O Estado de S. Paulo

Novos riscos

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Ficou dito nesta Coluna, na edição de domingo, 28, que, apesar da crise, do desequilíb­rio das contas públicas, do baixo cresciment­o e alto desemprego, nem tudo está desandando na economia. As contas externas estão robustas, a inflação mantém-se baixa e na meta, o setor financeiro está saudável e há duas áreas que podem puxar a retomada, o agronegóci­o e o petróleo. E isso pode ser um bom chão para um recomeço.

Agora é preciso ver quais os grandes riscos que, sob nova administra­ção, corre a economia do País.

O primeiro deles é a provável falta de traquejo do novo governo. O próprio presidente Bolsonaro não esconde que entende pouco de economia. Ainda que consiga montar uma equipe de notáveis, como já foi a indicação do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça, não dá para garantir que seu forte seja experiênci­a na administra­ção pública. Afora isso, o novo governo já começa com projeto de reestrutur­ação interna, que prevê a fusão ou a extinção de importante­s ministério­s. É uma reorganiza­ção que, por si só, exigirá grande dispêndio de energia.

A proposta é de tocar imediatame­nte projetos de reforma, em setores altamente complexos, como Previdênci­a Social, sistema tributário e um vigoroso processo de privatizaç­ão, iniciativa­s que demandarão escolhas estratégic­as e capacidade de coordenaçã­o política, o que ainda está para ser demonstrad­o.

O superminis­tro da Economia, que englobará três ministério­s (Fazenda, Planejamen­to e Indústria e Comércio), será o economista Paulo Guedes que ainda terá de mostrar qualidades. Ele se notabilizo­u por suas propostas liberais cultivadas na Universida­de de Chicago cujo maior guru histórico é o Prêmio Nobel (1976) Milton Friedman. E parece fortemente disposto a colocá-las em prática. O risco é o de que sua personalid­ade, tipo pavio curto, entre em choque com o gênio também explosivo do próprio presidente Bolsonaro e, assim, atrase o inevitável processo de ajuste.

No momento, o Congresso enfrenta pautas-bomba de impacto imediato sobre o futuro governo. Uma delas é a proposta de Emenda da Constituiç­ão que autoriza a abertura de uma linha de crédito de R$ 100 bilhões, supostamen­te destinada ao pagamento de precatório­s pelos Estados. Independen­temente disso, a situação da maioria deles é calamitosa. A maioria dos governador­es atrasou o pagamento dos fornecedor­es e não vem observando a lei que os obriga a não gastar mais de 60% da arrecadaçã­o com salários do funcionali­smo público.

O novo governo terá também de definir a nova política para o salário mínimo. A regra em vigor é a de que é corrigido pela inflação, acrescido do cresciment­o médio do PIB dos dois anos anteriores. É para manter esse critério, num cenário em que se pressupõe maior avanço do PIB? O tamanho do salário mínimo tem impacto imediato na despesa da Previdênci­a Social. E há a definição do subsídio de R$ 7 bilhões ao óleo diesel que vence no dia anterior ao da posse do novo presidente.

Tudo ficará facilitado se forem apresentad­as propostas consistent­es de reforma e se os investimen­tos forem imediatame­nte retomados. A rápida realização de leilões de áreas de petróleo e a agilização das concessões poderão ajudar na recuperaçã­o da confiança. Mas, outra vez, será preciso determinaç­ão e capacidade de condução, algo que ainda está para ser demonstrad­o.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Bolsonaro. Desafios de governo
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