O Estado de S. Paulo

‘O PAULO GUEDES É MEU ÍDOLO’

Futuro ministro da Casa Civil minimiza rumores de divergênci­as com chefe da Economia do governo Bolsonaro; ‘na paz do Senhor’, afirma

- Vera Rosa / BRASÍLIA

Homem forte do governo Bolsonaro ao lado de Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) nega desentendi­mento com Guedes. “Está tudo na paz do Senhor”, disse a Vera Rosa. Apesar da agenda carregada como coordenado­r de transição, Onyx, de 64 anos, se exercita diariament­e: ele corre 5 km em 30 minutos.

Estou batendo escanteio e chegando na área para cabecear” ONYX LORENZONI

Com um fone no ouvido e um cronômetro na mão, o deputado Onyx Lorenzoni (DEMRS), futuro ministro da Casa Civil, saiu ontem às 7 horas em ponto de seu apartament­o funcional, em Brasília, e, como de hábito, correu cinco quilômetro­s em 30 minutos. A nomeação do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça ainda não havia sido anunciada oficialmen­te, mas ele já sabia de tudo.

A dois meses de assumir o gabinete no Palácio do Planalto, Onyx está prestes a dividir o posto de homem forte do governo de Jair Bolsonaro com Moro e com Paulo Guedes (Economia), que também serão superminis­tros. Ao que tudo indica, o gaúcho de 64 anos não teme a maldição da Casa Civil, que abateu vários ocupantes dessa cadeira em governos passados, nem a clássica desavença entre o chamado “capitão do time” e o comandante da Fazenda.

“Está tudo na paz do Senhor. Paulo Guedes é meu ídolo”, disse ele ao Estado, quando questionad­o sobre críticas do futuro ministro da Economia. Os rumores sobre divergênci­as na equipe do presidente eleito aumentaram quando Guedes afirmou, na terça-feira, que Onyx era “um político falando de economia”.

A “bronca” ocorreu depois que o deputado, coordenado­r da equipe de transição de Bolsonaro, fez comentário­s sobre política cambial e disse que o projeto de reforma da Previdênci­a do governo de Michel Temer não deveria ser aproveitad­o, como desejava Guedes, por ser um “remendo”.

“Isso tudo já passou”, desconvers­ou Onyx. “O momento é de poucas palavras.” Nos bastidores, porém, sua atuação tem sido intensa. Nas últimas 48 horas, por exemplo, ele se reuniu a portas fechadas com integrante­s das bancadas evangélica, ruralista e da segurança, ouviu reivindica­ções de empresário­s e fez várias ligações para Moro.

“Estou aqui matando no peito, batendo escanteio e chegando na área para cabecear”, afirmou ele, andando em ritmo acelerado do tapete azul ao verde, do Senado à Câmara. Na mão, o celular com o adesivo 17 – número de Bolsonaro na campanha – não parava de tocar um minuto. Quando atendia, recorria ao gauchês: “Fala, tchê!”

Médico veterinári­o por formação e reeleito para o quinto

mandato de deputado federal, Onyx já participou de 12 CPIs, entre as quais a dos Correios e a da Petrobrás. Dono de estilo polêmico, na linha “bateu, levou”, ele também coleciona desafetos no Congresso.

Chuveiro. Quando foi relator do projeto que tratava das dez medidas de combate à corrupção, em 2016, comprou briga com muitos colegas. Renan Calheiros (MDB-AL), à época presidente do Senado, disse que Onyx tinha um nome que parecia “de chuveiro”, em referência à marca Lorenzetti. No contra-ataque, o deputado chamou Renan de “bandido”.

Em conversas reservadas, críticos de Onyx argumentam que o parlamenta­r não cumpre acordos e “jogou para a plateia” com um relatório que vetava qualquer tipo de anistia ao caixa 2. Em maio do ano passado, seis meses depois de ter o seu parecer aprovado, no entanto, executivos da JBS o citaram em delação premiada.

Onyx admitiu ter recebido R$ 100 mil em caixa 2, para quitar despesas da campanha de 2014, e pediu desculpas aos eleitores do Rio Grande do Sul. “Vou, diante das autoridade­s, pagar pelo erro que cometi”, afirmou. Até agora, nenhum inquérito foi aberto pela Procurador­ia-Geral da República.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) lembra que, naquela ocasião, Onyx o procurou para explicar o caixa 2. “Ele me disse que entregou no Supremo Tribunal Federal a abertura de seu sigilo bancário, fiscal e telefônico. Foi até uma atitude de se elogiar”, afirmou.

Embora de esquerda, Alencar sempre teve bom relacionam­ento com o colega. “Se é possível essa classifica­ção, Onyx é da direita do DEM”, comparou. “Sempre foi muito isolado, antipetist­a radical e acho que tem arestas demais para ser articulado­r político. É muito briguento e falo como alguém que nunca se desentende­u com ele.”

O amigo e deputado Darcísio Perondi (MDB-RS), porém, ameniza esse temperamen­to explosivo. “Onyx é um cara que vai para a luta preparado. O que o deixa irritado é uma derrota do Inter”, brinca o conterrâne­o.

No braço direito, o futuro chefe da Casa Civil exibe uma tatuagem do Internacio­nal de Porto Alegre, seu time do coração, a bandeira do Rio Grande do Sul, além da passagem bíblica “... E a verdade vos libertará” (João 8:32). Vermelho, para ele, só mesmo o do colorado.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Ministro. Deputado Onyx Lorenzoni, futuro titular da Casa Civil, durante sua corrida matinal

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