O Estado de S. Paulo

SOLUÇÃO PARA O RIO? QUEM SÃO OS SNIPERS

Atiradores de elite não têm nome, não devem ser vistos e quase sempre agem como sombras

- Roberto Godoy

Os novos personagen­s que o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), quer levar para as zonas conflitada­s da cidade e do Estado são figuras discretas. Atiradores de elite, os snipers, na denominaçã­o em inglês, não têm nome, não devem ser vistos e quase sempre agem como sombras, confundido­s com o cenário. Ainda assim são eficientes em seu trabalho: eliminar ameaças, matar pessoas. Podem atingir a cabeça de um homem a meio quilômetro de distância, de tal forma que o alvo caia imóvel.

Nesse caso, o objetivo é impedir a reação nervosa espontânea do dedo no gatilho de uma arma apontada para um refém ou da mão que segura o disparador de uma bomba, explica um especialis­ta do Centro de Instrução de Operações Especiais do Exército, em Niterói, onde são formados os caçadores, a tropa do tiro de precisão.

Homem calmo e de fala mansa, ele diz que não há a menor dificuldad­e em fazer o trabalho para o qual o a seleção é rigorosa e o treinament­o, severo. Marinha, Aeronáutic­a, PF e as polícias estaduais mantêm quadros próprios dedicados a esse tipo de ação letal. Pouco se sabe a respeito de sua folha de serviços.

Witzel quer formar times de atiradores para abater quem for visto portando fuzis em meio às favelas e às comunidade­s. Não é tão simples. Pela legislação, a posse do rifle não autoriza o disparo letal – embora exija prisão.

Criminalis­tas ouvidos pelo Estado acreditam que isso só seria possível em uma situação de exceção, como a declaração de estado de sítio ou de defesa, quando há a supressão dos direitos constituci­onais. Claro, em um confronto, vale o princípio da legítima defesa e da destruição da ameaça. Juiz federal, Witzel diz que se trata de uma questão de interpreta­ção da lei, que prefere “defender o policial (que atirar para matar) no tribunal do que ir ao funeral dele”.

Os snipers das Forças Armadas atuam em situações de conflagraç­ão, apoiando a segurança da tropa e de autoridade­s, obtendo informaçõe­s e neutraliza­ndo alvos selecionad­os. Os times policiais acrescenta­m “outro objeto” à lista, eventuais sequestrad­ores que mantenham reféns sob risco. O tiro é feito quase sempre em duplas: o atirador e o observador, que fornece as informaçõe­s de apoio.

Há padrões. O disparo deve ser feito na faixa de 300 metros para que a posição não seja detectada. A incidência de luz precisa ser considerad­a para evitar o reflexo na lente do sistema de mira. A dupla usa traje camuflado e às vezes uma cobertura para confundir o olheiro. As Forças empregam cinco diferentes tipos de fuzis, entre os quais os imensos Barrett M82A1 .50, americanos.

Exigências. Os militares e policiais candidatos à função são voluntário­s. Eles têm entre 25 e 35 anos. Precisam ter passado por outros níveis de qualificaç­ão nas forças de operações especiais. O condiciona­mento físico é exigente. Alimentaçã­o balanceada, peso ideal e pressão arterial normal são pré-requisitos.

No momento do disparo, só o dedo indicador deve se movimentar; a respiração precisa estar no ritmo do batimento cardíaco e o acionament­o do gatilho deve ser suave – tudo isso para evitar desvios de trajetória, explica o especialis­ta do Exército.

O abandono durante o ciclo de instrução é alto. Em um dos cursos de três semanas do Batalhão de Infantaria Especial da Aeronáutic­a, em 2005, foram formados 14 atiradores. Houve quatro desligamen­tos.

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EXÉRCITO BRASILEIRO Precisão. Alvos dos atiradores podem ser atingidos até a meio quilômetro de distância

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