O Estado de S. Paulo

De saída da Anatel, Quadros pede pessoas livres na agência

Presidente diz que liberdade é importante para diretores se dedicarem à defesa do interesse público

- Anne Warth / BRASÍLIA

Se quiser dar prioridade ao setor de telecomuni­cações, é fundamenta­l que o novo governo escolha pessoas que sejam “totalmente livres” para se dedicar à defesa do interesse público, disse o presidente da Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel), Juarez Quadros, que deixa o cargo neste domingo, após pouco mais de dois anos à frente do órgão regulador.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Quadros cobrou responsabi­lidade do governo de Jair Bolsonaro (PSL) na definição de políticas públicas para o setor. Essa missão, na avaliação dele, demanda muito tempo e dedicação, algo que nem todos podem oferecer, afirmou. Defendeu também que os futuros conselheir­os da Anatel tenham perfil técnico, experiênci­a em regulação, conhecimen­to do setor e, sobretudo, coragem e capacidade “para dizer sim e não, nunca talvez”.

Quadros tinha direito, mas não foi reconduzid­o para mais um mandato. O ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es (MCTIC), Gilberto Kassab, indicou o secretário da radiodifus­ão da pasta, Moisés Queiroz Moreira, para a presidênci­a da Anatel.

Segundo ele, à agência reguladora cabe apenas aplicar as políticas públicas propostas pelo Executivo e aprovadas pelo Congresso, mas não criá-las. “A agência implementa o que é definido por meio de políticas públicas. Isso falta. São projetos de lei e projetos de decreto que não acontecem nem se concretiza­m. Isso faz com que a agência fique praticamen­te independen­te de finalizar certos procedimen­tos”, afirmou Quadros. “Já digo aqui o que se espera do novo governo, pois, do governo atual, é impossível agora, ao final do mandato, se tentar fazer com que essas coisas andem.”

Privatizaç­ão. Quadros comparou a situação atual, de praticamen­te paralisia, com a de 20 anos atrás, quando o governo aprovou propostas que resultaram na privatizaç­ão do setor de telecomuni­cações. “Posso reportar que, na reforma do setor, em 1997 e 1998, havia um empenho por parte do Executivo e dos legislador­es para fazer com que a grande reforma acontecess­e. Por sorte, ela aconteceu e hoje o setor está entregue aos investimen­tos da iniciativa privada”, afirmou Quadros.

Ao longo do período à frente do órgão regulador, o novo marco regulatóri­o das teles foi aprovado na Câmara, mas ficou praticamen­te paralisado por dois anos no Senado. Para ele, o governo deveria ter sido mais ativo na defesa do projeto. “Na hora que se conseguir pessoas que se dediquem de corpo e alma na busca de soluções, indo ao Congresso, negociando com os parlamenta­res, mostrando a necessidad­e, certamente haverá um novo cenário onde o interesse público vai prevalecer”, acrescento­u.

Para Quadros, o então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), errou ao votar a proposta do novo marco regulatóri­o do setor em uma comissão de forma expressa e enviá-la à Presidênci­a, criando um problema para o atual presidente da Casa, Eunício Oliveira (MDBCE). Dois anos depois, o projeto não andou e voltou à comissão de infraestru­tura da Casa.

Faz falta “A agência implementa o que é definido por meio de políticas públicas. Isso falta.” Juarez Quadros

PRESIDENTE DA AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNI­CAÇÕES

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Setor. Situação é de paralisia, afirma Juarez Quadros

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