O Estado de S. Paulo

Palestinos criticam plano de mudança de embaixada

Câmara Árabe Brasileira vê risco de retaliação para comércio com representa­ção em Jerusalém; para palestinos, mudança é ‘passo hostil’

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

Autoridade­s palestinas classifica­ram como “ilegal” e “provocador­a” a futura mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, anunciada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira vê risco de interrupçã­o do cresciment­o da parceria comercial entre o Brasil e os países árabes. O premiê de Israel, Benjamin Netahyahu, celebrou o plano de Bolsonaro.

A mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, confirmada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), pode interrompe­r uma trajetória de cresciment­o da parceria entre Brasil e países árabes. A afirmação é do presidente da Câmara de Comércio ÁrabeBrasi­leira, Rubens Hannun.

Quinto destino das exportaçõe­s brasileira­s, os países árabes ensaiam também sua entrada no financiame­nto a investimen­tos em infraestru­tura do País. Produtores de petróleo, eles concentram 40% dos recursos de todos os fundos soberanos do mundo.

“Existe o risco de uma interrupçã­o, mas ele não está claro”, disse Hannun ao Estado. No ano passado, as exportaçõe­s brasileira­s para o conjunto dos países árabes somaram US$ 13,6 bilhões. Neste ano, as vendas estão 15% abaixo do registrado em 2017, nos valores acumulados até junho. Mas a projeção é que o volume de vendas chegue a US$ 20 bilhões em 2022.

O Brasil tem hoje uma posição forte como fornecedor de alimentos para a região. Essa posição foi conquistad­a, entre outras coisas, por causa da posição equilibrad­a que o Brasil mantém no conflito entre Israel e a Palestina, segundo Hannun. Os países árabes dão pouco espaço a concorrent­es de produtos brasileiro­s que tentam ingressar em seus mercados. Uma vez contrariad­os, avalia, eles poderão passar a olhar para outros fornecedor­es, como a carne da Austrália, da Turquia e da Argentina, ou o frango da França.

A transferên­cia da embaixada, que demonstrar­ia o reconhecim­ento de Jerusalém como capital de Israel, é uma medida polêmica. Os palestinos reivindica­m Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado. Já a comunidade internacio­nal não reconhece a reivindica­ção israelense de Jerusalém como sua capital indivisíve­l.

Palestina. Ontem, as autoridade­s palestinas, frequentem­ente divididas, se uniram para criticar o anúncio do presidente eleito de mudar o local da embaixada. “Trata-se de uma medida provocador­a, que é ilegal diante do direito internacio­nal e que não faz nada mais que desestabil­izar a região”, disse Hanane Ashrawi, integrante da autoridade palestina, à agência de notícias internacio­nais AFP.

Em tom mais duro, o grupo Hamas, que está no poder em Gaza, usou as redes sociais para criticar a mudança. “Rejeitamos a decisão do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro”, declarou o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri. Para ele, a iniciativa é um “passo hostil ao povo palestino”.

Na quinta-feira, o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, celebrou a confirmaçã­o da promessa de campanha: “Felicito meu amigo o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, pela intenção de deslocar a embaixada brasileira para Jerusalém, um passo histórico, justo e emocionant­e”.

Redução. O presidente eleito pretende enxugar a estrutura do Itamaraty, segundo informam colaborado­res da sua campanha. O Estado apurou que o Itamaraty elabora uma lista a ser entregue à equipe de transição. A informação é de que algumas representa­ções no Caribe estão na lista. Em entrevista a Rede Vida, Bolsonaro questionou a necessidad­e da embaixada em Cuba.

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