O Estado de S. Paulo

Juristas veem possível dano à Lava Jato

Em meio a elogios ao currículo de Moro, existe o temor de que sua ida para o superminis­tério da Justiça esvazie os trabalhos da operação

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Juristas, especialis­tas em Direito e políticos comentaram a ida de Sérgio Moro para o superminis­tério da Justiça do futuro governo Bolsonaro, anunciada ontem. Entre elogios ao currículo e à competênci­a do juiz federal, há também o temor de que a Lava Jato seja esvaziada com o desligamen­to de Moro das investigaç­ões em Curitiba.

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse ao Broadcast Político que Jair Bolsonaro acertou na escolha. “Eu, no lugar dele, também tentaria compor uma grande equipe, inclusive com o juiz Sérgio Moro”, disse.

Para o ministro Luiz Fux, a escolha “foi a que a sociedade brasileira faria, se consultada” e que a ida de Moro para o “superminis­tério” foi “por genuína meritocrac­ia”.

Para um terceiro ministro do STF, que pediu para não ser identifica­do, a escolha de Moro foi uma “jogada de marketing” do governo Bolsonaro – com data de validade – e colocará o magistrado no centro do debate político, vulnerável a críticas sobre a sua futura gestão.

“Ele (Moro) agora vai virar vidraça. Vai precisar ter muita habilidade para sustentar isso (o ministério)”, disse um ex-integrante do Supremo, que também pediu para não se identifica­r. Para ele, a decisão enfraquece a Lava Jato “com certeza”. “Moro dominava aquilo, centraliza­va. Vai ser difícil alguém substituí-lo”, afirmou, sublinhand­o que o juiz federal “se ilude” ao achar que será o único candidato a uma vaga no STF em 2020, com a saída do ministro Celso de Mello.

O professor de Direito Público Carlos Ari Sundfeld, da Fundação Getúlio Vargas, acredita que o nome de Moro é uma aposta no simbolismo. “Ele esteve envolvido em processos importante­s anticorrup­ção, então, a aposta de Bolsonaro e do juiz é no simbolismo de ter uma figura como a de Moro no Poder Executivo”, analisa. “Um simbolismo contra o crime e a corrupção.”

Sundfeld aponta que a indicação, porém, pode acentuar o risco de que a atuação do Poder Judiciário no País seja questionad­a em função da ligação com um governo. A advogada constituci­onalista Vera Chemim também vê riscos à continuida­de da Lava Jato. “É preciso ver quem vai substituí-lo.”

O ministro da Segurança, Raul Jungmann, afirmou considerar “um ganho” ter Sérgio Moro no Executivo. “Acho que é alguém que tem toda a autoridade e legitimida­de”, disse. Ele contou que o futuro ministro deve ir a Brasília na próxima semana para e iniciar a transição.

Ao aceitar o convite, Moro afirmou que terá “forte agenda anticorrup­ção e anticrime”. “Quanto a uma cruzada contra a corrupção e o crime, só tenho a aplaudir. É tudo o que eu quero”, disse Jungmann.

Lava Jato. O coordenado­r da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador da República Deltan Dallagnol, comemorou a decisão do juiz. “Há muito tempo falo que, hoje, é mais importante para o País mudar o ambiente que favorece a corrupção do que futuros resultados da Lava Jato”, escreveu Dallagnol em uma rede social.

Responsáve­is pela Lava Jato no Rio e em Brasília, os juízes Marcelo Bretas e Vallisney de Souza Oliveira, respectiva­mente, também comemorara­m a decisão de Moro de integrar o novo governo.

Políticos. A confirmaçã­o do nome de Sérgio Moro também movimentou o mundo político. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu em suas redes sociais que o juiz é um “homem sério”, mas disse que preferia vê-lo no Supremo. “Fusões de ministério­s sim, com prudência. Já vimos fracassos colloridos. Torço pelo melhor, temo que não, sem negativism­os nem adesismos.”

O nome escolhido por Bolsonaro também rendeu críticas nas redes. A presidente cassada Dilma Rousseff (PT) afirmou que Moro condenou e determinou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “sem provas” e inviabiliz­ou a sua candidatur­a. “Agora, anuncia que largará a magistratu­ra para ser ministro do governo que viabilizou a eleição com suas decisões. O rei está nu.”

 ?? CARLOS MOURA/SCO/STF–24/10/2018 ?? Elogio. O ministro Luiz Fux, do STF, afirmou que decisão pelo nome de Moro foi ‘por genuína meritocrac­ia’
CARLOS MOURA/SCO/STF–24/10/2018 Elogio. O ministro Luiz Fux, do STF, afirmou que decisão pelo nome de Moro foi ‘por genuína meritocrac­ia’
 ?? ROGÉRIO MARQUES/FUTURA PRESS-13/7/2018 ?? Procurador. Deltan Dallagnol também comemorou anúncio
ROGÉRIO MARQUES/FUTURA PRESS-13/7/2018 Procurador. Deltan Dallagnol também comemorou anúncio

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