudar essa bagunça”. Após o encerramen­to, os deputados Chico Alencar (PSOL-RJ) e Ivan Valente (PSOLSP) chegaram a discutir com manifestan­tes favoráveis ao projeto e com o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP).

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO Bate-boca. Um grupo de cerca de 20 manifestan­tes confrontou defensores da proposta, que especifica deveres do professor

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