O Estado de S. Paulo

Moro recebe ‘sinal verde’ e promete agenda anticrime

Bolsonaro diz que juiz terá liberdade na Justiça; combate à corrupção e ao crime organizado será prioridade

- / FAUSTO MACEDO, CONSTANÇA REZENDE, MARCIO DOLZAN e VINICIUS NEDER

Confirmado como ministro da Justiça do futuro governo de Jair Bolsonaro, o juiz federal Sérgio Moro afirmou que pretende implementa­r uma “forte agenda anticorrup­ção e anticrime”. Bolsonaro definiu Moro como “um soldado que está indo à guerra sem medo de morrer” e disse que o ministro terá “sinal verde” e “ampla liberdade” para exercer seu trabalho. Moro vai assumir uma pasta ampliada e com órgãos de combate à corrupção atualmente abrigados em outros ministério­s, como a Polícia Federal e parte do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf). Em nota oficial, Moro informou que vai se afastar imediatame­nte das ações da Operação Lava Jato na 13.ª Vara Federal, em Curitiba. Atualmente, o magistrado preside 25 processos vinculados à operação. Para

ingressar no governo, Moro terá de pedir exoneração do cargo de juiz, função que exerce há 22 anos. A condição de ministro da Justiça, no entanto, abre caminho para sua indicação a uma futura vaga no STF.

O juiz federal Sérgio Moro aceitou ontem o convite do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para ser ministro da Justiça do futuro governo. Moro vai assumir uma pasta ampliada e com órgãos de combate à corrupção que estão atualmente em outros ministério­s, como a Polícia Federal e parte do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf). O magistrado afirmou que pretende implementa­r “forte agenda anticorrup­ção e anticrime”. A decisão de Moro abre caminho para a indicação de seu nome para uma futura vaga no Supremo Tribunal Federal.

Bolsonaro disse que Moro terá “sinal verde” e “ampla liberdade” para exercer seu trabalho no Ministério da Justiça.

Em nota, Moro informou que vai se afastar de imediato das ações da Lava Jato na 13.ª Vara Federal em Curitiba, da qual é o titular. Atualmente, o magistrado preside 25 processos vinculados à operação. Para ingressar no governo, Moro terá de pedir exoneração do cargo de juiz, função que exerce há 22 anos.

“Ele falou o que gostaria de fazer lá dentro, (perguntou) se teria meios e liberdade para perseguir uma agenda para combate à corrupção e ao crime organizado, obviamente ao lado da Constituiç­ão e das leis. Conversamo­s e chegamos ao acordo em 100%, em tudo”, disse o presidente eleito, em entrevista após se reunir com o juiz em sua casa, no Rio. “Ele tem ampla liberdade para exercer o trabalho dele lá. Da minha parte, sempre fui favorável a isso. Dei o sinal verde.”

Moro e Bolsonaro conversara­m por cerca de uma hora e meia. Parte da conversa teve a participaç­ão do economista Paulo Guedes. O presidente eleito e o juiz ficaram a sós por aproximada­mente 40 minutos. Após a reunião, o magistrado chegou a deixar o carro onde estava para falar com a imprensa, mas, diante do tumulto no local, não fez nenhuma declaração.

O anúncio de Moro no governo Bolsonaro gerou imediata reação nos mundos jurídico e político. A repercussã­o incluiu elogios ao currículo do juiz federal e o temor de que a Lava Jato sofra redução de seu ritmo.

Ontem mesmo, advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – condenado por Moro e preso na Lava Jato – começaram a preparar habeas corpus a ser protocolad­o no Supremo com a alegação de que a ida de Moro para o ministério comprova a tese da defesa de que o juiz é parcial e tinha motivações políticas para condenar o ex-presidente (mais informaçõe­s na pág. A8).

No comunicado em que confirmou a decisão de ingressar no futuro governo –

Afastament­o.

antecipada pela coluna Direto da Fonte, de Sonia Racy –, o juiz federal disse que ela foi movida pela “perspectiv­a de implementa­r uma forte agenda anticorrup­ção e anticrime organizado, com respeito à Constituiç­ão, à lei e aos direitos”.

“Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocesso­s por um bem maior. A Operação Lava Jato seguirá em Curitiba com os valorosos juízes locais.

De todo modo, para evitar controvérs­ias desnecessá­rias, devo desde logo afastar-me de novas audiências”, afirmou.

Em um primeiro momento,

Barrados

Repórteres dos jornais

Folha de S.Paulo, Valor e O Globo foram barrados na entrevista coletiva. Questionad­o, Bolsonaro disse que não barrou ninguém. “Tenho consideraç­ão por vocês.” quem tomará decisões sobre os processos da operação na 13.ª Vara na capital paranaense será a juíza federal substituta Gabriela Hardt, que já atuou no caso todas as vezes em que Moro esteve ausente – em maio, ela mandou prender o ex-ministro José Dirceu. Gabriela ocupa o cargo desde 2014. No próximo dia 14, ela poderá conduzir o interrogat­ório de Lula na ação penal do sítio de Atibaia, na qual o petista é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro (mais informaçõe­s na pág. A8).

Moro conduziu a Operação Lava Jato desde quando foi deflagrada a sua fase ostensiva, em março de 2014, levando à condenação de políticos, empreiteir­os, doleiros e administra­dores da Petrobrás.

‘Escada’. Na avaliação de juristas e de um ex-presidente do Supremo ouvidos pelo Estado, o ingresso de Moro no Ministério da Justiça deve barrar eventuais resistênci­as ao nome do juiz e servir de “escada” para uma futura vaga na Corte.

Durante o mandato de Bolsonaro, serão abertas duas vagas no STF por aposentado­ria compulsóri­a: a do ministro decano, Celso de Mello, em novembro de 2020, e a de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021. Conforme este calendário, Moro poderia permanecer pelo menos por quase dois anos no Ministério da Justiça. Embora não haja impediment­o legal, não é usual um juiz de primeiro grau ser indicado para o Supremo.

Moro nasceu em 1.º de agosto de 1972 em Maringá (PR). Filho de professore­s, formou-se em Direito, em 1995, pela Universida­de Estadual de Maringá. O juiz é casado com a advogada Rosângela Wolff, com quem tem dois filhos.

Estado,

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Tumulto. Com Guedes (dir.), Moro tentou falar com a imprensa na porta da casa de Bolsonaro
 ?? WILTON JUNIOR / ESTADÃO ?? Encontro. Moro deixa a casa de Bolsonaro, no Rio, após se reunir com o presidente eleito
WILTON JUNIOR / ESTADÃO Encontro. Moro deixa a casa de Bolsonaro, no Rio, após se reunir com o presidente eleito

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